Foto da Amazônia (NASA)
A RESSIGNIFICAÇÃO CULTURAL
No antepenúltimo "capítulo" deixamos no ar uma pergunta, sobre qual seria o instrumento faltante, o ganho teórico que seria a chave para o futuro da humanidade. Na verdade não é apenas o advento de um único sistema teórico que poderia realizar a proeza de nos levar ao futuro, mas uma série de processos simultâneos e integrados, sem deixar de seguir paralelamente linhas próprias de desenvolvimento, e que nos levariam a um nível teórico geral mais avançado, em todos os campos da investigação científica. Assim, existe uma correlação íntima entre o mapeamento do DNA humano, as formas de organização das equipes de pesquisa que realizaram esse feito, a tecnologia que usaram, os meios de comunicação de que se valeram e o grau de conhecimento discursivo em que se habilitaram, entre diversos fatores. A tudo isso, entretanto, como se fosse uma grande orquestra tocando uma sinfonia magistral, correpondem alguns aspectos produtivos fundamentais:
1. A interdisciplinaridade;
2. O domínio da polifonia discursiva;
3. O conhecimento sistemático da fala;
4. A geração de redes complexas de interação;
5. O salto tecnológico;
6. A compreensão dialógica do sistema produtivo;
7. O fenômeno da ressignificação.
Os itens 3, 6 e 7 estão sendo desenvolvidos no link ao lado, de História da Fala, estudo este associado ao Projeto Cidades do Futuro, e a mais um outro: a Teoria Geral das Forças Produtivas. Como as universidades e pesquisadores do mundo inteiro podem ver, novos campos muito férteis estão se desdobrando a partir deste pequeno blog, e sem desmatamento. Em breve pretendo traduzi-los para outras línguas e divulgá-los para a comunidade internacional. Mas se querem o Brasil como pólo desses estudos, que então me proponham formas de sediar esses projetos e formar equipes de pesquisa. Senão irá tudo para os simpáticos gringos, que adoram cientistas brasileiros. Nós, pelo jeito, não gostamos muito dos nossos "cérebros" mais preparados.
A ressignificação é uma perspectiva dialógica de um fenômeno que ocorre muito raramente, em décadas, séculos ou milênios, e que transforma toda a percepção do universo, "muda tudo" na compreensão que se tem da vida humana ou outra, de suas formas, e isto altera completamente os contextos em que tudo e todos estão inseridos. Vem novamente da concepção einsteiniana-bakhtiniana do "cronotopo", no estudo discursivo a expressão da continuidade espaço-temporal proposta pela Teoria da Reltavidade, ela mesma! Foi do texto de Einstein que Bakhtin tirou uma de suas idéias revolucionárias sobre os processos da linguagem, especificamente, o estudo da fala, ou dialogia, ou dialogismo. Mas percebam que dialogia não é uma elaboração que diz respeito apenas à palavra raiz, o "diálogo".
Bakhtin depois amplia bastante essa noção, mostrando que o dialógico é o desdobramento da lógica "monológica", e esta observação "dialógica" implica várias mudanças de percepção da realidade. Nessas categorias ele sistematiza valores como a alteridade dialógica, o caráter inacabado da subjetividade e da própria linguagem, a ubiquidade da palavra, o caráter fundador do ser pela enunciação (pela interação verbal), o valor "vivo" da "significação", em vez do simples "significado" (expresso nos dicionários, por exemplo), o caráter único de cada situação dialógica, a polifonia e o discurso interior, e segue adiante... Sem esse conhecimento formal do processo "interno" do diálogo, não teria sido possível desenvolver a interdisciplinaridade tão profundamente quanto está hoje. E vários outros impactos, como enumerados acima. A maior ressignificação foi o surgimento das culturas faladas, a própria humanização do "bicho" homem, com o "aparecimento" da fala. O corpo deixou de ser o corpo puro e simples, objeto da natureza, para ser um corpo "ressignificado" pela consciência humana, isto é, compreendido por ela, elaborado por sua experiência cultural, através do processo discursivo. Deixou de ser um dado a mais do cenário natural, para ser objeto da fala de alguém, de um sujeito constituído no espaço comunitário, fundamentalmente pelo sistema lingüístico dessa comunidade (de falantes). Foi aí que nasceu o "ser humano", e esta foi uma ressignificação, através da inteligência de seres falantes, que, em última análise, é uma forma de trabalho, de produção e transformação do mundo.
O post já está muito grande. Depois continuo, com a Teoria Geral das Forças Produtivas e seu corolário, as redes complexas de interação.
Projeto Cidades do Futuro 6
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