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Citação de Bakhtin::

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segunda-feira, 3 de março de 2008

A Teoria Geral das Forças Produtivas 10 – A dinâmica social da subjetividade no século 21

Imagem ao vivo de Nova York, esquina da 46th. com a Broadway, poucos instantes antes desta postagem (a propósito, não é o Presidente Lula, apesar da semelhança extraordinária)


Os grupos humanos que se formam a partir de agora devem estabelecer escalas de valores (o arquétipo das culturas) diferenciadas das que foram produzidas até agora, e que percorreram o tal “movimento pendular” ou espiral da História. Como já foi tratado, a interdisciplinaridade e a sistematização da fala trouxeram como resultado uma habilidade de resgate histórico muito maior, de cronotopia (o “continuum” se desdobrando) ampla, colocando todo o tempo-espaço na balança do hoje.


Tão importante quanto a descoberta das forças inconscientes por Freud foi a “descoberta da consciência” por Bakhtin. Eram conhecidas as formas do consciente, mas não sua essência. O psiquismo humano tem como substância formadora o material semiótico (os processos de significação) e ideológico (as escalas de valores), e estes são ligados por redes de elos indissolúveis, como se fossem as faces de um mesmo prisma, desde que esse prisma seja “plasmado”, quer dizer, não cristalino. Sua forma é adaptável às situações como a água se ajusta a qualquer recipiente, multiplicando suas faces dentro de cada tema e situação. A expressão natural do material semiótico-ideológico é a palavra, e pressupõe esta a formação da linguagem, dos sistemas lingüísticos e o processo discursivo (o discurso). Inseparável da formação da consciência é a constituição do tecido social através da interação verbal dos sujeitos, e isto também foi proposto por Bakhtin: o diálogo ocorre entre sujeitos organizados em comunidade e mediados por um sistema lingüístico comum, e é nessa “situação enunciativa” que são tecidas as redes culturais e todos os níveis históricos. Tudo deve ser “ressignificado”, ou seja, na existência humana tudo deve ser “banhado em palavras” e deixa de existir por si só. Só é perceptível à consciência se apreciado pelas palavras, e estas são sempre parte integrante dos “grandes diálogos”, isto é, os ambientes discursivos sociais, a imanência dos diálogos da coletividade, de onde “brotam” as consciências individuais. Estas já nascem, desde a gestação, desde a relação dos pais, desde muito antes, no domínio social, na cultura organizada, nascem dentro do diálogo, das palavras, do discurso. Quer dizer que os pés, as mãos, os olhos de uma pessoa, ou qualquer outra parte de seu corpo, mesmo sendo um recém-nascido, um feto, já não são mais objetos “em si”, mas sim seres dialógicos, definidos, determinados, constituídos e apoiados em linguagens. Este é o mundo da consciência humana.


Essas dinâmicas “fundadoras” da sociedade estão se transformando bastante nesta época que vivemos. As ações tomadas dentro da sociedade pelos indivíduos, grupos e comunidades, pelas instituições sociais só adquirem sentido depois de estabelecidas essas referências de valores, que organizam os movimentos sociais, suas relações e processos. É a formação desse contexto básico que irá permitir o posicionamento dos sujeitos, dando sentido aos jogos sociais e direção a todas as atividades. A formação de grupos diversos, instáveis e voláteis, opacos em certos pontos, claros em outros, delimitados em alguns aspectos, indefinidos em outros, dá-se por costura de alianças entre esses indivíduos (lembrar sempre que na dialogia o “indivíduo” é sempre campo social, polarizado apenas em seu extremo, que é a identidade de cada pessoa, sua habilidade para escolher e decidir, quer dizer, o determinante, síntese ou resultante de sua própria consciência e individualidade, feitas de substância discursiva), pela “filiação” e “inscrição” em diversos caminhos e instâncias do que está “acontecendo”, tanto no discurso geral quanto nos diálogos “interiores” e no “microdiálogo”. O microdiálogo foi proposto por Bakhtin e é o nível quântico da linguagem, isto é, a mecânica semiótica e lingüística de cada palavra, como se cada uma delas fosse o centro de uma rede de diálogos (debates, confrontações), para estabelecer o valor e a significação de cada uma das palavras que usamos em nossas vidas. Para saber, por exemplo, qual a significação e o valor da palavra “capital”, ou “trabalho”, ou “informação”, ou “opinião”, seria preciso perceber as nuances de suas “reflexões” e “refrações”, principalmente esta ultima, que é o desvio semiótico-ideológico sofrido pela circulação de todo o discurso em sociedade. Em cada situação, em cada momento, dependendo dos pontos de vista variados de cada sujeito, sob uma série de perspectivas sendo construídas, essas palavras adquirem cores, tons, alcances e efeitos distintos e opostos. A “briga” já começa na própria palavra e no próprio sujeito.


No século 21, esses jogos da cultura irão dispor sujeitos diferentes, em novos sistemas de valores, em novas percepções e objetivos, quer dizer, a posição de cada sujeito será redefinida pelas novas referências culturais. As características individuais a serem prestigiadas serão outras, e isto irá refazer todo o mapeamento da divisão de trabalho na sociedade. As qualidades mais valorizadas, as prioridades, os desempenhos mais apreciados e conseqüentemente as resultantes do trabalho de cada um seguirão formas específicas que se desenvolverão nesta era pós-industrial. A organização das pessoas dentro dos grupos, e dos grupos em formação será reorientada de acordo com as profundas mudanças culturais das próximas décadas. Os reflexos disso no comportamento humano, acumulando impactos enormes de natureza técnica e social, ainda são incógnitas a serem encontradas e decifradas.


Teoria Geral das Forças Produtivas 10


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