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Citação de Bakhtin::

A VIDA COMEÇA QUANDO UMA FALA ENCONTRA A OUTRA

 

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domingo, 3 de agosto de 2008

A Guerra


Um apelo à Paz no Brasil e no mundo.



Será que essas pessoas sabem exatamente o que é a guerra? Será que já viram uma? Pensam, talvez, que se trata de um desastre, de um tiroteio, de um massacre, ou talvez de uma chacina. Que é uma luta dessas que se vê na cidade, uma batalha campal entre forças urbanas, polícia e estudantes, uma facção e outra, torcedores de um time ou de outro. Que se trata de um incêndio, de um trem desgovernado, da queda de um avião.

Essas pessoas nada sabem sobre a guerra.

Não sabem o que pode causar, o que pode fazer com a vida delas, das pessoas que conhecem, com sua cidade, sua região, seu país, com tudo o que compreendem do mundo, com tudo o que acham que é vida.

A guerra é muito mais.

Como alguém pode conceber a guerra? Seja em uma terra distante, seja em seu próprio país. Se imaginassem toda a violência do mundo, todo o ódio, toda a brutalidade, a guerra ainda seria muito pior. Se pensassem em todo o desprezo, em toda perda, em toda indigência, em todo ferimento, isto daria ainda uma idéia muito distante do caos, da fragilidade, da vitimização generalizada. Se todos os demônios da terra emergissem do inferno, de todos os infernos, de todos os tempos, e se todas as fogueiras queimassem sobre a terra, e os gritos se espalhassem pelo mundo, isto ainda diria muito pouco sobre ela. Seria apenas a ponta da escuridão, do sofrimento, do inacreditável abismo em que todos podem ser jogados, como se nunca tivessem existido, como se nunca tivessem valido nada, e como se nada tivesse tido um dia qualquer valor. Como se nada valesse a pena. Como se não tivesse nenhum significado.

Mas isso não é tudo, é apenas o começo.

Aqueles que mergulham na guerra são tomados por ela e passam a amá-la. A matança, a indiferença, a desgraça, a podridão do mundo de vísceras abertas, o mal-cheiro, a morte, os corpos despedaçados, o sangue e a destruição, vão amortecendo os mais bravos guerreiros, diluindo seus olhos, vitrificando-os, devorando toda a sua luz, sua alegria, sua compreensão. Os tiros, os gritos dos amigos e dos inimigos, dos velhos e das crianças, da gente comum, indefesa, e as explosões, as tocaias, as emboscadas, a nuvem de poeira e fumaça, o silêncio que se faz depois, toda demolição, passam a ser o alimento do ser.

Não é mais o tempo do existir, dos amigos, das famílias, do trabalho e dos dias que se vem e se vão. Não é mais o tempo dos humanos, das pessoas, nem dos animais. É o tempo da guerra, então não é mais o tempo de nada. E como não há mais nada, nem a ganhar nem a perder, os bravos guerreiros querem apenas que ela não acabe nunca mais. Os guerreiros, as vítimas, os refugiados, passam a temer o dia em que teriam de voltar para casa. A guerra agora é a única coisa que eles têm, e todos são apenas combustível para as batalhas. Por ser insuportável além de qualquer compreensão, a guerra passa a ser venerada e idolatrada, e todos se tornam seus servos.

O que pensar das pessoas que desejam a guerra? O que pensar daqueles que não hesitariam em transformar sua terra, sua gente, em pedaços de carnificina? Que não se deteriam diante da possibilidade de ver sua cultura ser estraçalhada sem piedade, toda sua sociedade tornar-se alvo para ser cruelmente executada, sem perdão? Que entregariam todo seu mundo, toda a vida que conhecem e que os criaram e cuidaram deles, à mais sórdida destruição?

O que pensar de pessoas que seriam capazes de destruir tudo, simplesmente tudo, em nome de algum privilégio, vantagem ou frivolidade? Para pensar que são melhores que os outros? Que têm mais direitos que os outros? Por se sentirem de alguma forma favorecidos? O que se passa na alma dessas pessoas? Em seu coração? Que tipos de pensamento estão se formando nas mentes dessas pessoas? O que os tornou assim? Que força terrível teria se apoderado delas? Como admitir tamanho horror? Como ser tão insensível? Que trauma intolerável teria cegado toda sua compaixão?

O Brasil já foi palco de muitas guerras, sem que tenha sido contudo tomado pela guerra, isso não, mas já tomou parte em guerras que se tornaram totais e rasgaram todos os tratados humanos. Essa guerra, essa guerra total, que destrói o país e tudo que há nele, que persegue as lembranças e os sonhos e corrói passado e futuro, essa guerra se trava dentro e fora de nós. É a guerra contra os outros somada à guerra contra o inimigo interior. Quando não se acredita em mais nada, nem se quer ver qualquer raio de luz, nem ver qualquer esperança brotar.

Esta é a guerra que nos assombra e nos espreita, na transição dos tempos, nas dobras da história, nos desvios do ser. O homem enlouquecido é aquele que se volta contra si mesmo e que não suporta mais qualquer construção. Para ele, todo alvorecer é uma doença, todo amor é um mal, e este como um fluido sinistro se espalha sorrateiramente, até que seja tarde demais. Se desejam a guerra, eles não sabem realmente o que é a guerra. Quanto mais a humanidade avança, maior o risco que corre, maior o poder, mais tensos ficam os jogos, mais virtuosa deve ser a cultura, para que possa sempre reencontrar e manter a paz, pois a guerra, a guerra começa do nada, costura inocentemente toda a insensatez, e depois se torna um turbilhão, que não se pode mais controlar. E depois de deflagrada, de libertados todos os demônios, os efeitos dessa guerra se farão sentir para sempre, e serão os espinhos das lembranças de toda a humanidade.


Pequenas Crônicas

 RECADOS     

PARA OS AMIGOS, ANJOS DA GUARDA E LEITORES DO BLOG: 

21/10/08, 18:18 - AINDA PREPARANDO O CAPÍTULO 3 DE HISTÓRIA DA FALA

                        - RELENDO  Bakhtin, e as "NOVAS CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS", de Sigmund Freud

                        - PRIMEIRO ARTIGO DA SÉRIE SOBRE SEXUALIDADE FOI PUBLICADO !

                        - PREPARANDO 2º ARTIGO SOBRE SEXUALIDADE: 

A ESTÉTICA DA NOVA PORNOGRAFIA (texto não restritivo) - A questão estética da pornografia é uma "não-estética", uma anti-estética, mas há um projeto para isso, e uma função ideológica implícita, quer dizer, romper com a estética faz parte de um conjunto complexo de relações sociais.