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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Cidades do Futuro 11 – Um futuro para São Paulo, primeira parte.

Vista parcial de São Paulo, por satélite, foto da NASA

Uma teoria urbana avançada jamais poderia ser iconoclasta, desmemoriada e atemporal. Desconhecer as instalações e sistemas presentes seria uma desqualificação técnica prévia, desabilitaria o referencial teórico proposto. Portanto, mesmo sustentando a necessidade dos novos planos urbanos se reerguerem do marco zero, por serem incompatíveis os projetos urbanos anteriores ao pós-industrialismo com novas cidades integralmente pós-industriais, isto não quer dizer que a Cidade de São Paulo – a maior metrópole brasileira - não poderia passar por um ambicioso projeto de reurbanização, como já foi dito, um processo gradativo, criterioso e meticuloso, que levaria várias décadas, talvez mais de um século. Mas apenas parte da cidade poderia ser preservada e integrada a um projeto urbano renovado e altamente sistêmico, o que significa continuar a ser sustentável e viável, além de manter sua enorme importância também nas próximas fases da economia globalizada.


Nem é preciso demorar muito para dizer que um projeto completo não cabe no blog. Mas algumas idéias sobre esse projeto, dentro da abordagem das Cidades do Futuro, poderiam ser esboçadas.


Alguns princípios dispostos nos capítulos anteriores seriam aplicados. Qualquer projeto tecnicamente correto para reurbanizar São Paulo segundo os padrões das culturas avançadas precisaria começar pelos sistemas hídricos. São Paulo começar a ser reconstruída, renasceria como cidade do futuro, a partir do momento que um novo sistema de águas artificiais, estabelecido em redes de alta complexidade, começassem a ser instalados, depois de repetidos e demorados experimentos nos simuladores digitais. Não se poderia falar em um único sistema de águas da cidade, mas em vários sistemas, ou em um sistema múltiplo, contendo várias redes total ou parcialmente independentes, por exemplo, águas sanitárias tratadas não se misturam com águas potáveis, mas águas potáveis podem ser misturadas com águas pluviais tratadas, e águas industriais tratadas podem ter estações de contato com águas usadas em redes agrícolas próximas, e assim por diante, formando um complicado sistema de captação, trocas, tratamento, recuperação e devolução à natureza. Sistemas anti-desperdício provavelmente incluiriam ligações diferenciadas já nas residências, e pré-estações de triagem espalhadas pela cidade. Os sistemas residenciais também precisariam ser bem mais aparelhados, capazes talvez de fazer pequenas operações hídricas. E as águas pluviais da cidade precisariam também contar com reservatórios próprios, para estudo das condições de aproveitamento, sem contaminação. Percebem a complexidade que apenas começou a ser delineada? Essas ilustrações preliminares podem ficar bem mais complexas. Se a gente observar bem o desperdício enorme e injustificável que se pratica hoje, em todos os pontos do ciclo de usos urbanos da água, boa parte dos problemas seria resolvida apenas por essa organização. E a tecnologia contribuiria bastante para que os custos não ficassem muito altos, e depois seriam barateados pela própria realimentação do sistema em uso.


Continuando a comentar apenas os aspectos hídricos da reurbanização paulistana, e seus contextos imediatos, o que ocorreria com as marginais do Tietê e do Pinheiros, e com a cidade ao redor de rios da área urbana, como o Tamanduateí? Obviamente, desapareceriam! Mas como? Sim, desapareceriam de onde estão agora, perto de cursos d’água naturais. As cidades atuais não são mais hidráulicas! Elas não são mais dependentes dessa relação umbilical com os sistemas naturais, a não ser de modo controlado e parcial. Esses modos de exploração da água natural nas cidades pós-industriais, aliás, acabariam rapidamente com a capacidade de abastecimento que o ciclo hidrológico naturalmente dá às regiões urbanas, pela captação criteriosa de um sistema hídrico artificial altamente desenvolvido. A preservação do ciclo hidrológico natural, entretanto, além de garantir o abastecimento de água abriria novas frentes culturais urbanas. Lembrem-se que estamos falando de prazos como 20, 50, 100, 200 anos.


As margens dos rios precisam ser preservadas em faixas mínimas de 150 a 300 metros de cada lado, isto precisaria ser calculado. Seria preciso estabelecer uma faixa mínima de continuidade da mata próxima às margens dos rios, totalmente preservada, um parque florestal a ser desfrutado de maneira adequada pela população. Vários complexos aquáticos, com piscinas, parques temáticos, clubes e esportes diversos, ou simples passeios, usando a água tratada dos rios já de início não poluídos. E muitas outras alternativas se abrem. Somente depois dessa faixa é que se abrem as vias públicas. Mas e aquele trânsito todo das marginais, para onde vai? Calma! Por enquanto fiquemos com essa idéia, de que os cursos d’água naturais passam a ser áreas de preservação e de esportes e turismo de impactos controlados. Onde estavam essas marginais congestionadas e o esgoto mal-cheiroso, passam a predominar áreas de parques, como se esses rios fossem as praias paulistanas, cheios de água e sistemas aquáticos límpidos, fazendo com que nessas áreas mesmo nasçam uma cidade totalmente renovada.


Mas isso não seria elucubração demais, puro delírio sem qualquer propósito? Não, de modo algum! Isto é puro pensamento sistemático, associado a medidas práticas possíveis e necessárias. Claro que os contextos prévios necessários para que tal trabalho adquira consistência e verossimilhança precisam ser dados, e o faremos. E são eles exatamente essas novas dinâmicas das cidades, já mencionadas, esse conjunto totalmente novo de relações urbanas, a “ressignificação cultural”, que trará naturalmente para o horizonte do possível cada uma dessas mudanças que estão sendo apontadas aqui. Aos poucos isto ficará mais claro. Quando os modos de acesso ao sistema produtivo se alterarem profundamente, quando os novos ambientes de trabalho começarem a predominar no país todo, as antigas pressões urbanas e metropolitanas sofrerão mudanças enormes, e com elas as formas de fixação residencial-comercial-industrial-rural e de circulação urbana. O que estamos fazendo nesta série de estudos é simplesmente analisar as formas e direções mais prováveis dessas mudanças, para logicamente colaborar com elas e facilitar o seu correto equacionamento. Essas mudanças provocadas pelo avanço cultural já começaram, elas já estão acontecendo.


Projeto Cidades do Futuro 11

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