Depois de acompanhar a super-terça pelos blogs do Azenha e de Idelber Avelar (O Biscoito fino e a Massa), e também as análises do Blog do Nassif, as primeiras impressões dessas eleições americanas são de que elas podem estar iniciando uma fase de grande renovação americana e mundial. A história do século XXI pode estar começando agora.Os 6 meses que passei nos EUA, aos 15 anos, tiveram importância inestimável em minha formação cultural e política. Talvez fosse novo demais, mas justamente por isso pude ser observador privilegiado de histórias sem igual. Sei como eram os americanos no auge de seus conflitos internos. Conheci e acompanhei de perto as comunidades da contracultura, os hippies, os rebeldes sem causa, os desajustados, e também as “cheerleaders” e os “capitães” de time; os soldados veteranos do Vietnã, as famílias de classe média apoiadoras do “sonho americano”, e vários aspectos do American Way of Life. Mesmo o mundo cosmopolita convivendo com o provinciano, a presença massiva de estrangeiros do mundo todo, e isto durante o Watergate, a guerra do Vietnã, o movimento hippie e várias outras atividades e comunidades multicores. Uma verdadeira festa da civilização, no auge de Detroit como a capital mundial do automóvel. Setenta e três (1973) também foi o ano em que eclodiu a grande Crise do Petróleo, outro fato que alterou a história do mundo.
Depois disso, várias águas passaram e repassaram pelo país, mas nunca mais houve uma efervescência cultural tão grande. Talvez este tenha sido o último ano das grandes revoluções culturais do século XX. Aí vieram os direitos humanos de Carter (importante para a redemocratização da América Latina), a vitoriosa “guerra santa” de Reagan e Thatcher contra a URSS e o fim da Guerra Fria, em meio a quase duas décadas de recessão mundial e a ascensão dos EUA como única superpotência, e um novo florescimento americano, com Bill Clinton. E depois vieram os 8 anos de Bush filho. E agora chegou o senador Obama, que conseguiu trazer até os kennedy de volta ao primeiro plano político.
Mesmo que não seja o candidato democrata, e não vença as eleições para a Presidência da República dos EUA, não tenho visto nada de igual acontecer na grande nação americana, desde aqueles áureos tempos, como movimento de renovação política e cultural. Hillary, por ser mulher, poderia fazer parte desse fenômeno, mas optou por uma plataforma ajustada demais ao sistema saturado, segundo se manifesta a sociedade americana, e cometeu um erro político grave nessa escolha. Querem Obama porque querem o novo, e quando os americanos querem o novo, isto é uma grande novidade para o mundo! Ë sinal de que os novos tempos realmente se avizinham.
Assiste-se a uma autêntica reviravolta do comportamento dos eleitores, dos valores que o público tem de seu país. Os americanos são muito pragmáticos, de uma “boa escola” pragmática, não igual ao “pragmatismo” brasileiro. Tem base no individualismo existencial liberal e construtivo que construíu o sonho americano. Eles não se demoram muito em análises. Eles agem. Tomam decisões rápidas, e não têm medo do novo, quando chega a hora. Erguem-se de suas trincheiras e lançam-se em campo aberto, contra qualquer adversário. E isto é bonito de se ver, quando estão “do lado certo”, e, neste caso, estão ao lado de seu próprio país.
Mesmo que Hillary ou Mccain acabem vencendo, alguma coisa mudou na sociedade americana, e isto terá grande impacto sobre o mundo. Desta vez, impactos positivos.
Comment Azenha 4 , Avelar 1, Nassif 9
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