Na verdade, o Kremlin tem história quase milenar, e vem sendo construído por etapas e reconstruído em parte, desde 1156, quando Moscou ainda estava em seus primeiros anos e nesse local foi construída uma fortificação. Depois, tornou-se a moradia dos czares, e continua a ser a sede do governo russo, mas, durante a Guerra Fria, transmitia uma imagem impressionante de "fortaleza" soviética.
A Rede Dialética foi estudada no período de 1990 a 1992, pouco depois da queda do Muro de Berlin e do fim da URSS, quando se dizia que o comunismo tinha acabado e o capitalismo tinha saído vencedor. A doutrina neoliberal despontou fortemente, associada aos governos Reagan e Thatcher, os EUA assumiam a liderança isolada do mundo, como superpotência remanescente da Guerra Fria, e teve início, nesses mesmos anos, o projeto do mundo unilateral, com o ciclo das Guerras do Golfo Pérsico e o aumento das tensões com o mundo islâmico. Também começou a se dizer que a História tinha acabado, pois não haveria mais processos culturais, sistêmicos ou de regimes políticos e produtivos que não fossem exclusivamente o aprofundamento do regime capitalista.
Se examinarmos isso hoje, na distância de mais alguns poucos anos, na História, viva como sempre, será mais fácil perceber a argumentação de fundo ideológico, isto é, uma espécie de continuação da rivalidade capitalismo-socialismo, mesmo após o duro golpe do fim do “socialismo real”. Os próprios interlocutores dos grupos situados à frente do capitalismo cuidaram de manter viva a idéia dos projetos socialistas, ao tentarem forçar a avaliação de que o socialismo tinha acabado. Ninguém iria tentar combater um regime que não existe mais, é lógica das mais simples, então, se ainda combatem, é porque o “inimigo” está lá. E, logo depois, no cenário internacional, isto se confirmou, com a ascensão dos regimes trabalhistas no mundo todo, até chegar ao ponto atual, em que vários regimes, por assim dizer, híbridos, estão à frente de países importantes.
Aquela argumentação inicial foi, portanto, uma formulação adequada à implantação do neoliberalismo, uma mobilização político-ideológica, mais do que uma discussão técnica sobre o sistema produtivo e os regimes de produção. Faz-se uma diferença entre estes dois termos. O sistema é mais abrangente, como noção geral, enquanto o regime implica as questões doutrinárias, como se fosse ao mesmo tempo uma especialização e também uma redução do sistema produtivo. Mas poderia ser igualmente um desmembramento deste.
Na rede dialética, o que se verificou de modo sistemático é que não há, efetivamente, país algum, economia alguma, que não incorpore tanto valores, princípios, estruturas, regras, práticas e formas do “capitalismo”, quanto do “socialismo”, e também de outros regimes, como nas economias naturais indígenas, nas economias familiares de subsistência, em formas semi-anárquicas, ou hoje em dia, nas diversas atividades da economia informal. Em outras palavras, capitalismo e socialismo são na verdade tendências e fases do sistema produtivo. Não há como erradicá-los da produção. Eles existem juntos, mesmo que o regime preponderante seja o outro. Mais do que isso, são interdependentes e se reforçam um ao outro. Esta era, aliás, a chave da polarização EUA-URSS, quando a rivalidade favorecia o desenvolvimento maior nesses dois países. Isto deveria, da mesma forma, então, projetar o mundo islâmico como superpotência, mas o caso é que essas eram sociedades de estrutura quase tribal, já apropriadas pelos interesses do antigo império inglês, e também pela exploração do petróleo. Não têm a mesma orientação produtiva sustentada pelas disputas da Guerra Fria.
A rede dialética, ou dialética complexa, se sistematiza sobre a idéia de que as duas concepções centrais da dialética, o materialismo em Marx e Engels, e o idealismo em Hegel, também estão em confronto dialético. Não são excludentes, mas sim complementares. A idéia e o conceito, e a ação concreta, é que compõem a realidade objetiva, não podem ser dissociados. Hoje isto é sabido, pelo aprofundamento das noções da semiótica. São os signos que fazem essa interação entre o simbólico e o material. E foi um desmembramento da Lingüística que desenvolveu a noção semiótico-ideológica da mente humana, quer dizer, não se pode produzir significação sem produzir simultaneamente escalas de valores. Mas, se percorrermos todo o processo da rede dialética, chegaremos exatamente nessa questão da complexidade produtiva, em que valores opostos se combinam para sintetizar a realidade. Dando nomes às ocorrências centrais dessa rede, capitalismo e socialismo.
Dizer que o capitalismo não se tornou em parte “socialista”, e que o socialismo real não desmoronou por não ter se tornado suficientemente “capitalista” seria um erro lógico, portanto, um erro científico. Se dissermos que o capitalismo evoluiu e progrediu, enquanto o socialismo degradou e se arruinou, o que estamos dizendo, basicamente? Primeiro, que o socialismo real soviético não conseguiu incorporar estruturas suficientes do seu contrário (é o que a China fez). Segundo, que o capitalismo evoluiu sim, mas em que direção? Na direção de seu contrário, enquanto desenvolvia a si mesmo. Foi isso que permitiu novas sínteses.
As teorias de Karl Marx serão discutidas, mas sob o ponto de vista técnico, reservando para a crítica a parte doutrinária e política. Pode-se, no entanto, adiantar parte dessa análise. O capitalismo que Marx estudou foi o de formação de grandes metrópoles. Populações inteiras à míngua, crianças e velhos trabalhando sem piedade, 12 horas ou mais por dia, sem fins de semana, sem férias, sem assistência médica, sem contratos de trabalho, recebendo remuneração miserável, aglomerando-se em bairros que mais pareciam acampamentos, com altíssimos índices de mortalidade, problemas graves de saúde disseminados, sujeitos à poluição, à sujeira, um cenário que mais parecia o fim do mundo, talvez pior do que o ambiente das favelas atuais. O que se queria que Marx escrevesse? E o que se poderia esperar que apreciasse sobre o caráter do Capital? As críticas que ele fez, entretanto, foram tão contundentes, do ponto de vista estritamente técnico, que o próprio capitalismo absorveu os valores teóricos sistematizados pelos marxismo. Poucas forças se tornaram tão “marxistas”, sempre lembrando, do ponto de vista sistemático e técnico, quanto o próprio capitalismo. Marx foi um dos grandes teóricos do capitalismo, esta é a parte realmente científica. A questão doutrinária é um outro capítulo. Da mesma forma, o texto de Engels sobre a formação do homem pelo trabalho é extremamente precisa, e somente hoje, mais de cem anos após sua publicação, é possível fundamentar com teorias científicas tudo o que ele disse, com ligeiras correções e algum aprofundamento, que em nada desmerecem suas teses.
O capitalismo progride e se desenvolve tecendo relações cada vez mais solidárias com as forças do trabalho, ninguém poderia duvidar disso. Isto é na verdade ainda mais acentuado, pois o regime capitalista (o capital) aplicado ao sistema produtivo está se esforçando muito, nas últimas 2 ou 3 décadas, para renovar suas alianças com o trabalho (força produtiva). As profundas alterações que vêm ocorrendo nos contratos de trabalho, desde a época de Marx, tiveram profundo impacto de suas análises, em parte, e também se devem às disputas que se estabeleceram entre os regimes de produção. Mas o essencial é perceber que o sistema produtivo é mais amplo que os regimes de produção, e que dentro do sistema produtivo operam sistemas sempre híbridos, sempre integrados, combinando forças antagônicas, e mesmo regimes de produção tão díspares quanto o socialismo e o capitalismo. Isto em essência. Obviamente se deveria estender essa discussão para cada aspectos produtivo, como os regimes de propriedade, os papéis dos agentes produtivos, os modos de divisão do trabalho, de circulação das riquezas, etc. Concluindo, nem o capitalismo, nem o socialismo irão morrer, nunca, pois são faces da mesma moeda, e coexistem no mesmo sistema produtivo. O problema começa quando têm a pretensão de ser únicos e de reinar sozinhos. Aí começam as distorções.
Teoria Geral das Forças Produtivas 15