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Citação de Bakhtin::

A VIDA COMEÇA QUANDO UMA FALA ENCONTRA A OUTRA

 

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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

A Teoria Geral das Forças Produtivas 9 - Uma vida plena e simples, um sujeito tranqüilo e produtivo, todos em busca de maior aperfeiçoamento

Oslo, capital da Noruega. A Escandinávia tem sido nas últimas décadas um exemplo busca das culturas avançadas, ao mesmo tempo tem procurado conquistar avanços produtivos sem perder a frugalidade e sem cair na ostentação dos sonhos consumistas.


Continuamos a estudar o contexto da globalização econômica no século 21, analisando as novas formas de produção da subjetividade – e da cidadania nas culturas avançadas. É preciso ter em vista que “subjetividade” neste caso não se refere mais ao espaço interior dos indivíduos, apenas, já que a individualidade passa a ser concebida nos campos de interatividade social, mas se constrói a partir de seus posicionamentos, das suas próprias formas de “produção” em sentido amplo, seu trabalho e a formação de sua personalidade.


A vida tende a ser mais simples e mais plena de recursos, e muito mais organizada. Permanecem as divisões sociais, as classes mais abastadas e as menos abastadas, mas isto agora adquire um novo significado simbólico: é fruto da escolha pessoal e não de um esquema de dominação social. Essa situação “representa” uma opção por maior fruição material, em alguns casos; em outros, é resultado de uma atuação destacada em seu trabalho; pode ser também uma continuidade histórica familiar, a manutenção de um status familiar, mas, em todos esses casos, a diferença sócio-econômica não se faz mais às custas de relações sociais degradadas, mantidas por sistemas de alienação e de opressão. Pode-se ver algo parecido com isso nas culturas hindus. Centenas de milhões de pessoas na Índia não fazem uma escolha pela riqueza, mas pelo despojamento material, e vivem uma vida de meditação, alguns se tornam ascetas, mesmo com todo estímulo oficial feito para criar um comportamento mais formal nos mercados. O caso, entretanto, é que está na natureza humana que uma parcela grande da população, a sua parte majoritária, não queira assumir grandes compromissos com o enriquecimento pessoal e com o poder. Eles preferem conscientemente a vida mais simples. Este é um dado fundamental para a projeção das sociedades do futuro.


A plenitude de recursos nascerá do conhecimento e do saber. Uma família comum brasileira, terá ambições sobretudo para desenvolver seu estilo e seus talentos, mas não desejará prioritariamente ser rica e influente. Terá uma casa simples, mas funcional, com todas as necessidades básicas providas. Os salários poderão não ser grande coisa, mas seus membros terão acesso a clubes e escolas muito especiais, e a diversas confrarias e eventos. Além disso, terão o mundo digital instalado em sua casa, e isto abre um campo de possibilidades infinitas. Terá piscinas à sua disposição, exibição de filmes, transportes e bens culturais acessíveis, lembrem o artigo anterior, em que os preços deverão baixar muito neste século. Mas, e os ricos? Estes terão acesso a um outro nível de consumo, bem maior que o atual, não devem ficar preocupados. O essencial é perceber que não há mais qualquer espaço racional, legal ou de legitimidade para a pobreza, a miséria e os abusos, e isto se deverá também às novas pressões democráticas. A política será a área mais pressionada pelas mudanças estruturais da economia. Os direitos terão garantias muito mais fortes, como efeito da educação mais forte e da coesão maior da população. É a partir disso que os grupos políticos devem começar a preparar suas plataformas eleitorais e seus projetos de governo, para as próximas décadas. As políticas públicas deverão cuidar especialmente dos bairros populares, para que eles se desenvolvam totalmente e se reurbanizem de forma cada vez mais aperfeiçoada. Essas propostas é que comporão os principais vetores políticos do século 21.


Teoria Geral das Forças Produtivas 9




quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A Teoria Geral das Forças Produtivas 8 – Mais alguns aspectos da subjetividade produtiva no século 21

Rua de Shanghai, a maior cidade da China


O diálogo terá um papel muito mais importante do que tem hoje na produção de riquezas. O núcleo das necessidades básicas sofrerá alterações sensíveis de prioridade. Será muito mais fácil manter um estoque suficiente de alimentos para as populações, e implantar sistemas de distribuição muito mais eficazes, tanto para as classes mais abastadas quanto para as mais necessitadas. A assistência social e os programas emergenciais vieram para ficar, como já estão avaliando os diversos organismos internacionais mais conceituados, a ONU, o Banco Mundial e os institutos econômicos da União Européia. Programas como o Bolsa Família serão adotados como modelo sustentável não somente do tecido social como do próprio sistema econômico, e isto quer dizer que mesmo as famílias cujos salários são muito baixos, terão acesso cada vez mais facilitado a redes solidárias de abastecimento e atendimentos diversos, como casa, comida, roupa, educação e formação profissional.


Todos os embriões desses programas já existem há décadas, mas o que está mudando é a percepção dos benefícios que essa rede pode trazer a todos os níveis da produção. A tecnologia e os modos de gestão facilitarão bastante a instalação dessa rede mundial de suporte e apoio às comunidades carentes, e também aos casos individuais que ocorrerem. Nos outros níveis sócio-econômicos, os problemas tendem a ser bem menores, e em toda a esfera social, incluindo todas as faixas de renda familiar, os produtos oferecidos serão abundantes, os preços tendem a decrescer muito nas próximas décadas, e esta é uma tendência que se manterá pela atuação dos fatores Índia e China, quase metade da humanidade, vivendo com pequenos gastos de consumo, com necessidades bem menores de salário, por questões estruturais de suas culturas, e com acesso garantido à educação. Notem que isto “tem de ser assim”. Não existiriam recursos naturais disponíveis no planeta, nem o ecossistema suportaria o impacto de China e Índia consumindo em níveis da América do Norte, da Europa Ocidental ou do Japão e Austrália, quer dizer, essa alternativa produtiva de baixo consumo de supérfluos e de relativo desprendimento do acúmulo financeiro é uma necessidade global. Uma equação complicada para culturas como a brasileira entenderem, mas é assim mesmo que a balança está pendendo.


A riqueza, contudo, será maior, por causa do avanço técnico e cultural. A consciência dos cidadãos, seu nível de formação e informação será muito maior que o atual. Quer dizer que a informação será riqueza, o diálogo será riqueza, e serão formas referenciais de riqueza por uma questão bem objetiva: são essas operações simbólicas que estabelecem os valores e significados culturais, que fazem a “apreciação” das coisas e das pessoas, e esse núcleo simbólico é que responderá pelo maior coeficiente dos “valores agregados” das redes produtivas. É algo muito próximo, não coincidente, com o que diz Domenico De Masi, nas suas idéias sobre o “ócio criativo”, especialmente quando ele discorre sobre uma nova era em que o cidadão terá de compreender a beleza de sua cultura (os valores de sua cultura), ao que equivale dizer, serão essas instâncias dialógicas em atividade permanente, 24 horas por dia, em dimensão planetária, que irão formulando os valores das coisas, influenciando os preços pela compreensão de todo o funcionamento do mundo, pela análise das necessidades reais, por diversas perspectivas da cultura sustentável, já que bilhões de pessoas estarão integradas a sistemas avançados de produção, em números crescentes, produzindo cada vez mais. Se não houvesse essa análise constante, esses novos jogos de mercado, esses novos conflitos distributivos, começando pelas concorrências internacionais e pelos salários de China e Índia, apenas os modos tradicionais de mercado, de análise de investimentos, de preço e de custos seriam incapazes de manter qualquer equilíbrio, e levariam toda a economia mundial a desastres muito maiores que os da Grande Depressão de 1929.


Comunidades com preparo produtivo muito mais alto deverão especular diariamente o quadro de oferta e demanda, e a escala de prioridades – como já fazem em tese as Bolsas que trabalham com cotações futuras. Serão sistemas muito mais sofisticados, de altíssima sensibilidade, que deverão regular a efetividade produtiva em todo o mundo.


Por isso não vejo que o mundo do futuro tenha essa utopia da “liberação do trabalho”, pelo uso das máquinas, e uma cultura em que as pessoas possam ficar viajando e se divertindo pelo mundo sem grandes preocupações, é nesse ponto que discordo um pouco de outras projeções “futuristas”, também porque essas projeções simplesmente "futuristas" não teriam grande valor no debate atual, então não haveria também muito sentido em se falar sobre elas. Tornam-se importantes se puderem influenciar as tarefas e os modos produtivos que operam hoje no mundo. Então não são gratuitamente “futuristas”, mas apenas reconhecem os novos modos de produção sendo gestados, nesta época de grandes transições culturais. As pessoas poderão viajar enquanto trabalham, certamente, não ficarão fixas em lugares pré-determinados, isto também será freqüente, mas haverá inúmeros desafios, enormes responsabilidades, experiências sofisticadíssimas, trabalhos muito avançados, que deverão exigir grande concentração de esforços, e novos problemas bastante complexos deverão surgir. Vejo isso de modo “construtivo”: haverá trabalho para todos, campos de trabalho mais adequados às vocações de cada um, sistemas de trabalho mais “amigáveis” e mais produtivos, sistemas de apoio bastante especializados, oportunidades para desenvolver diversas habilidades, e isto deverá realmente produzir uma nova era para a humanidade, que poderá ser mais “humana”, mais “humanizada”, dando um passo mais em sua trajetória evolutiva, o que quer dizer, a preservação da espécie.


Teoria Geral das Forças Produtivas 8

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A Teoria Geral das Forças Produtivas 7 – continuando a produzir o sujeito

No filme Mensagem Para Você, com Tom Hanks e Meg Ryan, o computador faz a mediação de um complicado romance entre os dois, cuja relação se compõe de uma face em que se odeiam, no contato direto, e outra em que se amam, através da troca de mensagens eletrônicas, e todo o roteiro nasce do esforço para resolver os conflitos desses dois vínculos, o real e o virtual, para que ambos saibam no final o que sentem um pelo outro. Este é um pequeno caso ilustrativo da vasta polifonia de que se compõem os sujeitos na atualidade.


Sócrates e o mundo grego foram os primeiros a problematizar o sujeito de modo sistemático, porém o questionamento da subjetividade nasceu junto com o ser humano, é a fonte da formação humana. Nos textos religiosos, nas tradições orais das primeiras comunidades falantes, a busca da identidade, de significados, de valores e de caminhos foi o motor da própria sociedade. Foi isto que criou os vínculos culturais das novas comunidades humanizadas, ressignificando laços que já existiam desde a constituição animal da espécie Homo, como os laços afetivos, instintivos e de poder no grupo, que se verificam em todas as espécies. Abrimos um breve parêntese para dizer que no processo de humanização, no caminho evolutivo da linguagem e portanto da cultura, ocorrem fatos singulares, como o estabelecimento dos laços de parentesco e de regras de convivência, que se iniciam pela instituição do tabu do incesto, respeitado de maneira quase universal entre os homens. Os rituais mágicos, religiosos, os rituais de passagem, tornam mais complexa a convivência humana, e é nesse meio coletivo cultural que se produzem “sujeitos”, e estes surgem de modos e em níveis cada vez mais variados, em tipologias cada vez mais ricas, estabelecendo identidades, características e atitudes consolidadas pelo intercâmbio entre elementos variáveis de grupo para grupo, de época para época, desenhados também pelas formas específicas de cada um desses grupos e sub-grupos, formado nos extremos pela coletividade, pelas relações interpessoais e pelo contato com outros grupos humanos. Entretanto, há de se preservar um núcleo comum e universal de características humanas, secundado por um núcleo um pouco mais abrangente, com um número menor de variações, mas aumentando em variedade quanto mais nos afastamos desse núcleo essencial e nos aproximamos da superfície social, do mundo aparente nas realidades construídas, quando os sujeitos humanos passam a desenvolver a habilidade para desempenhar vários papéis e encarnar várias “personas”, conforme exigem as situações objetivas de seu cotidiano.


Na história da humanidade há períodos de predomínio de determinadas formas subjetivas. Os sujeitos heróicos, os pioneiros, os desbravadores, os realizadores, depois os administradores, os políticos, os articuladores, e há momentos também para os mais imaginativos, os sonhadores, os criadores, e assim por diante. Há os estilos pessoais e de época. Os sujeitos contemporâneos ainda são forjados em grau considerável pela subjetividade romântica da Revolução Francesa, pelo dinamismo ferrenho dos colonizadores, pela laboriosidade incansável da moral protestante, pelo encanto atávico das utopias e pela paixão das doutrinas. Há processos algo distintos de constituição da subjetividade no Ancien Régime (no absolutismo monárquico), durante a Inquisição (Processos da Contra-Reforma da Igreja Católica) ou durante a Guerra Fria (o comunismo e o capitalismo), ou ainda durante o Feudalismo e o Renascimento. Podem ainda ser considerados os ambientes produtivos mais recentes, como a Revolução Industrial e a Globalização, e dentro disso períodos mais compactos, como a década das ideologias, das vanguardas e de surgimento do totalitarismo, no entre guerras, décadas de 20 e 30.


Como isso quisemos evidenciar o fato de que o sujeito, ao contrário do que se pensa, não se forma no território interior do ser, mas sim no exterior. Digamos que o sujeito é justamente a fronteira e a trincheira do ser individual, mas ele é tomado e levado pela cultura que o sustenta. O sujeito é território social e não privado. A pessoa é uma forma de relacionamento e interação pessoal e, portanto, a subjetividade está localizada fora daquela demarcação que naturalmente fazemos pelos limites orgânicos de nosso corpo. Mas mesmo a individualidade biológica já foi reconstituída nesse espaço social da cultura, portanto nada resta daquela concepção subjetiva que se elaborava à parte da sociedade, em um terreno próprio e privado, na sua intimidade singular, nos seus direitos individuais. Todos esses conceitos pessoais na verdade se consolidam no terreno exterior ao que se poderia considerar exclusivo de alguém. Este é um debate que perdurou por séculos e foi uma das discussões mais apaixonadas que se sucederam entre os homens. Contudo, gradativamente, através do estudo dos filósofos e cientistas, e também dos religiosos, dos poetas e artistas, os dados sobre a constituição dos sujeitos foram se multiplicando, assim como os prismas de observação da subjetividade, e também os debates se enriqueceram sobremaneira, com o encontro de inúmeras concepções “em suspensão” nesse espaço interdisciplinar, nesse “interespaço”. Hoje a análise da subjetividade tornou-se sensível às mais variadas influências de produção do sujeito, ou dos sujeitos, e essa área de estudo é que vem ocupar a área mais “nobre” do sistema produtivo, a partir do século 21, especialmente nestas décadas mais próximas, anteriores e posteriores, em que se passa a perseguir de modo mais intenso os modos de inteligência artificial e as culturas avançadas de produção.


Teoria Geral das Forças Produtivas 7

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A Teoria Geral das Forças Produtivas 6 - A criação do sujeito pelo diálogo

O ser-humano é filho da habilidade de representação nascida das primeiras linguagens, depois ressignificada pelos signos verbais, isto é, o desenvolvimento da fala e dos sistemas lingüísticos.


primeira revisão em 25.02.08

Como se teria acendido a chama evolutiva no Homem? Certa espécie de primatas destacou-se da comunidade animal e passou por uma série de transformações prodigiosas, o processo de humanização do “bicho” homem. E quais seriam os vestígios dessa história evolutiva? Como poderíamos saber o que se passou nesse longo período de formação do ser humano? O que poderia ser formulado a esse respeito e também poderia ser pelo menos parcialmente comprovado? Será que há hoje evidências vivas ou fósseis desse caminho das espécies, até agora percorrido apenas pelos humanos (pelo menos nessa forma do desenvolvimento da consciência) ?


Há atualmente na Amazônia uma espécie de macacos, um “macaquinho”, de pequeno porte - o macaco-prego (Cebus apella), de 60 cm de altura e 3 quilos de peso (*), que desenvolveu a habilidade de usar uma pedra para quebrar a casca de uma castanha de que se alimenta e gosta muito. Ele vasculha a selva até encontrar um “instrumento” adequado para sua “tarefa”. Segundo suas “necessidades básicas”, essa espécie aprendeu uma “técnica nova” e flexível. Não é o mesmo caso do joão-de-barro construindo seu ninho, mas algo que depende do aumento da habilidade manual e do equilíbrio na posição ereta, e também é produto da escolha, tanto do alimento quanto da ferramenta que emprega. Mais do que uma adaptação “natural”, este está sendo um genuíno aprendizado evolutivo, ou seja, o comportamento desses espécimes está mudando segundo novas formas culturais de seu grupo. Os primatas humanos certamente passaram por aí. Mas quais poderiam ter sido os passos seguintes?


Algo como o aperfeiçoamento dos instrumentos e a procura de novos instrumentos para novas tarefas, ao longo de milênios. Próximo passo, o desenvolvimento da habilidade para modificar essas ferramentas básicas. As pedras lascadas, as pedras polidas, até evoluir para a manufatura rudimentar, esculpindo ossos de animais e criando novos objetos, em que se incluem as primeiras vestes, peles de animais protegendo-os do rigor do clima. Nasce o trabalho humano e assim começam as experiências, talvez “estudando” o fogo, fazendo misturas, jogando tudo nas fogueiras e vendo o que resulta. Mas pulamos um passo, qual seria? Esquecemos de dizer como teria passado o primata para a condição humana.


Enquanto os primatas humanos usaram os instrumentos para tarefas “objetivas” , como o macaquinho da Amazônia hoje usa as pedras, houve um desenvolvimento da inteligência cerebral e várias mudanças ocorreram no passar dos milênios, mas isto não foi suficiente. Foi preciso surgir uma nova categoria de desenvolvimento, que fosse além dessa objetividade básica, para que nascesse o sujeito de sua história, o produtor de cultura, a subjetividade humana. Existe uma alteração simbólica que poderia responder por esse passo “gigantesco”, muito maior que o de Neil Armstrong, quando deu seu primeiro passo na superfície lunar.


Quando o trabalho humano deixou de apenas cuidar dos instrumentos voltados “para fora”, colhendo alimentos ou se defendendo do ataque de outras espécies, e usando-os nas brigas internas de seu grupo, e passou a fazer objetos de ornamentação e pinturas do corpo, eis o ponto de mutação. Para que a atividade dos primatas se voltasse “para si mesmos”, seria essencial que já houvesse uma subjetividade, certo grau de consciência, demarcando a identidade de cada um dos membros do grupo, através de um trabalho complementar à natureza. O que seria essa construção de objetos e essa ornamentação? A expressão de uma linguagem-protótipo. Mas, para haver linguagem, o que é preciso ocorrer? Os indivíduos precisam se posicionar como sujeitos e estabelecer trocas de significados e de valores, o material semiótico-ideológico, a interação social simbólica, a representação como instrumento da inteligência, e esta é a categoria que levou ao desenvolvimento da consciência e a um grau de grande complexidade cerebral, também através dos milênios, alterando a herança genética e o aparelho fonador, junto com todas as mudanças corporais que aconteceram, até se chegar no Homo sapiens sapiens. Este foi provavelmente o caminho histórico mais geral do surgimento do ser humano e da constituição dos primeiros sujeitos produtivos da cultura humana. Já se encontraram vestígios de objetos que teriam sido usados na ornamentação do corpo, que datam de 70 a 200 mil anos atrás (intervalo de incerteza que não significa muito tempo na gestação de uma espécie, proporcional talvez a apenas alguns anos de vida individual), essa é a datação mais remota até agora, e isto é citado apenas para se ter uma idéia, certa localização no tempo, ainda que precária. Essas informações estão sujeitas a confirmação, mas o importante é compreender o processo que foi descrito, pois parte dele opera ainda hoje nos processos produtivos.


(*) Ver revista da Fapesp a esse respeito:
http://www.revistapesquisa.fapesp.br/?art=3226&bd=1&pg=1&lg=


Teoria Geral das Forças Produtivas 6

domingo, 24 de fevereiro de 2008

A Teoria Geral das Forças Produtivas 5 – O novo agente produtivo central

A OBJETIVIDADE DA NOVA "SUBJETIVIDADE PRODUTIVA"


revisado em 25.02.08

De modo bem gradativo iremos desvendando a partir de agora o núcleo dinâmico da TGFP. Já mostramos resumidamente como pode caminhar a palavra por vias intelectuais ou físicas, durante a produção de um piano, ao mesmo tempo em que esta palavra é usada para seus fins lingüísticos. Estudos bastante extensos poderiam ser feitos, analisando a trajetória das palavras ou do discurso em ambientes produtivos específicos. Agora é preciso constituir os agentes da produção de riquezas, mantendo-se a visão ampla da riqueza como bem resultante do trabalho humano, não se restringindo, portanto, à Economia formal de empresas materialmente constituídas, independente de sua situação fiscal, quer dizer, legais ou “piratas”. Desta forma, a cultura produz riquezas, mesmo as que não têm valor imediato de mercadoria. E isto não é arbitrário, mas segue a orientação das tendências econômicas atuais, de compreenderem a própria instituição social (a sociedade humana) como sendo a riqueza central, neste estágio avançado das forças produtivas.

Os agentes comuns não são eliminados, mas deslocados do centro produtivo. Os recursos naturais, o capital financeiro de investimento e custeio, as matérias-primas, os recursos humanos e tecnológicos, obviamente continuam a figurar como fator produtivo, contudo, sua organização será transformada, ao que equivale dizer, o modo de produção e seus sistemas serão alterados. No centro das forças produtivas passa a figurar como agente o “sujeito”. Mais especificamente, o “sujeito da produção”, ou “de uma produção”, pois cada processo tem sua singularidade. Ë fundamental estudar a constituição desse sujeito produtivo, o elemento, fator ou aspecto central a tomar a iniciativa de uma fase ou processo integral na produção, aquele elemento sistêmico que chama para si e organiza o conjunto de tarefas em sua posição na rede produtiva, e isto inclui tanto funções específicas e técnicas, quanto as mais gerais e administrativas, e ainda as de inovação, aperfeiçoamento e estudo.


Se as riquezas passam a ser civilizatórias, e a sociedade passa a ser “a riqueza em si”, então ela tanto é a produtora de diversos bens e serviços (na cultura simbólica, ela também é a “apreciadora”, isto é, a que “reconhece” o valor não só da produção quanto dos recursos naturais), quanto também se autoproduz (não é a mesma coisa que “reprodução”, pois neste caso há um sentido mais repetitivo e conservador, em vez de ser mais original e criativo). Mais do que isso, ela se torna o objeto mais importante de todo sistema produtivo. Além de objeto do trabalho individual e coletivo, ela é também o “sistema”.


Nessas novas formas econômicas, sistematizadas pelo conhecimento, administra-se uma rede de comunidades capazes de manter uma produção constante de conhecimento, este é o bem primário. Quer dizer que as coisas mais triviais do espaço doméstico, antes ignoradas, passam a ter função e valor produtivo formal. A própria casa passa a dividir espaço com as funções produtivas, e com as estritamente profissionais, e nela podem estar instalados terminais produtivos bem mais complexos que os antigos “escritórios” e “fundos de quintal”. As atividades comuns dos cidadãos passam a ser apreciáveis no andamento direto da economia, passam a ter significância produtiva, na formação dos novos ambientes produtivos. Contudo, o cidadão, além de agente, passa a ser igualmente a riqueza “por excelência”, pois uma população bem formada para seu sistema produtivo, na sociedade tecnológica e democrática (fundamental a democracia, para que não prevaleça o totalitarismo tecnológico, aí sim convertendo pessoas em pura engrenagem), passa a ser o “bem primário”, o fator produtivo central da economia. Quer dizer que não é mais o capital financeiro (por si só pouco poderá fazer), nem a tecnologia necessária (que pode se tornar obsoleta em poucos meses, em 2 ou 3 anos), nem o acesso garantido às matérias primas e insumos indispensáveis, que por si só têm seu valor relativizado e não são garantia nem da produção, nem da viabilidade comercial. Mas, se equipes de produção bastante flexíveis e integradas em redes produtivas de altíssima qualidade puderem ser mantidas, então a economia irá bem, e saberá integrar-se aos quadros produtivos que se desenharem. Vejam que a China construiu em parte o seu gigantesco potencial produtivo atual seguindo em parte essa metodologia. Digamos que ela tangenciou a TGFP e está conseguindo integrar mais de 1 bilhão de pessoas ao mundo globalizado, sem ser mais tão dependente dos recursos financeiros para tudo, mas focalizando bastante os aspectos culturais e uma idéia da "cidadania como trabalho", que atuou bastante na industrialização americana e japonesa. Logicamente são "exemplos impróprios", já que os outros fatores pouco têm em comum com estas propostas.


Indispensável complementar que são indissociáveis a subjetividade econômica e a cultura produtiva (as condições produtivas) que a constitui. Isto quer dizer que ela não é "algo individual", mas o sujeito como tecido social organizado para o trabalho. Sobretudo, o sujeito da produção como agente primário das riquezas é a "posição produtiva" de alguém capaz de observar de modo discursivo os seus processos de consciência como "algo produzido em comunidade", segundo determinadas situações materiais, culturais e dialógicas. Nos textos seguintes, procuraremos detalhar melhor essas formas constitutivas. Vale acrescentar também que, nesse novo modo produtivo, sujeito e cultura atuam juntos, ambos formam o agente produtivo central.


Teoria Geral das Forças Produtivas 5

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

A Teoria Geral das Forças Produtivas 4 – O universo unitário, o dialógico e o digital

De tempos em tempos a lógica do mundo é quebrada por um novo conhecimento. Galileu obrigou a civilização a pensar nas coisas tendo o Sol no centro do Sistema Solar e não mais a Terra. Freud nos fez ver que há uma força inconsciente e irracional na mente humana, capaz de dominar todo o nosso ser. Na época atual, essas rupturas não cessaram, elas aumentaram, mas o Homem se acostumou com elas. Será? Vejamos então mais um brevíssimo comentário, concernente ao título acima.


Quando pesquisava a idéia de uma rede dialética, antes de conhecer os textos de Bakhtin, cheguei a construir uma argumentação de que a unidade não existe como essência do mundo real. Ela existe já como um conjunto, como unicidade, coerência, integração ou outra relação recíproca de vários elementos.


Esta é, aliás, a essência da materialidade. Toda a substância do universo é feita basicamente de uma matéria ambígua, a dualidade luz-partícula, isto é, os menores registros conhecidos da existência, que nas experiências científicas comportam-se ora como partícula, ora como luz. Isto confirma que toda matéria encontrada na natureza tem a propriedade de se dividir, de se ramificar ou pelo menos de se desdobrar, como no caso da singularidade empírica encontrada: a unidade no cosmos já é um ser pelo menos binário, quer dizer, composto. Tudo que existe nasce da composição e do desdobramento, mesmo nos seres vivos, como é o caso das divisões celulares ou da reprodução e preservação das espécies.


Tanto a palavra “dialógico” quanto o “digital” começam pelo prefixo grego “di”, que designa a duplicidade, mas isto não representa simplesmente aquilo que é duplo e se refere ao número 2. Neste caso, essas palavras contêm precisamente a idéia de algo que se torna plural, “pelo menos dois”, e se multiplica indefinidamente. Algo que não é e não permanece “uno”, mas mantém associações e relações plurais, formando uma "unidade" em certos casos. A natureza é formada por uma essência complexa, propagando-se em várias direções não lineares. O linear é que é um conceito abstrato, um esquema construído pela racionalidade do pensamento, como foi provado por Einstein. Curioso que ele veio ao Brasil em 1919, para comprovar essa parte da Teoria da Relatividade (provar a curvatura do universo, através da observação de um eclipse solar, em Sobral, no Ceará). As retas passaram a ser então aproximações, um segmento do que é no universo real uma curva. Não obstante, em nossa dimensão “newtoniana”, de referenciais mais próximos e absolutos, calculamos, conceituamos e construímos as retas.


Já as “definições” do dialógico e do digital são mais complicadas de exemplificar, que a quebra da linearidade. Primeiro, por haver certo grau de incerteza em tudo (Heisenberg), depois, pela Relatividade einsteiniana, e em seguida, pela ambigüidade da substância universal, que se seguiu ao estudo da Mecânica Quântica de Planck. Toda essa natureza complexa está presente na informação digital e nos sistemas lingüísticos. Foi isso que estudaram Foucault, Pêcheux e Bakhtin, entre outros. O inacabado, o que não é óbvio, o referente de um sujeito diante do outro (a alteridade), os jogos de significação, os conflitos ideológicos, a construção dos temas, gêneros e contextos, as imagens e efeitos discursivos, tudo isso segue direitinho os princípios básicos de tudo que encontramos no Cosmos. E isto muda a idéia central da realidade, altera a compreensão dos sistemas, transforma as estruturas do pensamento, tanto quanto fez o heliocentrismo de Galileu.


A expressão digital das coisas mostra bem o que é flexibilidade “daquilo que se desdobra”. Tudo o que vemos ou fazemos nos computadores, e hoje isto é muita coisa, se pensarmos em equipamentos de navios, aviões, automóveis, ou nas delicadas operações cirúrgicas, e mais os textos, as imagens, os sons, as músicas, os simuladores e games, toda a linguagem digital, para os computadores, para a máquina, tem apenas dois códigos básicos, o zero e o um, ativando ou bloqueando o processamento nos “chips”. A enorme diversidade digital nasce de uma combinação de zeros e uns, mas que vão se multiplicando e se desdobrando infinitamente.


O dialógico opera por elementos semelhantes, embora a “base de dados” seja infinitamente mais complexa, o corpo humano, o ser humano, a cultura das sociedades e a própria consciência. Mas poderíamos apoiar toda essa existência humana em uma base elementar parecida com o processamento dos “chips”: a linguagem. A ela corresponde o mesmo processamento de trabalho que nas máquinas se faz pelo sistema digital. Esta é a correspondência sistêmica e estrutural que se poderia estabelecer entre o dialógico e o digital. A combinação dessas duas linguagens, entretanto, quebrou a lógica anterior em um nível cultural bastante avançado, abrindo perspectivas de um novo "desconhecido" para a humanidade, a partir do século 21, da mesma forma que o trabalho de Galileu levou às Grandes Navegações no século 15, e levaram Colombo a cruzar o Atlântico. Um dos grandes avanços para o qual o mundo está se preparando é a era dos robôs, uma combinação dos dois grandes sistemas comentados aqui. Outro exemplo é o sequenciamento do DNA humano e o desenvolvimento da engenharia genética. Outro dado é a expansão da Internet nas atividades domésticas e cotidianas.


Passamos a viver no mundo digital e dialógico uma dimensão capaz de resgatar e potencializar cada uma das rupturas lógicas ocorridas em outras épocas históricas, o antes e o depois, como se fôssemos capazes de hoje viver vários tempos em um só, e de ainda projetar tempos futuros, nas formas culturais que deverão se desenvolver nesse novo ambiente produtivo. Esses são os referenciais da complexidade. Uma era de grandes avanços, mas que exige enorme responsabilidade, pois os riscos também aumentam muito.


Teoria Geral das Forças Produtivas 4

Cidades do Futuro 16 – A Economia digital

A Era Digital é o Futuro, cada vez mais presente


A realização do Campus Party no Brasil intensificou as evidências de que novas formas de produção e de trocas simbólicas deverão ocupar espaços cada vez maiores na cultura e no trabalho, portanto, têm grandes implicações políticas e comerciais. Entre as grandes trocas simbólicas que sustentam os nossos modos de vida estão a linguagem, o dinheiro, o prestígio, a informação e o conhecimento. São formas abundantes, valorizadas e codificadas, que permitem as trocas humanas constitutivas do tecido social. A lei seria mais um código essencial ao convívio humano, as escritas e as não escritas.


A multiplicação dos computadores, entretanto, deverá ressignificar (*) boa parte desses valores e atividades. A migração massiva da organização dos modos de vida para organismos telemáticos, e brevemente também cibernéticos, faz-se com grande rapidez histórica, esta que já tinha se acostumado aos grandes prazos, e agora “engasga” com tantas pequenas revoluções tecnológicas de grande impacto social, acontecendo diariamente. As ruas e a mídia deixarão de ter significado, se não forem certificadas pelo espaço digital. Isto já acontece em grau considerável. Recorre-se à Internet para confirmar os dados, mesmo que também se faça o oposto, ou seja, é preciso fazer uma confirmação “analógica” do material digital. Mas a rede mundial não pode mais ficar de fora, este é o dado novo.


Muito da vida cotidiana atual, de seus afazeres, e também boa parte das praças públicas e dos passeios privados, em lojas, bancos, shoppings, deverão migrar para um meio digital, que possa colocá-los em contato direto com o público dentro das casas, na linguagem da World Wide Web, e isto o mercado ainda não se acostumou a fazer, mas terá de fazer. A relação comercial de duas vias em todos os níveis é um elo comercial desconhecido e inesperado para as classes produtoras, mas é a linguagem do futuro. Isto quer dizer também que boa parte do trabalho poderá ser feito através de terminais digitais residenciais ou em trânsito pelo mundo, e isto irá realmente mudar tudo em nossos modos de viver, em poucos anos e em poucas décadas.


Houve uma reportagem de TV sobre o evento, entrevistando um menino, não muito diferente do que seria Bill Gates em seu tempo, e este adolescente estava mostrando uma série de inovações no relacionamento do usuário com a máquina, todas desenvolvidas por ele sem nunca ter frequentado uma única aula sobre essas matérias. Aprendeu tudo na Internet. Esta já é uma das conseqüências da era digital: a população terá um poder muito maior de construir as suas próprias alternativas, e de se preparar para desempenhar suas funções, dentro de suas opções de vida. Será impossível “segurar” a “mão-de-obra” em contingentes de reserva. Os empreendimentos precisarão propor laços de trabalho cada vez mais próximos da parceria. Essa imensa onda econômica digital é que torna inevitável os novos modos produtivos da economia globalizada. Já passamos o ponto de não-retorno. Nesta nova etapa, não serão mais as fases macroeconômicas que irão apresentar grandes transformações, em princípio, mas será principalmente a microeconomia a protagonista dessas novas grandes mudanças, e isto sem dúvida refletirá nas macroestruturas, no ambiente familiar, nas comunidades e no Estado. Isto é ir além das idéias que se teve até agora sobre a Economia solidária. Todos os campos econômicos serão profundamente ressignificados pela Economia digital.

É pensando nisso também que se procura retornar sistematicamente à discussão das atuais formas educativas brasileiras. A escola não pode mais, de jeito nenhum, ser como é hoje. E, se a Educação não estiver em ordem, pode esquecer o resto, que em pouco tempo irá se degradar, ou seja, não dá mais para ser sustentável apenas na superfície das culturas. É preciso renovar tudo. O que não estiver dentro desses novos padrões, já faz parte de um mundo que acabou.


(*) a ressignificação cultural foi explicada em artigo anterior deste Projeto.


Cidades do Futuro 16

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Cidades do Futuro 15 - Admirável Mundo Novo !

CAPA DA PRIMEIRA EDIÇÃO DO LIVRO. Obviamente não se está propondo o racionalismo extremo da alegoria de Aldous Huxley sobre o futuro do capitalismo, mas se estão reconhecendo as possibilidades de satisfação das necessidades básicas e de consumo médio das populações, nesta era de enorme sofisticação tecnológica.

A História da Fala e a Teoria Geral das Forças Produtivas, ainda que em seus passos iniciais, já citaram referências e sistemas suficientes para se ter uma idéia do que será a dinâmica das cidades no futuro: será a própria dinâmica produtiva! As redes produtivas, ou rede dialética, ou rede dos possíveis, ou redes completas, ou redes de equipes de trabalho, o que sejam, organizadas no espaço interdisciplinar - nos interespaços (*) -, sendo administradas com a idéia de "riquezas civilizatórias", um projeto de civilização que em si constitui as escalas de valor e riqueza. Para isso deverá ocorrer uma acentuada revalorização das opções de formação e trabalho individual, simultaneamente à grande humanização das relações entre o capital e o trabalho, finalmente, e como fator produtivo.


Será muito difícil, no futuro próximo, administrar um bairro, uma cidade, um estado, um país ou bloco de países, se não for desta maneira, com essa percepção, sensibilidade, visão, disposição e habilidade. Se isto não for feito, e se mantiverem os modos atuais de Administração, pública ou privada, o resultado certamente será o agravamento das crises sociais e produtivas, atingindo níveis insuportáveis em todos as áreas. Os sistemas dos séculos 19 e 20, que predominaram até agora, na chamada Revolução Industrial, que pode sim ser estendida até meados do século 21, se aplicados neste século levarão inevitavelmente ao colapso e a desastres seguidos. Esta é a principal causa dos numerosos focos de instabilidade que se observam no mundo hoje, acompanhada de uma espécie de incerteza nascida da imprudência de se insistir nesses modelos que se tornaram impróprios para gerir a sociedade.


Administrar as áreas urbanas, a agroindústria ou a agricultura familiar demandará fundamentalmente a mesma base produtiva: a produção discursiva (ou dialógica) interdisciplinar, a correta organização das palavras e dos temas produtivos, o que pode ser ilustrado pela nova economia liderada por empresas como a Microsoft (basicamente é isso que ela faz), gerando critérios, valores, sistemas e procedimentos, e a articulação do trabalho, quer dizer, novas formas de divisão do trabalho, de acordo com os novos ambientes produtivos de alta tecnologia.


Quando um prefeito ou secretário chegar em um bairro, a primeira coisa que precisará ter em mãos é o plano produtivo daquela área. Saber se a população está produzindo conhecimento, estudando para produzi-lo e se as redes produtivas públicas e privadas têm vínculos suficientes nessa área. Se a economia não for "operacional" em certos aspectos, então é disso que ele precisa cuidar. Não se pode mais deixar nenhum ponto improdutivo na sociedade. A economia da escassez está sendo substituída pela economia da abundância, não porque os bens se tornaram todos infinitos, mas porque as alternativas o são. O trabalho de Administração Pública, mais do que nunca, será o de aplicar as corretas equações produtivas às diversas situações sociais. Há recursos para sanar todos os problemas e fazer com que todo trabalho ocorre sob perspectivas construtivas e de organização cada vez mais complexa e organizada. Com isso, deveremos assistir à despressurização que hoje se verifica sobre as verbas públicas, o principal foco dos conflitos sociais, políticos e econômicos, e ele tem origem cultural. Já nas próximas décadas, entretanto, os campos produtivos na iniciativa privada serão multiplicados e potencializados, como decorrência do próprio funcionamento do mercado. Vê-se o que ocorreu com a Microsof: ela não precisou recorrer ao Estado, mas sim o Estado mais poderoso do mundo precisou recorrer a ela, para que não dominasse e monopolizasse todo o mercado. Isto é sintomático das novas possibilidades produtivas.


Este é o futuro, caros cidadãs e cidadãos, então devemos nos preparar para ele desde já, pois o futuro já começou.


* O "interespaço" é um conceito elaborado neste Projeto, consultar artigos anteriores.


Projeto Cidades do Futuro 15

sábado, 16 de fevereiro de 2008

A Teoria Geral das Forças Produtivas 3 – O mecanismo de operação das palavras na produção das coisas

ARTHUR MOREIRA LIMA AO PIANO

De forma muito resumida, como a palavra “piano” construiria um piano?

(e vice-versa: como a criação do objeto “piano” criou a palavra piano?)


Qual o mecanismo estritamente produtivo da fala? Qual o ponto em comum que ela tem com os objetos do mundo real, e que permitiria dizer que a ela cabe parte dessa objetividade, de materialidade sutil mas de altíssima significância? Se há uma essência intangível, imaterial, algo que não representa, como a linguagem, mas que é também representado, da mesma forma que é o mundo, um nível espiritual, isto jamais poderia ser estudado pela Ciência. É algo que se sabe, em que se acredita ou não, que se reconhece e compreende ou não, porém, essa essência espiritual está simbolizada nos sistemas lingüísticos, e aí sim podem ser estudados, como cultura, como linguagem ou como religião. Mas a Ciência poderá observar apenas os aspectos semiótico-ideológicos, embora o cientista possa reconhecer experiências de vida que a lente científica formalmente não pode, e talvez não deva explicar, além dessas linguagens que compreende e que apresenta os fatos à razão. Se não é essa essência das coisas o que há de material na fala, então o que seria? Qual o cerne produtivo da linguagem? Ilustrando essa questão, poderíamos indagar: como perceber ou provar que a palavra “piano” está junto do piano? Como provar que esse som pi-a-no agregou-se não apenas ao objeto que vemos, mas também ao trabalho de sua produção?


Houve um extenso e longo caminho fonológico, até que a comunidade pudesse reconhecer essa “imagem acústica” com um instrumento musical muito importante. É isto que estudam a Semiótica e a Gramática. Mas houve um momento em que alguém no passado construiu um piano, e o caso é que esta palavra nunca mais saiu de perto desse objeto, o instrumento de cordas, elegante e cheio de teclados, com uns pedaizinhos engraçados embaixo. Que processo cultural aconteceu? Que processo de inteligência aconteceu? Que trajetória produtiva foi seguida? Como trabalharam as palavras em torno da criação do piano? Não me refiro aqui ao aspecto etimológico, a raiz vocabular a que se vinculou o significado, criando a palavra, mas ao vínculo que existe hoje entre a palavra e tal instrumento. Esse vínculo existiu sempre, segundo a idéia do cronotopo einsteiniano-bakhtiniano. Já estava na mente do artista que fez o piano, e esta palavra é a que todos conhecemos, mesmo que tenha chegado depois do objeto, dependendo do processo lingüístico seguido por essa palavra.


Mas vamos lá. Quando o cérebro emite uma imagem do piano, a ele está automaticamente vinculada a imagem acústica “piano”. Não existe o objeto por si só. Ele – o objeto concreto - existe e já está dentro da linguagem, quer dizer, a linguagem também está no mundo e sustenta o objeto, da mesma forma que o piano está “dentro” da palavra que o designa. Se não houvesse essa palavra, não existiria o objeto, nem os procedimentos de sua produção e toda a sua história. Houve então a constituição de um signo lingüístico, para que a inteligência humana pudesse compreender a existência de um piano, e também para fabricá-lo. Esse elo primordial carrega em si, para sempre e desde sempre, um teor material da linguagem, que está “aqui fora”, no mundo concreto. A palavra piano está “grudada” no piano, ela está lá, para sempre! Deu formato à madeira, ao marfim, aos pedais, às cordas, exigiu determinada tensão, afinação, acabamento, e cada um desses objetos-pianos terá uma vida útil. Aquele trabalho semiótico inicial do cérebro é o que Bakhtin chamou de material semiótico-ideológico, e o indicou como sendo a matéria-prima da consciência humana. Ele é ato contínuo, inabado e ininterrupto, renovando-se e reproduzindo-se a cada enunciação (ato social de comunicação verbal). Esses fenômenos ocorrem sempre na interação verbal, no diálogo, mas essa matéria-prima já não é mais espiritual, nem apenas simbólica, ela também é física! Demanda energia e se transforma em operações neurológicas e orgânicas, por exemplo em ondas sonoras, transmitidas com dispêndio de energia até o aparelho auditivo de outra pessoa, que reconhece o som “piano” e dá prosseguimento ao discurso (diálogo), em torno da palavra “piano”, da construção de um “piano”, ou tratando de um tema qualquer sobre esse objeto. Se essa mesma palavra se transformar em movimentos manuais de uma equipe gráfica, esse “piano” poderá ser registrado em um livro, jornal, revista, em um prospecto, etc., mas ainda é a mesma palavra piano, dando origem agora a outro trajeto produtivo, dentre infinitas alternativas.


Nas mãos do fabricante de pianos, essa palavra é elaborada de várias formas, e diversas ações coordenadas e articuladas são tomadas, para que no final se tenha construído o objeto, com dadas características, que nada seria, se a palavra piano e todo seu contexto temático ainda não estivesse ali, junto com o instrumento musical. Houve um caminho produtivo intelectual, de origem lingüística, totalmente materializado, ainda que em espectros de energia muito tênues, cooperando com o trabalho dos fabricantes e das máquinas. Isto não impede que se usem as palavras para a reflexão subjetiva, para a abstração, para a prospecção, para a arte, a digressão ou para o delírio, mas não se pode mais ignorar que há um aspecto material das palavras, e que elas atuam concretamente no sistema produtivo e se fazem presentes no mundo material.


Então, muito difícil? Espero que seja apenas “muito novo”.


Teoria Geral das Forças Produtivas 3 - primeira revisão em 17.02.08

A Teoria Geral das Forças Produtivas 2 – Os aspectos iniciais da produção dialógica

A MICROSOFT HÁ 30 ANOS

O rapaz magrelinho, de azul, é Bill Gates, fundador da empresa. Hoje ele tem uma fortuna pessoal próxima de
US$ 60 bilhões, e a Microsoft vende basicamente "organização de palavras".

Por que esse nome pretensioso? Bem, primeiro, a culpa não é minha se ninguém a formulou antes, quero dizer, uma denominação de impacto tão grande certamente tem o seu objeto. Um nome desses não pode ficar sem a respectiva teoria. Mas só o tom dessa afirmação é brincadeira. Isto é sensibilidade lingüística, resultante dos estudos demorados na área. Se tem fumaça, o fogo está por perto, e isto não dispensa a busca do objeto teórico e o trabalho necessário para sua materialização. Deveria haver uma teoria geral das forças produtivas, por que não há? Esta era a questão. Havia uma Ciência, a Economia, de referenciais metodológicos amplos e abrangentes, mas um instrumento objetivo desvendando todo o ciclo produtivo das riquezas, não, porque faltavam “trechos” do seqüenciamento, em analogia com o estudo do DNA. E quem fosse propor tal formulação teórica deveria apresentar os trechos faltantes desse processo, os elos capazes de reunir todos os aspectos da produção, e isto acaba levando à ampliação desse campo produtivo, como explicado no final do artigo. É o procedimento adotado nestas proposições: a presença dialógica responde pela consolidação das teorias econômicas em uma Teoria Geral das Forças Produtivas, e isto leva a Economia a ampliar seu campo para noções também mais gerais de riqueza e de trabalho, começando pela incorporação da fala (do discurso) nessas duas escalas, de riqueza e de trabalho. Em si esses fatos não seriam novidade. Milhares de cidadãos no mundo inteiro ganham fortunas “falando”, e são pagos por seu discurso, às vezes por sua simples locução (fase mais superficial do discurso, a expressão do discurso), como apresentadores da mídia; também é consensual o fato de que milhares de textos são tidos como alta expressão das riquezas humanas, na Arte e na Ciência. Há então um conhecimento prévio, um saber, mas faltava a sua sistematização.


A questão da apreciação econômica do discurso é que muda a compreensão dos atos produtivos, como eram vistos pelas lentes da Economia. Os atos reconhecidos como produtores da riqueza formal da sociedade são aqueles validados pelo valor de troca, por estarem diretamente ou indiretamente envolvidos com o trabalho profissional, gerando excedentes de produção de mercadorias, podendo depois ser negociados e adquirindo vários índices de valor, que podem ser desde o seu preço na revenda, seu custo na fábrica, ou o valor das ações da companhia. Mas como valorizar palavras? Ou pelo menos, de que forma poderiam ser avaliadas objetivamente, na composição de um valor produtivo? Quanto do PIB de um país se deveria ao processo dialógico que acompanhou toda a produção? Seria possível quantificar isso? Sim, é claro, desde que se compreenda que seriam métodos relativos, nunca absolutos. Por exemplo: alteram-se várias palavras-chave no ciclo de um produto; nas etapas de produção, nas áreas de projeto, de gerenciamento, de administração e de vendas. Como resultado da alteração dessas palavras-chave, o faturamento da empresa aumenta 50%, e a produtividade, 25% (desempenho técnico nas funções e não produtividade da fórmula genérica que se aplica). Poder-se-ia afirmar, neste caso, que a mudança de alguns códigos verbais, na programação discursiva da empresa, levou a um aumento expressivo da riqueza que foi gerada. Contudo, isto não é mágica, também não é técnica de RH ou de neurolingüística, mas apenas uma observação sistemática do diálogo e dos níveis de fala e de todo o processo discursivo circulante nesse “lugar”.


Então já é possível perceber que a fala é produção, é trabalho, transforma o mundo e transforma também as matérias-primas de uma função profissional. Também, que a qualidade discursiva altera sensivelmente a produção de uma sociedade ou de um empreendimento, e que poderiam ser comparados os resultados anteriores e posteriores de dois processos dialógicos distintos operando no mesmo ciclo produtivo, com produtividade e outros fatores ambientais sendo sensivelmente alterados. Mais uma coisa a se dizer, na Teoria Geral das Forças Produtivas, quando começam a se analisar também as redes dialógicas envolvidas, é que o plano produtivo se aprofunda, mas também se amplia, e as leis de causa e efeito tornam-se mais complexas de serem consideradas. A vantagem para o sistema produtivo é que todo o enfoque administrativo, de planejamento, execução e controle, passa a ter um conhecimento maior das culturas da empresa. Para a Economia, o ganho é que suas ferramentas para observar a cultura (a sociedade) aperfeiçoam-se bastante, e migram para o campo interdisciplinar, fronteira em que o conhecimento avançado se define. Deixa de haver o seccionamento em especialidades que mal se comunicam, ou o fazem de maneira tensa, por não haver muitos códigos comuns. Cessa também a verticalização excessiva. Há sem dúvida um grau maior de humanização das atividades econômicas, mas há também ganhos expressivos, nos graus de cooperação, de colaboração e de avanços técnicos.


O mais importante dessa proposição teórica, porém, é a relação de pertinência que ela estabelece com os novos modos de produção de cultura avançada e de alta tecnologia. A cultura passa a ser a própria riqueza, o valor primário. A sociedade em si e a formação de seus cidadãos e de suas instituições. A riqueza passa a ser civilizatória, como disse Anthony Giddens. A equação produtiva deixa de ser apenas a de produzir determinado objeto, ou a de dominar a tecnologia para essa produção, mas aplica-se a construir uma comunidade capaz de produzir conhecimento indefinidamente. A Economia passa a estudar em profundidade a sociedade que é capaz de manter determinada produção. E essa abrangência econômica só pode ser alcançada se ao pensamento sistêmico forem integrados os conhecimentos avançados da Linguagem.


Teoria Geral das Forças Produtivas 2

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Cidades do Futuro 14 - Um futuro para São Paulo, segunda parte


AS MÚLTIPLAS VIAS, vista do Parque do Ibirapuera. São Paulo é tomada como objeto de ilustração, mas a discussão feita aqui se refere a todo o projeto de reurbanização ou construção de novas cidades.


Depois de mostrar mais algumas cartas no jogo, vamos retomar a discussão prévia de um plano para a reurbanização de São Paulo, que, relembrando, começou pela sugestão de se refazer todo o sistema hídrico da cidade, e fundamentou isso com a história urbana construída em torno das águas naturais, com as possibilidades de emancipação relativa dessa dependência e com a breve descrição do que poderia tomar o lugar dos sistemas hídricos atuais. Vejamos agora como é que outros sistemas se comportariam na São Paulo do futuro.


Já foi visto nos textos anteriores que a “razão geográfica” da maior metrópole mundial do hemisfério sul sofreria grandes transformações. Primeiro, o trabalho. As relações de localização das tarefas das empresas e os fatores de concentração dos pólos produtivos já não são os mesmos da era industrial ou da fase inicial da globalização. O mercado de trabalho apresenta alternativas em gestação de uma nova economia cada vez mais sofisticada, cujos terminais de serviços poderiam muito bem ser instalados nas residências das pessoas, em vários casos, desde que haja uma educação para as novas formas de trabalho. Com isso, não só a necessidade de fixar residência em determinada cidade, mas as necessidades de circulação dentro de qualquer cidade serão grandemente alteradas. Todo o ciclo migratório passará por um período de regularização, no país. Havendo oportunidades de trabalho em todas as regiões e localidades, as pressões sobre as metrópoles e centros regionais deverão decrescer acentuadamente. Um novo quadro de motivações deverá mobilizar as famílias a se fixarem nesta ou naquela cidade. É possível que, acompanhadas de políticas adequadas, a população das cidades mais densamente povoadas diminua, pelo menos durante um certo tempo, para que as obras de reurbanização possam ser feitas. Depois de instalados os novos sistemas urbanos, se a população voltar a crescer, já será dentro de um contexto perfeitamente controlável.


Esta etapa seria necessária para que se pudesse reorganizar todo o zoneamento da cidade e redesenhar todo o complexo das vias públicas, desde os calçamentos até sistemas intermediários, alternativos (para veículos alternativos de baixa velocidade, como bicicletas, charretes, veículos movidos a energia solar, pequenos carros elétricos, etc.) e vias expressas, para velocidades maiores, além de canteiros centrais para “bondinhos” e sistemas de trens urbanos. Mas já existe alguma coisa assim no mundo, para dizer que isso não é pura fantasia? Sim, Brasília, quer dizer, alguns trechos de Brasília têm algo parecido, a ser combinado com os sistemas locais (ruas de acesso às áreas residenciais) e intermediários (as novas vias propostas). As novas avenidas principais dos sistemas urbanos deveriam lembrar bastante as dimensões do que foi feito na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. No caso de uma cidade “comum”, sem ser a capital, não haveria o Congresso no canteiro central, entre as vias expressas, mas sistemas de “bondinhos” e trens urbanos circulando, e a calçada mais usada para o trabalho. Esta certamente passaria a ocupar também o centro das avenidas, o “sistema arterial” recebendo toda a movimentação das vilas, condomínios e bairros. Um sistema de passarelas e passagens subterrâneas faz a ligação entre o calçamento central e as calçadas laterais. Além das vias para os veículos urbanos tradicionais, entretanto, teríamos novas opções: um caminho para bicicletas, outro para veículos alternativos, e uma faixa do calçamento expandida para o pedestrianismo (caminhadas e corridas, um hábito cada vez mais difundido e com tendência a crescer no futuro).


Nas cidades americanas, especialmente nos subúrbios e cidades-satélite, há aquele sistema de separação entre as vias de acesso às residências e o sistema de ruas dos bairros e as avenidas da cidade, além do cruzamento com as “freeways-highways”. Todos sistemas integrados, mas independentes. O plano-piloto de Brasília em parte foi feito dessa mesma forma, embora as formas dos desenhos de cada “vila” ou condomínio possam ser definidas conforme a disposição de cada terreno. Na prática, o que se tem nesses casos são espécies de condomínios residenciais “públicos”. A cidade já é feita assim. Mas não há muros, apenas uma área mais reservada para as residências, não muito extensas, e estritamente residenciais. É muito semelhante ao esquema das superquadras, só que não tão programadas, nem idênticas no desenho. O comércio próximo fica já nas vias do bairro ou nas avenidas. As largas, amplas e complexas avenidas das cidades somente se aplicam a esse sistema central. Esta é uma estrutura essencial para se evitar o congestionamento futuro e o bloqueio das movimentações urbanas.


Faltou falar sobre as vias subterrâneas, as vias sistêmicas, de fácil acesso, como a “casa das máquinas” de um navio, por onde passam os diversos sistemas urbanos, o saneamento, a rede elétrica, as vias de comunicação por cabos, o sistema hídrico e outros que porventura haja. Não seria mais preciso ficar “abrindo buracos” para fazer a manutenção dessas redes. Fica para os próximos capítulos...


Projeto Cidades do Futuro 15

A Teoria Geral das Forças Produtivas 1 - Uma nova teoria está nascendo neste blog

FOTO DA BOLSA DE VALORES DE NOVA YORK

O fato gerador dessa formulação teórica de nome tão grandioso é uma elaboração deveras simples: a fala humana é fator produtivo fundamental e deve ser incorporada às teorias produtivas. A fala, nesta rede argumentativa, passa a ser vista também como trabalho, como atividade de produção de riquezas, e o que permite essa fusão teórica com o estudo econômico consagrado é a sistematização dos estudos lingüísticos (códigos lingüísticos) e discursivos (a linguagem em circulação) em um nível metodológico formalizado capaz de tomar parte na organização dos sistemas anteriormente validados pelas pesquisas científicas. Várias são as contribuições da linguagem sistemática nas atividades científicas, desde a linguagem de softwares, as linguagens digitais em formatos de circulação pelos computadores da era globalizada, na formulação dos discursos e argumentos multidisciplinares, na elaboração das áreas interdisciplinares, no avanço dos estudos semióticos e nas novas áreas de investigação da Lingüística, nos reflexos desses novos usos e compreensões da linguagem nos ambientes produtivos, em planos de administração corporativa e nos processos produtivos especificamente, sua importância nas novas gestões do conhecimento, que vem desde os CCQ’s e os programas de qualidade, também está presente nos protocolos de certificação e nos diálogos dirigidos das gestões de RH, atua também nas fases de concepção e criação de projetos, em todo os sistemas de comunicação que atravessam qualquer ato produtivo em qualquer posição geográfica, de uma dada sociedade, e em inúmeros outros casos a serem reconhecidos.


Já se comentou nos esboços da História da Fala os aspectos materiais de produção e transmissão das palavras, e seus efeitos. Não existe uma separação entre os momentos de produção da fala, quer dizer, do diálogo interior e exterior, e os atos tradicionalmente já reconhecidos como atos de produção, parte das formas de divisão do trabalho de uma linha produtiva qualquer. Havia antes um “silêncio teórico”. Não havia o que dizer a respeito, por não se conhecerem exatamente os processos de produção dialógica. Nas últimas décadas esses estudos avançaram muito, e reivindicam junto à comunidade científica-acadêmica, novos espaços, novas participações. E esta, sem dúvida, é uma delas, uma das mais importantes e fundamentais. A participação da atividade dialógica na produção de riquezas da sociedade humana.


Quando comecei a estudar este fato, e isto foi antes de começar a estudar as disciplinas mais recentes da Linguagem, no curso normal de Letras, percebi que “algo” ainda estava de fora das teorias produtivas. Já havia antes procurado sistematizar o processo de compreensão da realidade, de análise dos fatos que acontecem, através de uma tal “rede dialética”, que submeti na época a várias pessoas. Logicamente, ninguém entendeu ou aceitou aquelas formulações, baseadas num conceito um tanto pueril, mas correto, de que o materialismo dialético e a dialética idealista também estavam em confronto dialético, e que esse confronto aumentava pelo menos mais uma dimensão à realidade, e fazia nascer uma tal “dialética complexa”. Nesse mesmo tempo – isto começou nos anos de 1989 a 1991, depois interrompi o estudo, e recomecei em 1995, aí, não parei mais, mas, por volta de 95 encontrei respaldo para minhas idéias numa breve referência de Ítalo Calvino, nas suas “Conferências de Harvard”, publicadas como “Seis Propostas para o Próximo Milênio”, quando ele falou rapidamente sobre a “rede dos possíveis”. Depois conheci as idéias de Bakhtin, de quem nunca tinha ouvido falar, até então, e a identificação foi imediata e completa, com as minhas antigas elucubrações. Só que desta vez encontrei um pensamento sistematizado e aplicado, reconhecido pela comunidade acadêmica. E agora posso fundamentar melhor as conseqüências de todo o conjunto de formulações que tinha feito antes.


Logicamente será preciso avançar bastante essas discussões, para entender melhor o como e o quanto a elaboração das palavras influencia todo e cada um dos processos de divisão do trabalho e produção de riquezas, em todos os pontos de seus ciclos. Mas será possível explicar por uma análise validada das pesquisas as formas de concepção e valoração de objetos, tarefas, padrões e produtos, entre tantas outras coisas, a partir não só do trabalho já reconhecido pela economia, mas também através das redes dialógicas, em que todo o material da consciência humana é formado e todas as suas relações concretas com o mundo são fincadas, na significação semiótico-ideológica do discurso e em sua circulação ubíqua em todas as etapas da transformação do mundo pelo trabalho. Já não é mais apenas uma questão de “reflexão” ou de construção “do ser”, a parte destinada às palavras, mas estas reivindicam agora participação efetiva na manufatura de um carro ou de um avião, na construção de um prédio ou de um computador, nos projetos da engenharia genética ou da nanotecnologia. Essa base multidisciplinar e interdisciplinar formal e sistemática sustentada pelos novos conhecimentos da Linguagem é que permitem propor um referencial teórico como este indicado no título do artigo, a Teoria Geral das Forças Produtivas.


Quando Adam Smith, em Riqueza das Nações, começa pela análise da Divisão do Trabalho, ele em seguida a apóia em um fenômeno natural da existência humana, a necessidade das pessoas efetuarem trocas de valor de várias maneiras, através de objetos e dos significados simbólicos que dão a eles, seja pela utilidade, pela necessidade ou por outra categoria de apreciação. Bem, a linguagem nasce da mesma forma. Ela é uma economia de interação verbal, a categoria primordial de construção do ser humano, e através dela o indivíduo se torna sujeito, adquire uma identidade e forma sua consciência. É o material semiótico-ideológico a matéria-prima da consciência humana, e ela nasce da fala, de fora para dentro, do coletivo para o individual, efetuando trocas simbólicas e concretas, negociando posicionamentos, movendo-se no universo humano e construindo seu diálogo interior e sua trajetória, através da significação e da apreciação com que se depara no mundo dos homens, e a partir daí todas as coisas passam a ter seu nome. Todo esse trabalho depois irá migrar para os campos da produção formal de riquezas.


Bem-vindos!

 RECADOS     

PARA OS AMIGOS, ANJOS DA GUARDA E LEITORES DO BLOG: 

21/10/08, 18:18 - AINDA PREPARANDO O CAPÍTULO 3 DE HISTÓRIA DA FALA

                        - RELENDO  Bakhtin, e as "NOVAS CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS", de Sigmund Freud

                        - PRIMEIRO ARTIGO DA SÉRIE SOBRE SEXUALIDADE FOI PUBLICADO !

                        - PREPARANDO 2º ARTIGO SOBRE SEXUALIDADE: 

A ESTÉTICA DA NOVA PORNOGRAFIA (texto não restritivo) - A questão estética da pornografia é uma "não-estética", uma anti-estética, mas há um projeto para isso, e uma função ideológica implícita, quer dizer, romper com a estética faz parte de um conjunto complexo de relações sociais.