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terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A Teoria Geral das Forças Produtivas 7 – continuando a produzir o sujeito

No filme Mensagem Para Você, com Tom Hanks e Meg Ryan, o computador faz a mediação de um complicado romance entre os dois, cuja relação se compõe de uma face em que se odeiam, no contato direto, e outra em que se amam, através da troca de mensagens eletrônicas, e todo o roteiro nasce do esforço para resolver os conflitos desses dois vínculos, o real e o virtual, para que ambos saibam no final o que sentem um pelo outro. Este é um pequeno caso ilustrativo da vasta polifonia de que se compõem os sujeitos na atualidade.


Sócrates e o mundo grego foram os primeiros a problematizar o sujeito de modo sistemático, porém o questionamento da subjetividade nasceu junto com o ser humano, é a fonte da formação humana. Nos textos religiosos, nas tradições orais das primeiras comunidades falantes, a busca da identidade, de significados, de valores e de caminhos foi o motor da própria sociedade. Foi isto que criou os vínculos culturais das novas comunidades humanizadas, ressignificando laços que já existiam desde a constituição animal da espécie Homo, como os laços afetivos, instintivos e de poder no grupo, que se verificam em todas as espécies. Abrimos um breve parêntese para dizer que no processo de humanização, no caminho evolutivo da linguagem e portanto da cultura, ocorrem fatos singulares, como o estabelecimento dos laços de parentesco e de regras de convivência, que se iniciam pela instituição do tabu do incesto, respeitado de maneira quase universal entre os homens. Os rituais mágicos, religiosos, os rituais de passagem, tornam mais complexa a convivência humana, e é nesse meio coletivo cultural que se produzem “sujeitos”, e estes surgem de modos e em níveis cada vez mais variados, em tipologias cada vez mais ricas, estabelecendo identidades, características e atitudes consolidadas pelo intercâmbio entre elementos variáveis de grupo para grupo, de época para época, desenhados também pelas formas específicas de cada um desses grupos e sub-grupos, formado nos extremos pela coletividade, pelas relações interpessoais e pelo contato com outros grupos humanos. Entretanto, há de se preservar um núcleo comum e universal de características humanas, secundado por um núcleo um pouco mais abrangente, com um número menor de variações, mas aumentando em variedade quanto mais nos afastamos desse núcleo essencial e nos aproximamos da superfície social, do mundo aparente nas realidades construídas, quando os sujeitos humanos passam a desenvolver a habilidade para desempenhar vários papéis e encarnar várias “personas”, conforme exigem as situações objetivas de seu cotidiano.


Na história da humanidade há períodos de predomínio de determinadas formas subjetivas. Os sujeitos heróicos, os pioneiros, os desbravadores, os realizadores, depois os administradores, os políticos, os articuladores, e há momentos também para os mais imaginativos, os sonhadores, os criadores, e assim por diante. Há os estilos pessoais e de época. Os sujeitos contemporâneos ainda são forjados em grau considerável pela subjetividade romântica da Revolução Francesa, pelo dinamismo ferrenho dos colonizadores, pela laboriosidade incansável da moral protestante, pelo encanto atávico das utopias e pela paixão das doutrinas. Há processos algo distintos de constituição da subjetividade no Ancien Régime (no absolutismo monárquico), durante a Inquisição (Processos da Contra-Reforma da Igreja Católica) ou durante a Guerra Fria (o comunismo e o capitalismo), ou ainda durante o Feudalismo e o Renascimento. Podem ainda ser considerados os ambientes produtivos mais recentes, como a Revolução Industrial e a Globalização, e dentro disso períodos mais compactos, como a década das ideologias, das vanguardas e de surgimento do totalitarismo, no entre guerras, décadas de 20 e 30.


Como isso quisemos evidenciar o fato de que o sujeito, ao contrário do que se pensa, não se forma no território interior do ser, mas sim no exterior. Digamos que o sujeito é justamente a fronteira e a trincheira do ser individual, mas ele é tomado e levado pela cultura que o sustenta. O sujeito é território social e não privado. A pessoa é uma forma de relacionamento e interação pessoal e, portanto, a subjetividade está localizada fora daquela demarcação que naturalmente fazemos pelos limites orgânicos de nosso corpo. Mas mesmo a individualidade biológica já foi reconstituída nesse espaço social da cultura, portanto nada resta daquela concepção subjetiva que se elaborava à parte da sociedade, em um terreno próprio e privado, na sua intimidade singular, nos seus direitos individuais. Todos esses conceitos pessoais na verdade se consolidam no terreno exterior ao que se poderia considerar exclusivo de alguém. Este é um debate que perdurou por séculos e foi uma das discussões mais apaixonadas que se sucederam entre os homens. Contudo, gradativamente, através do estudo dos filósofos e cientistas, e também dos religiosos, dos poetas e artistas, os dados sobre a constituição dos sujeitos foram se multiplicando, assim como os prismas de observação da subjetividade, e também os debates se enriqueceram sobremaneira, com o encontro de inúmeras concepções “em suspensão” nesse espaço interdisciplinar, nesse “interespaço”. Hoje a análise da subjetividade tornou-se sensível às mais variadas influências de produção do sujeito, ou dos sujeitos, e essa área de estudo é que vem ocupar a área mais “nobre” do sistema produtivo, a partir do século 21, especialmente nestas décadas mais próximas, anteriores e posteriores, em que se passa a perseguir de modo mais intenso os modos de inteligência artificial e as culturas avançadas de produção.


Teoria Geral das Forças Produtivas 7

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