A Era Digital é o Futuro, cada vez mais presente
A realização do Campus Party no Brasil intensificou as evidências de que novas formas de produção e de trocas simbólicas deverão ocupar espaços cada vez maiores na cultura e no trabalho, portanto, têm grandes implicações políticas e comerciais. Entre as grandes trocas simbólicas que sustentam os nossos modos de vida estão a linguagem, o dinheiro, o prestígio, a informação e o conhecimento. São formas abundantes, valorizadas e codificadas, que permitem as trocas humanas constitutivas do tecido social. A lei seria mais um código essencial ao convívio humano, as escritas e as não escritas.
A multiplicação dos computadores, entretanto, deverá ressignificar (*) boa parte desses valores e atividades. A migração massiva da organização dos modos de vida para organismos telemáticos, e brevemente também cibernéticos, faz-se com grande rapidez histórica, esta que já tinha se acostumado aos grandes prazos, e agora “engasga” com tantas pequenas revoluções tecnológicas de grande impacto social, acontecendo diariamente. As ruas e a mídia deixarão de ter significado, se não forem certificadas pelo espaço digital. Isto já acontece em grau considerável. Recorre-se à Internet para confirmar os dados, mesmo que também se faça o oposto, ou seja, é preciso fazer uma confirmação “analógica” do material digital. Mas a rede mundial não pode mais ficar de fora, este é o dado novo.
Muito da vida cotidiana atual, de seus afazeres, e também boa parte das praças públicas e dos passeios privados, em lojas, bancos, shoppings, deverão migrar para um meio digital, que possa colocá-los em contato direto com o público dentro das casas, na linguagem da World Wide Web, e isto o mercado ainda não se acostumou a fazer, mas terá de fazer. A relação comercial de duas vias em todos os níveis é um elo comercial desconhecido e inesperado para as classes produtoras, mas é a linguagem do futuro. Isto quer dizer também que boa parte do trabalho poderá ser feito através de terminais digitais residenciais ou em trânsito pelo mundo, e isto irá realmente mudar tudo em nossos modos de viver, em poucos anos e em poucas décadas.
Houve uma reportagem de TV sobre o evento, entrevistando um menino, não muito diferente do que seria Bill Gates em seu tempo, e este adolescente estava mostrando uma série de inovações no relacionamento do usuário com a máquina, todas desenvolvidas por ele sem nunca ter frequentado uma única aula sobre essas matérias. Aprendeu tudo na Internet. Esta já é uma das conseqüências da era digital: a população terá um poder muito maior de construir as suas próprias alternativas, e de se preparar para desempenhar suas funções, dentro de suas opções de vida. Será impossível “segurar” a “mão-de-obra” em contingentes de reserva. Os empreendimentos precisarão propor laços de trabalho cada vez mais próximos da parceria. Essa imensa onda econômica digital é que torna inevitável os novos modos produtivos da economia globalizada. Já passamos o ponto de não-retorno. Nesta nova etapa, não serão mais as fases macroeconômicas que irão apresentar grandes transformações, em princípio, mas será principalmente a microeconomia a protagonista dessas novas grandes mudanças, e isto sem dúvida refletirá nas macroestruturas, no ambiente familiar, nas comunidades e no Estado. Isto é ir além das idéias que se teve até agora sobre a Economia solidária. Todos os campos econômicos serão profundamente ressignificados pela Economia digital.
É pensando nisso também que se procura retornar sistematicamente à discussão das atuais formas educativas brasileiras. A escola não pode mais, de jeito nenhum, ser como é hoje. E, se a Educação não estiver em ordem, pode esquecer o resto, que em pouco tempo irá se degradar, ou seja, não dá mais para ser sustentável apenas na superfície das culturas. É preciso renovar tudo. O que não estiver dentro desses novos padrões, já faz parte de um mundo que acabou.
(*) a ressignificação cultural foi explicada em artigo anterior deste Projeto.
Cidades do Futuro 16
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