AS FORMAS, PRODUTOS DO E RELAÇÕES DE TRABALHO NA ECONOMIA GLOBALIZADA E DE ALTA TECNOLOGIA SÃO A BASE DE UM MUNDO COMPLETAMENTE NOVO
Quando se analisa a arquitetura atual das cidades o que se vê é a falta de um projeto urbano. Há na verdade um caos parcial, interrompido pela ordem das construções, mas não há um domínio completo do espaço, nem um sistema aplicado. O sistema urbano está muito pouco desenvolvido e há poucos estudiosos dedicados a estudá-lo em iniciativas multidisciplinares e interdisciplinares. Há fundamentalmente uma pólis, isto é, o espaço urbano como exercício do poder, e este se associa obviamente às formas de organização econômica, mas não há um trabalho específico adequado, voltado para a cidade. Esta é mais explorada que construída. O paradoxo disso é que uma cidade erguida, instalada e integrada com mais harmonia seria muito mais produtiva do que planos totalmente submetidos à visão rudimentar da pólis e da concentração de capitais, sem um sistema mais desenvolvido de circulação de riquezas, o que seria possível mesmo com toda a heterogeneidade da economia de mercado.
Nas cidades menores os conflitos urbanos potenciais são dispersos e pouco visíveis, a não ser talvez por uma falta de dinâmicas urbanas, mas em uma metrópole como São Paulo, talvez entre as 10 cidades mais poderosas e influentes do mundo, ou por aí, os conflitos já são sufocantes e qualquer recuperação parece impossível, como se fosse a capital paulista uma máquina incontrolável. Não é tanto assim, o que falta é o conhecimento sistêmico desenvolvido e aplicado, gerenciando todas as pressões urbanas. Mas o princípio em muitos casos continua o mesmo, em relação à construção de espaços futuros: tudo teria de ser reincorporado a um projeto totalmente novo, e muitas edificações e formas urbanas passariam a não ter mais viabilidade. No decorrer das décadas e séculos, a reconstrução de São Paulo exigiria o redesenho completo da cidade, a demolição de diversas áreas e a reconstrução praticamente total. Os planos urbanos, entretanto, estes teriam de recomeçar do zero.
Problemas básicos com a qualidade das moradias, as melhorias urbanas, a qualidade de instalação, as formas de ocupação dos terrenos, o sistema viário, as formas de transporte, todo esse quadro está atado a determinados valores urbanos que estão na verdade em crise permanente, e em desequilíbrio, produzindo inúmeras distorções e degradações em todos os campos. A isso se somas os projetos de captação, tratamento, uso e devolução da água ao meio ambiente, misturando cursos d’água naturais com os sistemas hídricos das cidades, transformando rios belíssimos em puro esgoto, poluindo e devastando sem qualquer reflexão, a não ser quando os níveis de agressão ambiental ficam insuportáveis e prejudicam o conforto e o bem-estar.
Tudo isso entretanto, diz respeito aos impactos e efeitos das projeções urbanas. Sustentamos que o cerne urbano, nesta era pós-industrial mais do que em outras, está nas formas de relação interpessoal objetivadas pelas necessidades de produção. A cidade hoje em dia é basicamente o gerenciamento das pessoas, pois a geografia do trabalho mudou radicalmente, e passaremos a viver num mundo tecnológico e globalizado, com coeficientes cada vez maiores de absorção do velho e reprodução do novo, quer dizer, o perfil de mudanças tende a se acelerar nas próximas décadas e talvez nos próximos 200 anos, considerando-se que esse estudo recuou 200 anos no tempo, ao plantar as cidades atuais como reflexo da atividade industrial-financeira. Nestes tempos de transição, e já se vêm os sintomas disso, não são apenas as estruturas concretas e o parque produtivo que passarão pela transformação total; os valores e formas das trocas financeiras também terão de se ajustar às culturas das novas cidades, e isto quer dizer, outra vez, que as relações de trabalho serão amplamente, profundamente e totalmente diversas das que se formaram desde a Revolução Industrial.
Projeto Cidades do Futuro 5
Nenhum comentário:
Postar um comentário