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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Cidades do Futuro 13 – A Política

QUADROS DE DAVID, A MORTE DE SÓCRATES , E DE RAFAEL, A ESCOLA DE ATENAS. CLIQUE NAS FIGURAS PARA VER AS IMAGENS AMPLIADAS





Atenas, em seu tempo, foi “a” cidade do futuro, em todos os aspectos menos dois: era escravocrata e politeísta. Há duas faces da mesma moeda, aqui. Para quem critica a ausência e a expansão de um “império grego”, devemos nos lembrar sempre de que Alexandre “O Grande” foi educado por Aristóteles, e não esquecer do “helenismo”, cultura sincrética que projetou o grande império romano na história. A complexidade do Direito e da Política em Roma devem-se em grande parte às experiências da pólis grega. Por isso Grécia e Roma são as faces da mesma Cultura Clássica.


A história política de Atenas não tem igual no processo civilizatório de outras culturas. Haveria uma exceção, talvez, a seu modo, na civilização cretense, em que a política se desenvolveu de modo especial e diferenciado de outras culturas, mas não como na pólis. O essencial é a questão da cidadania. Não era o rei que mandava, mas os conselhos de cidadãos, e governantes eleitos diretamente pelos cidadãos, isto no período da democracia. As conseqüências desse simples “detalhe” político repercutiram em toda a cultura grega, nos modos de pensamento, na fertilidade artística, no nascimento da Filosofia, no avanço do conhecimento, na experiência política. Fez com que Atenas ascendesse à liderança da Grécia. Mesmo não sendo imperialistas, os gregos provaram sua força em duras batalhas, e isto se deve em parte às articulações de que se tornaram capazes os atenienses. Uma base política possibilitava todo o esplendor do período clássico, até..., até a condenação de Sócrates. O julgamento de Sócrates marcou o rápido declínio de toda a Península, e isto não é coincidência, vemos isso em Atenas, novamente. O processo político estava degradado, senão pelas regras, pelos valores. Os cidadãos gregos se descuidaram dos princípios que os tinham levado ao apogeu, “esqueceram-se”, passaram a cuidar de interesses vis, de preocupações menores e imediatistas. As limitações daquelas formas culturais começaram a ficar mais nítidas, com o passar do tempo, e as resistências às mudanças criaram conflitos diversos, de uns contra os outros, enfraquecendo a Península e permitindo que os macedônios e os romanos conquistassem a civilização mais adiantada de sua era. E a grande civilização grega desapareceu para sempre. Tudo residia, o tempo todo, na qualidade da política que fizeram, enquanto a fizeram. Chegou o momento em que a Ágora caiu, primeiro, pela invasão dos valores espúrios dos próprios atenienses, antes de cair sob domínio estrangeiro e ser extinta, para ressurgir somente nas democracias representativas ocidentais.


Estão intimamente ligados o progresso técnico, o desenvolvimento comercial e as decisões políticas. Se há distúrbios no sistema político, a economia está automaticamente comprometida, pois o processo decisório, as prioridades, as políticas públicas, serão constantemente embargados ou alterados por pressões ilegítimas. Nos dias de hoje é comum ver circular pela imprensa afirmações diversas dizendo que seriam “normais” essas pressões e influências de outros campos da organização social sobre a política. Isto está errado! Elas não são “normais” de jeito nenhum, pois justamente “ferem as normas”. Seriam legítimas, se respeitassem as formas e jogos da política, se atuassem nos confrontos definidos pelo campo político. Mas inúmeras vezes procuram exatamente o oposto, têm como objetivo estratégico contornar e evitar os trâmites regulares da política. Foi isso o que se fez em Atenas. Esse foi o “julgamento de Sócrates”. Aparentemente todo o processo foi legal e legítimo, mas toda observação posterior desmascarou o abuso cometido pelas instâncias dirigentes da pólis. Essas interferências já eram reflexo de uma crise mais profunda das formas culturais, a bem dizer, a decadência dos valores e das práticas políticas. A vasta atuação dos sofistas (lógicas astutas e fundamentalmente incorretas, mas enganosas), a perda de visão das responsabilidades e dos efeitos das decisões políticas que passaram a ser constantes. Segundo a Ágora, Sócrates corrompia os jovens atenienses e a cultura de Atenas (a religião e os poetas), mas essa afirmação já era uma astúcia, para desviar o fato de que a corrupção sistêmica cometida pelos julgadores era muito mais grave. Sócrates se recusou a fugir, como poderia ter feito, amparado por seus amigos, mas decidiu "beber a cicuta”, não sem antes vaticinar seu ato, como sendo a decadência de Atenas, e não a dele.


Roma teve comportamento inverso. Foi muito sábia nas grandes crises internas, e sua dinâmica sempre preservou a cidade. Julio Cesar, Calígula e Nero estão entre os grandes exemplos de uma reação do sistema político contra os abusos e o personalismo exagerado de seus mandantes. Mas os avanços do Direito Romano, o modo como negociaram com a “plebe” em diversas ocasiões, denota uma grande visão cívica e de responsabilidade. Em outros episódios, foi dura e brutal, como na rebelião de Spartacus ou nos espetáculos do Coliseu. Contudo, Roma foi derrotada “de dentro para fora”. Foi a capital que derrotou o império. Mais uma vez, a decadência política exauriu a força de uma grande civilização - mesmo tendo tantos defeitos.

Política, caros cidadãs e cidadãos, Política! E esta é inseparável dos resultados centrais obtidos pela sociedade, no Direito, na Ciência, na Economia, na Religião e na Cultura. Tanto mais fortes quanto mais forte é a cidadania.


Projeto Cidades do Futuro 13

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