BLOG DE CIDADANIA - comentários sobre os principais blogs nacionais, pequenas análises e crônicas: Ciência, Cultura, Sociedade, Política, Economia, Religião e História. Divulgação Científica.


Citação de Bakhtin::

A VIDA COMEÇA QUANDO UMA FALA ENCONTRA A OUTRA

 

BLOG 

O LINK DOS BLOGS E PAGINAS MAIS CITADAS ESTÃO NA COLUNA AO LADO

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A Declaração Universal dos Direitos Humanos



Este pequeno "blog de leitura" está fazendo 1 ano.
Para marcar a data, um dos tratados mais importantes
da civilização, desde que começou a história humana
neste planeta.

Uma homenagem à Familia e à Humanidade
FOTO DE MINHA FAMÍLIA

Artigo I.


Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Artigo II.

1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Artigo III.

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo IV.

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo V.

Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo VI.

Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.

Artigo VII.

Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo VIII.

Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo IX.

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo X.

Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo XI.

1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo XII.

Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, em seu lar ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo XIII.

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo XIV.

1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.

2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XV.

1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo XVI.

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.

2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.

Artigo XVII.

1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII.

Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em particular.

Artigo XIX.

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo XX.

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.

2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo XXI.

1. Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.

2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo XXII.

Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo XXIII.

1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.

3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses.

Artigo XXIV.

Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.

Artigo XXV.

1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.

Artigo XXVI.

1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo XXVII.

1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.

2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.

Artigo XXVIII.

Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

Artigo XXIX.

1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XXX.

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

sábado, 4 de outubro de 2008

Sobre as eleições de 2008 - "Brasil and EUA"

O resultado das eleições municipais brasileiras poderá surpreender, apesar do intenso acompanhamento sistemático que tem marcado a ação política do séc. 21 no Brasil. Mas não surpreende de modo geral, apenas em alguns aspectos apontando as novas tendências de nossa sociedade para as próximas décadas, e aqui se faz um pequeno esboço desse perfil da nova política brasileira.


Seria possível separar as eleições municipais brasileiras da crise americana, e do embate entre Obama e McCain? Obviamente que não, entretanto, não é fácil encontrar os vetores de influência das eleições do Norte nas do Sul.

Aliás, o contexto não é bem o ano eleitoral dos EUA, mas um evento muito maior. Este é de fato o "final dos tempos", o fim do mundo como o conhecemos na sociedade industrial, mas é muito provável que a vida na Terra não acabe no séc.21, embora vá se transformar completamente. Estamos no momento de dar um pequeno salto sobre o abismo que se forma entre o passado e o futuro, mas não se pode demorar muito, pois as placas continentais se afastam, em meio aos terremotos.

Todos os projetos políticos brasileiros levavam em conta a plataforma cultural e política dos EUA. Não foram poucos os avisos de que essa base afundava, e agora, subitamente, o Brasil se vê num tipo diferente de crise, a de ter contado com um contexto de solidez americana que não havia mais. E isto se aplica justamente sobre as principais forças políticas brasileiras, de lado a lado.

Os EUA já se encaminham para a "reumanização" pós-neocons, enquanto o Brasil se preparava ardentemente para o "tudo pelo sistema", nos novos tempos de potência emergente.

Os esquemas nas cidades já seguiam essa cartilha de "jogos hegemônicos", da "prioridade estratégica", das "ações justificáveis", em nome do poder, embora duvidosas e nada democráticas. Na verdade, o antigo modelo de "seguir de perto" o "grande irmão do Norte", arrastou o Brasil para a beira de um novo obscurantismo político, de compromissos reduzidos e esquivos com as bases de partidos e representantes, criando um enorme estranhamento e distanciamento entre a política, os governos e a população, no que diz respeito à participação política. O momento que se desenhava era o da "construção do hegemônico", e nisso a cidadania ficaria para trás, e aqueles cidadãos comuns com visão crítica e mais destacados no debate político das cidades, estados e país, passaram a ser muito mal vistos, quando não passaram a ser constantemente interpelados pelas ações de poder. Era o Brasil dando um primeiro passo inédito e fantástico, na direção da projeção mundial, mas ensaiando um segundo passo novamente equivocado e falseado, que o conduzia a algum tipo de desastre político-cultural-econômico, daqui a algum tempo. Ou seja, a dinâmica política brasileira mais uma vez não se realizava de modo efetivo, totalmente sustentável, mas começava a ficar outra vez no meio do caminho, nesse "segundo passo à frente".

Agora não, a crise americana precipitou tudo, mas, EIS A QUESTÃO: nas eleições brasileiras esses pontos mal atados JÁ SE COSTURAVAM. A linearidade das estratégias insuficientemente orientadas já tinha plantado problemas e limitações para esses esquemas. E de que modo isso pode ser perceptível? Também não sei exatamente, mas noto algo que pode ser uma pista. Há, em vários municípios do interior e nas capitais, a EMERGÊNCIA DE UMA TERCEIRA FORÇA, que se desprende e se afasta do que estava antes "combinado". E esta seria a nova "força viva" da política brasileira, a nova força de representação. Coloco nessa categoria dois candidatos em São Paulo e em São Carlos, pleitos que acompanho mais atentamente. Apesar de serem "conservadores" e de "direita", de estarem inicialmente ligados a grandes forças e projetos políticos ou econômicos. Mas há algo inegavelmente novo na presença deles com grande força, não sei se vitoriosa. Quer dizer, o fato de ser de direita ou de esquerda já não importa muito, e ESTE É O OUTRO DADO NOVO E IMPORTANTE. Nem o de ter um rótulo de "conservador" ou "progressiSta". O que vale, cada vez mais, é o jogo, o campo, o que o ator político faz de fato em suas ações. E leva a melhor quem jogar melhor, tudo muito simples no fim das complicadas contas. ESTA PARECE SER A NOVA TENDÊNCIA. Em vez da "realpolitik", a efetiva disputa política, para saber quem consegue desenvolver mais e melhor as habilidades e talentos da sociedade e seus indivíduos. Há uma brisa renovadora no ar, ufa!

Vejamos que força teriam essas novas tendências, confrontando os projetos já estabelecidos e desenvolvidos, no próximo domingo.



Política Brasileira 5

domingo, 3 de agosto de 2008

A Guerra


Um apelo à Paz no Brasil e no mundo.



Será que essas pessoas sabem exatamente o que é a guerra? Será que já viram uma? Pensam, talvez, que se trata de um desastre, de um tiroteio, de um massacre, ou talvez de uma chacina. Que é uma luta dessas que se vê na cidade, uma batalha campal entre forças urbanas, polícia e estudantes, uma facção e outra, torcedores de um time ou de outro. Que se trata de um incêndio, de um trem desgovernado, da queda de um avião.

Essas pessoas nada sabem sobre a guerra.

Não sabem o que pode causar, o que pode fazer com a vida delas, das pessoas que conhecem, com sua cidade, sua região, seu país, com tudo o que compreendem do mundo, com tudo o que acham que é vida.

A guerra é muito mais.

Como alguém pode conceber a guerra? Seja em uma terra distante, seja em seu próprio país. Se imaginassem toda a violência do mundo, todo o ódio, toda a brutalidade, a guerra ainda seria muito pior. Se pensassem em todo o desprezo, em toda perda, em toda indigência, em todo ferimento, isto daria ainda uma idéia muito distante do caos, da fragilidade, da vitimização generalizada. Se todos os demônios da terra emergissem do inferno, de todos os infernos, de todos os tempos, e se todas as fogueiras queimassem sobre a terra, e os gritos se espalhassem pelo mundo, isto ainda diria muito pouco sobre ela. Seria apenas a ponta da escuridão, do sofrimento, do inacreditável abismo em que todos podem ser jogados, como se nunca tivessem existido, como se nunca tivessem valido nada, e como se nada tivesse tido um dia qualquer valor. Como se nada valesse a pena. Como se não tivesse nenhum significado.

Mas isso não é tudo, é apenas o começo.

Aqueles que mergulham na guerra são tomados por ela e passam a amá-la. A matança, a indiferença, a desgraça, a podridão do mundo de vísceras abertas, o mal-cheiro, a morte, os corpos despedaçados, o sangue e a destruição, vão amortecendo os mais bravos guerreiros, diluindo seus olhos, vitrificando-os, devorando toda a sua luz, sua alegria, sua compreensão. Os tiros, os gritos dos amigos e dos inimigos, dos velhos e das crianças, da gente comum, indefesa, e as explosões, as tocaias, as emboscadas, a nuvem de poeira e fumaça, o silêncio que se faz depois, toda demolição, passam a ser o alimento do ser.

Não é mais o tempo do existir, dos amigos, das famílias, do trabalho e dos dias que se vem e se vão. Não é mais o tempo dos humanos, das pessoas, nem dos animais. É o tempo da guerra, então não é mais o tempo de nada. E como não há mais nada, nem a ganhar nem a perder, os bravos guerreiros querem apenas que ela não acabe nunca mais. Os guerreiros, as vítimas, os refugiados, passam a temer o dia em que teriam de voltar para casa. A guerra agora é a única coisa que eles têm, e todos são apenas combustível para as batalhas. Por ser insuportável além de qualquer compreensão, a guerra passa a ser venerada e idolatrada, e todos se tornam seus servos.

O que pensar das pessoas que desejam a guerra? O que pensar daqueles que não hesitariam em transformar sua terra, sua gente, em pedaços de carnificina? Que não se deteriam diante da possibilidade de ver sua cultura ser estraçalhada sem piedade, toda sua sociedade tornar-se alvo para ser cruelmente executada, sem perdão? Que entregariam todo seu mundo, toda a vida que conhecem e que os criaram e cuidaram deles, à mais sórdida destruição?

O que pensar de pessoas que seriam capazes de destruir tudo, simplesmente tudo, em nome de algum privilégio, vantagem ou frivolidade? Para pensar que são melhores que os outros? Que têm mais direitos que os outros? Por se sentirem de alguma forma favorecidos? O que se passa na alma dessas pessoas? Em seu coração? Que tipos de pensamento estão se formando nas mentes dessas pessoas? O que os tornou assim? Que força terrível teria se apoderado delas? Como admitir tamanho horror? Como ser tão insensível? Que trauma intolerável teria cegado toda sua compaixão?

O Brasil já foi palco de muitas guerras, sem que tenha sido contudo tomado pela guerra, isso não, mas já tomou parte em guerras que se tornaram totais e rasgaram todos os tratados humanos. Essa guerra, essa guerra total, que destrói o país e tudo que há nele, que persegue as lembranças e os sonhos e corrói passado e futuro, essa guerra se trava dentro e fora de nós. É a guerra contra os outros somada à guerra contra o inimigo interior. Quando não se acredita em mais nada, nem se quer ver qualquer raio de luz, nem ver qualquer esperança brotar.

Esta é a guerra que nos assombra e nos espreita, na transição dos tempos, nas dobras da história, nos desvios do ser. O homem enlouquecido é aquele que se volta contra si mesmo e que não suporta mais qualquer construção. Para ele, todo alvorecer é uma doença, todo amor é um mal, e este como um fluido sinistro se espalha sorrateiramente, até que seja tarde demais. Se desejam a guerra, eles não sabem realmente o que é a guerra. Quanto mais a humanidade avança, maior o risco que corre, maior o poder, mais tensos ficam os jogos, mais virtuosa deve ser a cultura, para que possa sempre reencontrar e manter a paz, pois a guerra, a guerra começa do nada, costura inocentemente toda a insensatez, e depois se torna um turbilhão, que não se pode mais controlar. E depois de deflagrada, de libertados todos os demônios, os efeitos dessa guerra se farão sentir para sempre, e serão os espinhos das lembranças de toda a humanidade.


Pequenas Crônicas

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A renovação política do século 21: a representatividade

POPULAÇÃO EM FRENTE AO CONGRESSO NACIONAL, NA CAMPANHA DIRETAS-JÁ

Os institutos de pesquisa alcançaram um altíssimo grau de respeitabilidade e confiabilidade, nos últimos dez anos. Aperfeiçoaram seus métodos, e isto se associou a formas culturais mais bem integradas, sob os sistemas globalizados e eletrônicos. Da mesma forma, o conhecimento se dissemina na sociedade, e com isso os comportamentos tendem a ser mais sensíveis, diante de padrões oferecidos. Todos que gravitam nas “faixas de ajuste” do sistema produtivo atual, queiram ou não, tornam-se mais previsíveis e, portanto, mais susceptíveis a diversos estímulos, sugestões e influências. Esse grau mais adiantado de organização social reflete-se também na política, e com isso os jogos políticos passaram a ter margens mais estreitas, variações menores, opções que, se não são mais limitadas, tendem a ser mais bem delimitadas. O espaço para as surpresas diminui muito, a ponto de serem quase impossíveis.


No primeiro momento isto poderia parecer negativo para o equilíbrio social. Favoreceria de maneira indevida os grupos políticos mais próximos dos postos estratégicos da sociedade, criando uma onda conservadora vitoriosa no mundo, associada geralmente às doutrinas do financismo e do mercadismo, embora isto seja na verdade uma simplificação das coisas, pois se trata, efetivamente, da ação de grupos concretos, perfeitamente identificados, de composição conhecida, e não de largas faixas ideológicas mais abrangentes, como eram, por exemplo, os conceitos de direita, esquerda e suas derivações. E boa parte da política internacional de fato caminhou para esse quadro, contudo, até certo ponto. A partir de determinado grau de polarização política, porém, esses arranjos se diluem em parte, deixam de ser eficazes, isto também tem ocorrido em diversas regiões do planeta. O que parecia retrocesso está, em vez disso, tornando-se avanço, pois a população nesse intermédio tem aprendido a dar respostas mais certeiras, e deste modo as surpresas ficam mais difíceis de ambos os lados.


O caso é que a disseminação informativa na cultura pós-industrial, se de um lado facilita a modelagem das narrativas sobre o cotidiano, e nos casos mais rudimentares e grosseiros a manipulação mais desbragada, dialogando com um público mais receptivo aos seus argumentos, de outro lado esse mesmo jogo simbólico fez com que a população passasse a compreender melhor os compromissos da representação política, ou a falta deles. Dizer simplesmente que as gerações da política brasileira sucedem-se em classes cada vez mais despreparadas e distantes, pode estar correto ou não, conforme o caso, mas será sempre uma avaliação parcial desse fenômeno de um virtual descrédito do discurso político, na democracia brasileira. Paralelamente às astúcias e nuvens ideológicas, o que parece estar ocorrendo é que os eleitores desenvolveram a percepção dos vínculos reais que os ligam aos seus representantes na política. Ficou mais claro o fato de que a classe política deve se comprometer diretamente com seus eleitores, e esta é uma visão sistêmica aprendida pela coletividade, não é uma idéia passageira. Mais do que isso, o público brasileiro (já que boa parte da política se faz ou se conclui através da mídia) dá sinais de que está sabendo traduzir os laços de representação de forma cada vez mais objetiva, mas as classes dirigentes brasileiras não perceberam isto, ainda. Os institutos de pesquisa já constataram esta grande mudança, e há tempo dão mais importância às pesquisas qualitativas.


Há um caminho bastante trabalhoso para explicar por que isto tem acontecido, e o leque de explicações vai desde essa presença da informação sistemática no cotidiano até a experiência do governo Lula, como resultante das intensas mobilizações de organizações populares e instituições da sociedade civil. Mas a própria crueza do jogo, ao contrário do que se poderia esperar, também tem ajudado. Os “reis” parecem não se incomodar em ficar “nus”, e brincam com isso, alguns, e outros negam peremptoriamente o fato, procuram “disfarçar”, diante da cidadania perplexa, mas o discurso vale, e parece passar, só que com isso um fato não se altera: os reis estão nus, e com isso o povo aprende!


Tanto de um lado como de outro não há mais muitas máscaras, a não ser pelo formalismo do próprio jogo, quer dizer, faz parte da formação discursiva política essa postura de “embreagem”, de não se engrenar em todos os dentes dos mecanismos, mas ter uma “área de escape” estratégica, os próprios eleitores avaliam essa habilidade. Entretanto, o núcleo do jogo está exposto, na política brasileira, também de ambos os lados. Não é mais segredo para ninguém a questão do orçamento, do que se vai fazer com o dinheiro. Tudo, na visão política brasileira atual, diz respeito à gestão do dinheiro. Há outras alternativas, mas esta é a tônica atual. Por isso é que os programas partidários, as plataformas eleitorais acabaram sendo abrangidas por aquele mesmo conceito geral de “promessa”. Tudo virou “promessa de político”, a não ser o “din-din”. Este é o que interessa. Essa secura dos interesses políticos teve o efeito de alienar o debate durante alguns anos, e de contribuir para a confusão do discurso mais significativo, aparentemente. Mas, depois de um tempo, começou a querer emergir com força essa questão da representatividade, que pode ser traduzida pela expressão “linha direta” entre o político e o eleitor. Para isso contribui também o aumento da interatividade nas formas de comunicação social. A noção de que o representante “está lá” para defender os interesses mais objetivos do eleitor está ficando mais clara, e é por isso também que se projetou a crise da representatividade. Por si só, a classe política não está mais distante do eleitorado. Em certos aspectos, está até mais próxima, contudo, hoje há uma consciência maior de que os vínculos da cidadania com os eleitos para os mandatos populares precisam ser estreitados.


Quer dizer que todos os projetos políticos deverão ser orientados por esse novo contexto cultural, e esta tendência da representatividade deverá renovar todo o jogo político brasileiro, durante uns bons anos. Corresponde essa tendência central uma provável reeducação política generalizada em todo o país.


Política Brasileira 4


sexta-feira, 11 de abril de 2008

A terceira grande crise do início do século

primeira revisão em 12.04


Os primeiros estágios da nova crise mundial de alimentos não seriam preocupantes, se eles não representassem a continuidade de certo descaso e indiferença em relação a fatores básicos desses ciclos produtivos. Mas a fonte das crises atuais é tentar administrar o século 21 com o pensamento dos séculos 19 e 20.


O final da primeira década do século 21 está sendo marcado pela eclosão de três grandes crises na base da cultura industrial: a crise ambiental, a crise americana e a crise dos alimentos. São crises positivas, no sentido de que sua correta resolução poderá elevar os níveis civilizatórios e melhorar as condições de vida da população mundial. Mas, a complicação delas, por decisões equivocadas ou por esforços insuficientes, fará com que seja muito mais difícil a resolução, em relação às grandes crises do século passado, e isto já causa apreensão. Porém, os riscos são ainda maiores, pois crises na base das culturas podem ser o estopim de outras crises nos sistemas básicos de vida, fazendo com que uma alimente a outra. Isto não ocorre à toa. Será característica da sociedade avançada que pequenos desvios de condução possam levar a grandes catástrofes de toda ordem. Já foi dito aqui que administrar a sociedade tecnológica será como conduzir um veículo em altíssima velocidade. Não pode haver erros, nos sistemas altamente sofisticados e integrados.


A falta de alimentos, por exemplo. Se projetado um cenário de fome, seria devastador para a ordem mundial. Populações com instrumentação avançada, reunidas em dezenas ou centenas de milhões de habitantes, não podem passar fome. Não existe mais essa alternativa no mundo globalizado. Seria o caos total. Também não podem ficar sem trabalhar. A rapidez com que vastos contingentes desocupados se degradariam ou se desviariam para atividades primeiro informais, e depois ilegais, seria estonteante. Os recursos naturais também não podem ser mais explorados sem critérios e controles crescentes, pois os níveis produtivos e as tecnologias de exploração esgotariam diversos bens ambientais em poucos anos, poucas décadas, e comprometeriam outros, colocando a própria vida na Terra em risco.


Se a cultura atual fosse incapaz de encontrar saídas para os impasses criados, nessas primeiras crises de esgotamento do mundo industrial, e pode-se acrescentar que os modelos financeiros da era industrial também se aproximam de seus limites, deveríamos estar todos verdadeiramente aterrorizados. Provavelmente, seria como se os anjos do céu começassem a soar as trombetas, e não há exagero algum nessas palavras, ainda mais diante da relativa indiferença e insensibilidade sistêmica parcial que atravessou toda a Revolução Industrial, consideremos todos os 200 anos aproximadamente como sendo a revolução industrial. Mas, felizmente, existem os meios para superação dessas crises. Diversos instrumentos civilizatórios, mais o conhecimento em diversas áreas (multidisciplinar), e também infinitas combinações de conhecimento nas áreas de fronteira disciplinar (interdisciplinar), são recursos perfeitamente capazes de resolver esses problemas muito graves, produzidos todos eles, notem bem, todos eles causados pela própria atividade humana.


Entretanto, os homens ainda não se acostumaram a lidar muito bem com os valores em jogo, e têm dificuldade de migrar de uma escala de valores para outra. Nesse caminhar o ser humano ainda está engatinhando. Saber como abrir mão do estatus em que se encontram, em determinado momento, reconhecer as grandes modificações trazidas pelos tempos, e saber transitar de um período para outro, de uma era para outra, em escala individual, familiar, grupal, comunitária ou coletiva, é uma operação sempre dificultosa, conflitiva, doída, hesitante e relutante, descontado o fato dessas grandes mudanças serem deveras assustadoras, pois os componentes desconhecidos são muito maiores do que estamos preparados para compreender e aceitar com tranqüilidade. Mas, as transformações estão realmente acontecendo e as medidas precisam ser tomadas com firmeza, para que as conseqüências não sejam desastrosas e os quadros não fiquem dramáticos.


Estes são os obstáculos e desafios a serem vencidos. Para que a produção alimentícia aumente na proporção necessária, daqui em diante, as atitudes produtivas precisam mudar tudo, em todo o modo de produção, e não apenas na produção de alimentos. A adaptação às novas exigências ambientais demandará alterações culturais radicais. A renovação do ambiente produtivo é essencial à criação de postos de trabalho e de oportunidades negociais. Com isso, todos os sistemas estruturados estão em crise, e basicamente tudo precisa ser mudado. A encrenca é grande, porém, como já se afirmou, a cultura tem os recursos necessários para fazer frente a esses desafios, desde que corrija seus procedimentos de acordo com os novos quadros civilizatórios, desde que esteja disposta a superar os desafios do século 21.


O ciclo hidrológico. Não pode faltar água! Para isso, além de se criarem sistemas de reúso, não se pode mais desmatar, pois a falta da cobertura vegetal mais densa rompe o ciclo da água na superfície, fora o problema do aquecimento global, e demanda a captura de água no subsolo, fazendo com que esses recursos também escasseiem. E depois disso, o que poderá ser feito? Como aumentar a produção de alimentos? Quer dizer, sem cobertura vegetal densa convivendo com descampados segundo um equilíbrio bem desenhado, diminui a oferta geral de água doce no território considerado. No Brasil isso seria desastroso, pois a “abundância” de água doce em nosso país tem sido decorrência direta da integração de vastas bacias hidrográficas alimentadas pela água de superfície em áreas de grande umidade (Amazônia, basicamente). Se a Amazônia desaparecer, as outras bacias serão seriamente afetadas, por causa desse fenômeno da perda de umidade e da alteração do regime de chuvas. Então, uma discussão muito séria precisa ser feita, para estabelecer padrões de equilíbrio hidrológico, como se disse, sem contar ainda o problema do aquecimento, que está também associado aos fatores do ciclo hidrológico (absorção e liberação de carbono).


Não é difícil perceber que alguns princípios de equilíbrio foram desrespeitados, e que os critérios vigentes nas várias atividades precisam mudar, na direção de se regularizarem os recursos naturais básicos: o ar, a água e o solo. Além deles, o clima. Água e comida estão intimamente ligados, no que diz respeito aos recursos básicos de manutenção do sistema de vida do planeta, quer dizer, o problema climático envolve pelo menos três frentes principais: o ciclo hidrológico no continente, as mudanças climáticas globais e a preservação dos oceanos (fator climático das correntes marítimas, biodiversidade e produção de quase todo o oxigênio respirado).


Mas não está dissociada dessas mesmas conjunturas a crise americana, ameaçando afetar todo o mercado global. Resumindo, há um problema com a base comportamental da civilização, uma necessidade de reavaliar critérios de sustentação e viabilidade. Outra vez, equilíbrios, princípios e limites foram rompidos, e agora, para começo de conversa, quase 10 milhões de famílias americanas poderão perder suas casas, se medidas extremas não forem adotadas. Mesmo assim, não fica garantida a regularização, ou seja, práticas inadequadas abriram um rombo enorme no sistema produtivo americano, e este pode se alastrar no cenário internacional, pois pequenos “deslizes”, nos níveis civilizatórios extremamente sofisticados e formalizados do século 21, podem ter efeitos imprevisíveis, em todos os campos da vida humana.


Essas crises no alicerce da humanidade podem ser muito positivas, se houver progresso humano e avanços culturais, ou poderá ser o início de uma onda avassaladora, criando uma escalada incontrolável de crises, e aí pode ser que as trombetas comecem a realmente soar. Alguém duvida disso?


***


DESENVOLVIMENTO POSTERIOR


O artigo de José Paulo Kupfer, A Fome não é só Comida, publicado no Último Segundo, em 12.04, por ser anunciado pelo IG com o sentido de que o aumento na produção de alimentos não é a solução para a crise alimentar, merece alguns comentários. O artigo opinativo do jornalista não está centrado exatamente no sistema produtivo, mas em um aspecto particular, o dos preços relativos pela valorização dos preços das commodities, e a consequente especulação em torno dos estoques alimentares. Desenvolve sua tese de um lado querendo fazer baixar os preços dos alimentos e, de outro lado, facilitar o acesso das faixas menos favorecidas da população aos alimentos, através dos programas governamentais.



Não concordo com isso, mas também não discordo totalmente. É preciso sim começar a aumentar urgentemente o nível da produção alimentar, mas percebam que aqui se faz menção a todo o ciclo produtivo, e não apenas ao momento específico dos volumes de safra. Então, todo o escoamento e beneficiamento posterior está incluído, assim como a transformação dos produtos básicos em produtos diversos no mercado consumidor, sem esquecer os programas sociais do governo. A quantidade de trabalho total dispendida nesse setor precisa aumentar (o espectro de energia), e o modo imediato de fazer isso é o aumento linear (aritmético, como foi dito) da produção. Depois, o próprio processo irá cuidando dos fatores de produtividade, desenvolvimento e inovação tecnológica. Precisa haver mais terra plantada, safras maiores e um contingente maior de pessoas trabalhando nesse setor, pois as pressões alimentares apenas começaram a se fazer sentir. Elas vão aumentar muito mais! E lidar com a crise alimentar, como já foi dito, irá exigir esforços e correções em várias fases produtivas, na infraestrutura, na cultura produtiva e nos critérios produtivos.



Dizer que os volumes colhidos nas safras cobrirão matematicamente as necessidades calóricas da população mundial não é discutir a crise dos alimentos, mas analisar apenas alguns dos aspectos financeiros envolvidos, o preço relativo devido às inseguranças atuais do mercado, dando ênfase apenas aos jogos dos índices de valor. Mas isso é sintoma! A crise alimentar existe e está engatilhada no mercado global, envolvendo as próximas décadas e bilhões de pessoas. É preciso cuidar dos índices, realmente, mas não se pode esquecer dos produtos "em espécie".



Século 21 - 1


quarta-feira, 9 de abril de 2008

A Teoria Geral das Forças Produtivas 16 - Sistemas Avançados de Planejamento

EM POUCO TEMPO, O DESEMPREGO SERÁ COISA DO PASSADO

Nas casas das famílias poderão estar instalados diversos terminais de serviços, de projetos, de aprendizagem e de comunicação, conectadas a uma infinidade de redes de produção ou de simples entretenimento e comunicação pessoal, modificando totalmente a disposição dos espaços sociais e as formas de interação ou circulação.


As Redes de Divisão do Trabalho: as RDT"s


A organização das atividades cotidianas dos cidadãos, na sociedade tecnológica, precisam seguir o espectro de energia (v. artigo anterior sobre o tema) , isto é, as formas potenciais de energia, a produção energética e seu dispêndio devem dispor de um sistema capaz de saber, simultaneamente, se um ferro elétrico está apresentando problemas, em uma cidadezinha no coração da Amazônia, se a quantidade de trabalho aplicado em gerenciamento municipal, em outra localidade no norte de Minas, é suficiente, ou se é preciso redirecionar as funções do quadro de pessoal da prefeitura, e se o perfil de prática de esportes em um terceiro município, no Oeste de Santa Catarina, pode ser mais bem aproveitado.


O acompanhamento de atividades diárias são formas de controle integrado, quando necessário, como no caso de rede de fornecimentos de energia, o trânsito na cidade, os níveis de desemprego e o tráfego de informações nas infoways, mas podem ser também sistemas informativos de orientação, a que os cidadãos têm acesso para traças suas estratégias familiares e pessoais. Será possível detectar com razoável antecedência, e com maior acuidade, quais serão as perspectivas e dificuldades de cada carreira profissional, e as condições de trabalho em cada localidade e região, acompanhadas de projeções para 5, 10 ou 15 anos. Os cursos à distância e as diversas formas de treinamento irão possibilitar que os cidadãos tenham formação em várias especialidades, de acordo com suas características e história pessoal. Isso já ocorre na sociedade atual, mas não é uma ocorrência comum. No futuro, será muito mais fácil que profissões diversas de nível médio ou superior sejam seqüenciadas ou acumuladas pela mesma pessoa. Em que medida e diante de quais limites, isto só o tempo poderá dizer. Considere-se, neste caso, que toda a vida escolar dos cidadãos, desde a tenra idade, será muito diferente da atual, e que a sociedade irá funcionar igualmente de maneiras muito diferentes, no que diz respeito à formação escolar, treinamento profissional e ao exercício profissional.


Nas estações centrais de informação estratégica, será possível acompanhar todo o espectro da divisão de trabalho, os quadros de oferta e procura de cada função, a análise qualitativa acompanhada das resultantes de qualidade de cada unidade produtiva, que pode ser desde o país inteiro, passando por regiões, estados, cidades, bairros, organizações, setores, empresas, casas, famílias ou cada um dos indivíduos, e várias fases e aspectos de um mesmo indivíduo. Suas notas em matemática no ensino médio contrastando com a brilhante solução de um problema na produção de determinada substância, em um laboratório onde trabalha. Os dados de um grupo econômico que começou como cooperativa de apanhadores de material reciclável nas ruas, mas que depois ampliou suas atividades e está se tornando uma nova potência econômica. Como casos isolados isso já acontece bastante, e em sistemas bastante sofisticados. Podem ser citadas as redes de trabalho na agroindústria brasileira, que estão ligadas à Embrapa, ao Banco do Brasil, ao programa de TV do Globo Rural, aos eventos e feiras agropecuárias, etc, formando uma cultura coesa e de grande produtividade. Outros setores também se destacam com a mesma excelência de organização produtiva. Mas é possível avançar mais, organizar mais, e fazer com que todo o sistema de trabalho tenha menos efeitos negativos, como acidentes de trabalho, desemprego ou falta de mão de obra especializada, conflitos trabalhistas, problemas administrativos, falhas ou insuficiência de formação e treinamento, baixa qualidade nos produtos e serviços, etc.


As redes de divisão do trabalho são redes complexas de informação, redes de conhecimento em nível gerencial, de investimento ou de usuários comuns em todos os pontos do sistema. O fato desse universo de informações ser produzido, organizado, estar circulando e estar disponível para acessos de natureza múltipla já criam um ambiente produtivo bem diferente do que existe hoje, com um grau enorme de comunicabilidade, à velocidade dos sistemas digitais, isto é, praticamente instantâneos. Desde que a pessoa seja reconhecida pelo sistema, tenha seu currículo avaliado constantemente, sua vida produtiva acompanhada, ela poderá estabelecer compromissos e contratos profissionais com empresas em qualquer parte do mundo, deslocar-se para lá ou trabalhar à distância, criar vínculos diferenciados, ainda que simultâneos, com tarefas profissionais totalmente distintas. Poderá projetar uma casa, consertar um aparelho eletrônico, fazer o arranjo de uma música, redigir um texto formal, examinar um processo e dar uma aula para uma classe virtual, e isto poderá dar a volta ao mundo, sem que o cidadão saia de sua casa. Poderá também, trabalhar de vigia noturno de um museu, dirigir um veículo de manutenção em uma fábrica, escrever um artigo para uma revista, editar um blog seu ou de outrem, etc. Poderá até assistir televisão.


Estudos dos dados colhidos produzirão diversas análises sobre diversos fatores produtivos, dando conta das condições de produção e da qualidade dessa produção em um sistema escolar, em um escritório, na produtividade de um determinado tribunal de Justiça, avaliando as causas, por exemplo, dos diferentes níveis de consumo de determinado remédio, em localidades diferentes, em faixas etárias ou em indivíduos de profissões diversas. Projetar e prever situações e oferecer esses dados aos mercados e à sociedade. Subsidiar cálculos diversos de produção e investimento. Dar informações retroalimentadoras, que aperfeiçoem as redes existentes ou criem novas redes de trabalho.


O sistema consolidado das RDT’s dará uma visão panorâmica de todo o quadro de atividades diárias da cidadania, sempre respondendo à questão geral básica, sem excluir pequenas variações: o que é que os cidadãos fazem pela manhã, depois de acordarem, e o que fazem durante todo o dia, até adormecerem novamente?


A meta é o sistema poder responder essa pergunta focalizando um número cada vez maior de cidadãos, um número maior dos dias corridos do ano, em detalhes cada vez mais minuciosos, seja por dados fornecidos pelos próprios usuários, por pesquisas formais de amostragem propostas aos cidadãos, por coleta eletrônica de dados, autorizadas por públicos selecionados ou sondados, por autorizações especiais de órgãos profissionais e governamentais, etc., sempre dentro da lei, rigorosamente dentro da lei, punindo severamente os abusos, ainda que com penas leves e comunitárias, de preferência, e multas com reincidência, para as empresas, além do enquadramento penal. Cumpre observar que somente a observância das leis permitirá que esse sistema realmente funcione, e produza benefícios para toda a sociedade, durante muitos anos. A resposta à questão anterior formará um conjunto extremamente objetivo das formas produtivas dessa sociedade, e criará noções de valor, relações internas de sistema, apreciações sobre o cotidiano produtivo e sobre a cultura geral que de outra forma não estariam disponíveis, com toda essa amplitude e possibilidades de aprofundamento.


Teoria Geral das Forças Produtivas 16



quarta-feira, 26 de março de 2008

A Teoria Geral das Forças Produtivas 15 – A Rede Dialética


_O KREMLIN, PALÁCIO-SEDE DA URSS_

Na verdade, o Kremlin tem história quase milenar, e vem sendo construído por etapas e reconstruído em parte, desde 1156, quando Moscou ainda estava em seus primeiros anos e nesse local foi construída uma fortificação. Depois, tornou-se a moradia dos czares, e continua a ser a sede do governo russo, mas, durante a Guerra Fria, transmitia uma imagem impressionante de "fortaleza" soviética.


A Rede Dialética foi estudada no período de 1990 a 1992, pouco depois da queda do Muro de Berlin e do fim da URSS, quando se dizia que o comunismo tinha acabado e o capitalismo tinha saído vencedor. A doutrina neoliberal despontou fortemente, associada aos governos Reagan e Thatcher, os EUA assumiam a liderança isolada do mundo, como superpotência remanescente da Guerra Fria, e teve início, nesses mesmos anos, o projeto do mundo unilateral, com o ciclo das Guerras do Golfo Pérsico e o aumento das tensões com o mundo islâmico. Também começou a se dizer que a História tinha acabado, pois não haveria mais processos culturais, sistêmicos ou de regimes políticos e produtivos que não fossem exclusivamente o aprofundamento do regime capitalista.


Se examinarmos isso hoje, na distância de mais alguns poucos anos, na História, viva como sempre, será mais fácil perceber a argumentação de fundo ideológico, isto é, uma espécie de continuação da rivalidade capitalismo-socialismo, mesmo após o duro golpe do fim do “socialismo real”. Os próprios interlocutores dos grupos situados à frente do capitalismo cuidaram de manter viva a idéia dos projetos socialistas, ao tentarem forçar a avaliação de que o socialismo tinha acabado. Ninguém iria tentar combater um regime que não existe mais, é lógica das mais simples, então, se ainda combatem, é porque o “inimigo” está lá. E, logo depois, no cenário internacional, isto se confirmou, com a ascensão dos regimes trabalhistas no mundo todo, até chegar ao ponto atual, em que vários regimes, por assim dizer, híbridos, estão à frente de países importantes.


Aquela argumentação inicial foi, portanto, uma formulação adequada à implantação do neoliberalismo, uma mobilização político-ideológica, mais do que uma discussão técnica sobre o sistema produtivo e os regimes de produção. Faz-se uma diferença entre estes dois termos. O sistema é mais abrangente, como noção geral, enquanto o regime implica as questões doutrinárias, como se fosse ao mesmo tempo uma especialização e também uma redução do sistema produtivo. Mas poderia ser igualmente um desmembramento deste.


Na rede dialética, o que se verificou de modo sistemático é que não há, efetivamente, país algum, economia alguma, que não incorpore tanto valores, princípios, estruturas, regras, práticas e formas do “capitalismo”, quanto do “socialismo”, e também de outros regimes, como nas economias naturais indígenas, nas economias familiares de subsistência, em formas semi-anárquicas, ou hoje em dia, nas diversas atividades da economia informal. Em outras palavras, capitalismo e socialismo são na verdade tendências e fases do sistema produtivo. Não há como erradicá-los da produção. Eles existem juntos, mesmo que o regime preponderante seja o outro. Mais do que isso, são interdependentes e se reforçam um ao outro. Esta era, aliás, a chave da polarização EUA-URSS, quando a rivalidade favorecia o desenvolvimento maior nesses dois países. Isto deveria, da mesma forma, então, projetar o mundo islâmico como superpotência, mas o caso é que essas eram sociedades de estrutura quase tribal, já apropriadas pelos interesses do antigo império inglês, e também pela exploração do petróleo. Não têm a mesma orientação produtiva sustentada pelas disputas da Guerra Fria.


A rede dialética, ou dialética complexa, se sistematiza sobre a idéia de que as duas concepções centrais da dialética, o materialismo em Marx e Engels, e o idealismo em Hegel, também estão em confronto dialético. Não são excludentes, mas sim complementares. A idéia e o conceito, e a ação concreta, é que compõem a realidade objetiva, não podem ser dissociados. Hoje isto é sabido, pelo aprofundamento das noções da semiótica. São os signos que fazem essa interação entre o simbólico e o material. E foi um desmembramento da Lingüística que desenvolveu a noção semiótico-ideológica da mente humana, quer dizer, não se pode produzir significação sem produzir simultaneamente escalas de valores. Mas, se percorrermos todo o processo da rede dialética, chegaremos exatamente nessa questão da complexidade produtiva, em que valores opostos se combinam para sintetizar a realidade. Dando nomes às ocorrências centrais dessa rede, capitalismo e socialismo.


Dizer que o capitalismo não se tornou em parte “socialista”, e que o socialismo real não desmoronou por não ter se tornado suficientemente “capitalista” seria um erro lógico, portanto, um erro científico. Se dissermos que o capitalismo evoluiu e progrediu, enquanto o socialismo degradou e se arruinou, o que estamos dizendo, basicamente? Primeiro, que o socialismo real soviético não conseguiu incorporar estruturas suficientes do seu contrário (é o que a China fez). Segundo, que o capitalismo evoluiu sim, mas em que direção? Na direção de seu contrário, enquanto desenvolvia a si mesmo. Foi isso que permitiu novas sínteses.


As teorias de Karl Marx serão discutidas, mas sob o ponto de vista técnico, reservando para a crítica a parte doutrinária e política. Pode-se, no entanto, adiantar parte dessa análise. O capitalismo que Marx estudou foi o de formação de grandes metrópoles. Populações inteiras à míngua, crianças e velhos trabalhando sem piedade, 12 horas ou mais por dia, sem fins de semana, sem férias, sem assistência médica, sem contratos de trabalho, recebendo remuneração miserável, aglomerando-se em bairros que mais pareciam acampamentos, com altíssimos índices de mortalidade, problemas graves de saúde disseminados, sujeitos à poluição, à sujeira, um cenário que mais parecia o fim do mundo, talvez pior do que o ambiente das favelas atuais. O que se queria que Marx escrevesse? E o que se poderia esperar que apreciasse sobre o caráter do Capital? As críticas que ele fez, entretanto, foram tão contundentes, do ponto de vista estritamente técnico, que o próprio capitalismo absorveu os valores teóricos sistematizados pelos marxismo. Poucas forças se tornaram tão “marxistas”, sempre lembrando, do ponto de vista sistemático e técnico, quanto o próprio capitalismo. Marx foi um dos grandes teóricos do capitalismo, esta é a parte realmente científica. A questão doutrinária é um outro capítulo. Da mesma forma, o texto de Engels sobre a formação do homem pelo trabalho é extremamente precisa, e somente hoje, mais de cem anos após sua publicação, é possível fundamentar com teorias científicas tudo o que ele disse, com ligeiras correções e algum aprofundamento, que em nada desmerecem suas teses.


O capitalismo progride e se desenvolve tecendo relações cada vez mais solidárias com as forças do trabalho, ninguém poderia duvidar disso. Isto é na verdade ainda mais acentuado, pois o regime capitalista (o capital) aplicado ao sistema produtivo está se esforçando muito, nas últimas 2 ou 3 décadas, para renovar suas alianças com o trabalho (força produtiva). As profundas alterações que vêm ocorrendo nos contratos de trabalho, desde a época de Marx, tiveram profundo impacto de suas análises, em parte, e também se devem às disputas que se estabeleceram entre os regimes de produção. Mas o essencial é perceber que o sistema produtivo é mais amplo que os regimes de produção, e que dentro do sistema produtivo operam sistemas sempre híbridos, sempre integrados, combinando forças antagônicas, e mesmo regimes de produção tão díspares quanto o socialismo e o capitalismo. Isto em essência. Obviamente se deveria estender essa discussão para cada aspectos produtivo, como os regimes de propriedade, os papéis dos agentes produtivos, os modos de divisão do trabalho, de circulação das riquezas, etc. Concluindo, nem o capitalismo, nem o socialismo irão morrer, nunca, pois são faces da mesma moeda, e coexistem no mesmo sistema produtivo. O problema começa quando têm a pretensão de ser únicos e de reinar sozinhos. Aí começam as distorções.


Teoria Geral das Forças Produtivas 15

terça-feira, 25 de março de 2008

50 anos

FOTO DE MEUS QUERIDOS PAIS, NOS "ANOS DOURADOS"


50 anos


Algo que ainda me fascina e assusta ao mesmo tempo é o apego de tantas pessoas a certos projetos de vida, de trabalho, determinadas posturas pessoais que fizeram sentido décadas atrás, nos séculos passados, há milênios, mas que agora se tornaram anacrônicas e absurdas. Talvez certa dose de paixão cega mantenha esses comportamentos, como se o tempo não tivesse passado, como se a história não avançasse. O fato é que hoje vivemos de modo muito diferente de outros tempos, e o que era apropriado e conveniente para essas épocas, ultrapassado foi, arcaico se tornou, inadequado e contraproducente, absolutamente irracional, apenas aparentemente humano, pois ser humano é evoluir e aperfeiçoar-se.

Ninguém está fora desse contexto, nem o que toma estas palavras neste texto, pois um esforço contínuo é exigido pela vida. Quem pára de se esforçar para superar os instintos, a irracionalidade que se acumula nas mentes, não se imobiliza, mas retrocede e se degrada, migrando para os limites da existência, para as áreas turvas e os terrenos pantanosos.

Nos 50 anos que completo hoje, 25 de março de 2008, às 14:40 h (se não me engano, Áries e Leão, Deus nos acuda...), a idéia que se torna mais clara em meu pensamento é a de que viemos a este mundo não para sofrer, nem para batalhas sem fim, nem para sermos ricos e poderosos, ou pobres e desprotegidos, ou para conquistar, vencer ou perder, nada disso. Isto faz parte da vida. Viemos ao mundo para encontrar respostas, para perguntas enraizadas em nossa alma como se fossem a nossa própria chama, o único sentido pelo qual nascemos. Primeiro produziram-se essas interrogações no universo, depois, criaram-se as pessoas para procurar respostas para elas. Viemos ao mundo para deixarmos de ser ignorantes, mesmo que seja em alguns pouquíssimos e minúsculos pontos. E isto justifica toda a nossa existência, tudo o que passamos pelo caminho, todos que conhecemos e que amamos, e é só isso que conta, em essência.

A facilidade com que alguém destrata, humilha, agride, prejudica, odeia..., é uma coisa que não compreendo. Nunca compreendi, desde pequeno, embora também cometa os mesmos erros. Então, alguns acham que a resposta para eles é essa? E não percebem que estão completamente errados, e que estarão cada vez mais distante de si mesmos, mais perdidos, mesmo que os fatos da vida repetidamente se apresentem diante deles, evidencie o descaminho, apresente os melhores argumentos, os riscos, as alternativas, a diferença infinita entre agir corretamente e errar, mesmo assim, como uma doença, como se a própria vida fosse insuportável, como se maldissessem a própria imagem, insistem em renegar, em resistir, em aprofundar os ferimentos, no corpo e na alma, de si e de seus semelhantes. Quanta paixão, quanta confusão, quanta dificuldade! A vida é mesmo difícil, e precisamos de ajuda, precisamos uns dos outros, precisamos acertar.

Este tempo atual tem como característica as amplas perspectivas do passado e do presente. Se quisermos, podemos ver quase tudo, mas a quantas anda a nossa compreensão? Sabemos que estamos aqui para aprender, cada um a sua lição, cada um a sua necessária gotinha eventual de cicuta? Estamos caminhando ou apenas vagando errantes, sem qualquer noção?

Não quero dizer que tenho as respostas, mas, após 50 anos, aprendi a perceber as interrogações. Aprendi que somos feitos de perguntas, e que somos construídos por elas. E que algumas dessas perguntas realmente contam muito, enquanto a outras nem vale a pena tentar responder.


Pequenas Crônicas

 RECADOS     

PARA OS AMIGOS, ANJOS DA GUARDA E LEITORES DO BLOG: 

21/10/08, 18:18 - AINDA PREPARANDO O CAPÍTULO 3 DE HISTÓRIA DA FALA

                        - RELENDO  Bakhtin, e as "NOVAS CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS", de Sigmund Freud

                        - PRIMEIRO ARTIGO DA SÉRIE SOBRE SEXUALIDADE FOI PUBLICADO !

                        - PREPARANDO 2º ARTIGO SOBRE SEXUALIDADE: 

A ESTÉTICA DA NOVA PORNOGRAFIA (texto não restritivo) - A questão estética da pornografia é uma "não-estética", uma anti-estética, mas há um projeto para isso, e uma função ideológica implícita, quer dizer, romper com a estética faz parte de um conjunto complexo de relações sociais.