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quinta-feira, 6 de março de 2008

A Teoria Geral das Forças Produtivas 12 – Os níveis crescentes de instrução do mercado

Uma dona de casa americana reclama em seu blog do estresse que é sair hoje para fazer compras, mesmo que seja em um shopping. Fala das vantagens de comprar pela Internet. Ao mesmo tempo, o gigantesco West Edmonton Mall, no Canadá, foi construído com um enorme parque de diversões e um imenso parque aquático cobertos, dentro do shopping (indoors). As demandas culturais no comércio estão evoluindo muito, e rapidamente.


A produção de riquezas ocorre naturalmente, se ninguém atrapalhar, este é o princípio universal da Economia, desde Riqueza das Nações, de Adam Smith. Esta é a idéia do mercado desde muito antes de haver Escócia ou Europa (a cultura, não o continente, óbvio). Seria mesmo absurdo que qualquer conjunto de normas tentasse controlar o universo das trocas humanas, e esta é mesmo uma das primeiras idéias de liberdade, se retornarmos ao início das culturas. Alguém controlando as trocas equivale a decidir por você, sua família, seus amigos, seus “clientes”, que palavras pode usar, que espaços pode ocupar, que pensamentos pode ter, que valores pode cultivar, que sonhos pode ter, que mercadorias pode produzir. São todas as liberdades, desde as individuais até as econômicas, as políticas, as econômicas, as de pensamento, frutos do mesmo ramo. Quando se tenta conter a produção, esta definha ou fica estagnada, e depois entra em colapso. A produção só pode ir adiante, e precisa avançar o tempo todo, sem parar. É uma das “grandes máquinas” do universo e ocorre também na natureza.


Então a intervenção no mercado é um ato arbitrário e excepcional, talvez necessário em momentos de grande crise ou de grande impacto, e não pode ser um hábito, muito menos uma lei. O Estado controlando o mercado seria um desastre completo, é apenas uma questão de mais ou menos tempo. Mas isso não quer dizer que o mercado não tenha as suas regras internas, as suas instruções, os seus códigos fundamentais.


Quando a companhia de luz vende energia a 110 ou 220 volts, isto faz parte de uma padronização necessária para essas relações de troca. Quando se estabelecem os códigos de consumidor, essas também são medidas necessárias para o funcionamento interno do mercado, não estão fora de seus mecanismos. São as condições de mercado. As taxas de câmbio regulam as dinâmicas internas de uma economia nacional em relação a outra, incorporando um grande conjunto de variáveis, e que torna possível o comércio exterior entre os países. As peças publicitárias precisam respeitar limiares argumentativos, negociais e éticos que podem promover ou danificar a imagem de uma mercadoria, mesmo que nenhum limite formal figure na legislação. As práticas abusivas geram conflitos internos de mercado que atrasam as relações comerciais entre todos os participantes dos ciclos produtivos, e este é um fato natural decorrente das trocas humanas, não há como inventar ou evitar isso. Se recuperarmos toda a história econômica das sociedades, cada um dos períodos produtivos traduzem determinadas formas de relação comercial, mas a liberdade de troca fica sempre intacta, este é um princípio universal.


Contudo, se é impróprio e impossível deter as forças naturais do mercado, não é incompatível com as trocas mercantis, e mesmo as culturais e do simbolismo humano, que elas sejam permeáveis às formas de sua cultura, de sua época, ao estágio produtivo dos vários agentes econômicos, à produção de toda espécie de riqueza humana. O mercado não está sozinho, mas inserido na fronteira das comunidades, das empresas, das instituições, de outros grupos e das relações individuais. Ele estabelece objetos, sujeitos, relações, associações, movimentos, produções, ciclos, transformações em uma rede produtiva geral de toda atividade social. Na verdade, o mercado também estrutura e constituí esse universo econômico, tanto quanto é produzido pela atividade econômica, quer dizer, o ato mercantil nunca é um monólogo, nunca é unilateral, a não ser em seus distúrbios ou desvios. A construção de sentidos e valores é muito semelhante à linguagem, pois as trocas comerciais são em essência uma forma de linguagem, em que objetos de troca determinados são negociados segundo a apreciação que se faz deles, através de um complexo sistema de preços. Os grupos humanos tiveram formas prévias de comércio, que foram as várias formas de troca simbólica e ritual, antes que se acumulassem os grandes excedentes de produção. Portanto, é natural que no ambiente produtivo as condições e linguagens de mercado sejam alteradas nas diversas épocas e fases econômicas, mesmo que os mecanismos de troca permaneçam livres.


É importante ter isso em mente, pois as direções da concentração de capital tendem a mudar nas próximas décadas e séculos. Por exemplo, já aproveitando a idéia de simulação do artigo anterior, a mesma corporação pode apresentar dois resultados hipotéticos: em um deles, tem um lucro operacional de US$ 1 bilhão; no outro, seu lucro cai para US$ 500 milhões. O mercado em termos atuais avaliaria uma enorme perda de 50% na operação desse grupo, um montante enorme de dinheiro, mas essa avaliação está prestes a mudar, desde que já tenham ocorrido as profundas mudanças em curso no sistema produtivo, explica-se: Os mesmos US$ 500 milhões podem significar mais riqueza, uma amplitude bem maior de trocas, que o dobro de seu valor no seu respectivo ambiente produtivo, desde que toda a economia tenha avançado. Seria a mesma coisa que se ter uma nota de US$ 100 ou uma de US$ 50, em lugares diferentes. Em determinado lugar, mesmo tendo acumulado um índice de US$ 100, não há em que usar, em que investir, o que consumir, portanto o valor acumulado não representa tanto quanto alguém ter US$ 50, mas ter acesso próximo a direto a uma infinidade de opções, do que pode fazer com esses recursos. Esta é a noção associada ao conceito de riqueza civilizatória. Não adianta ficar milionário sozinho e no vácuo, acumular capitais imensos em resultados operacionais, sem o devido processo de circulação de riquezas, sem que os “ciclos virtuosos” sejam acionados. As duas culturas geradas nessas hipóteses simuladas seriam diametralmente diferentes, e provavelmente a primeira delas, que otimizou apenas os índices de lucratividade, sem cuidar do ambiente produtivo, seria um resultado não sustentável e não efetivo, sem a pujança e o dinamismo da segunda (nos padrões vigentes a partir do século 21). Antes, quer dizer, durante séculos, esses processos de acumulação podiam ocorrer durante décadas, antes que diversos conflitos começassem a surgir na produção, mas, no futuro, esse problemas de equacionamento e de diretrizes, ou de concepção, serão rapidamente identificados, e os valores de todo o empreendimento serão depreciados, ou será uma produção isolada nos limites de uma cultura fechada, não de mercado aberto.


No futuro próximo, as trocas comerciais irão incorporar níveis sócio-culturais bem mais altos, e níveis de formalidade e de códigos bem maiores, sem que isso interfira na liberdade de iniciativa ou de troca. É o oposto, essas formas de instrução do mercado é que possibilitam as trocas. Assim foi com toda a padronização mercantil, desde o surgimento das moedas até os sistemas plug & play dos computadores pessoais. Além disso, o mercado será “interpelado” com freqüência, e as relações comerciais serão “interativas”, isto é, o poder atuante dos consumidores será bem maior, tanto na formulação dos cálculos de compra quanto na composição de seus impulsos de compra, estabelecendo uma via recíproca incomum à cultura de consumo aprimorada e estabelecida durante o século 20. Não quer dizer que as vendas serão mais difíceis, nem que elas cairão, mas que as relações comerciais terão culturas avançadas, elas serão mais instruídas.


Teoria Geral das Forças Produtivas 12



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