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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Por que caiu o Muro de Berlim?

20 anos!

Recomendo a leitura:

Especial Deutsche Welle
Reunificação Alemã


Wikipedia
Muro de Berlim

Documentário da BBC
Youtube



1. Tanques americanos e soviéticos permanceram
de prontidão o tempo todo, um de frente para o outro,
enquanto o muro era construído; 2. Jovem morto
(Peter Fechter, 18 anos, a primeira vítima, em 17/08/62) a tiros
é carregado pelos guardas; 3. Guardas do Muro fortificado;
4. Pedreiros trabalhando na construção do Muro, cercados
pelos soldados; 5 A fuga do soldado Conrad Schumann,
célebre episódio que marcou as grandes escapadas; 6. O
Portão de Brandemburgo, símbolo da cidade, nesta época
ficou deserto e isolado entre os dois lados; 7. Parentes
e amigos tinham de encontrar pontos onde pudessem
conversar rapidamente; 8, 9 e 10. A festa do reencontro;
11. A dança do dia seguinte, no Portão de Brandemburgo,
com a população já ocupando toda a área do Muro de Berlim.


Abram os Portões Imediatamente, Nós Somos o Povo!


Dia 9 de Novembro de 2009 faz 20 anos da queda do Muro que dividiu Berlim, a Alemanha e o mundo, desde a manhã do dia 13 de agosto de 1961, quando soldados da Alemanha Oriental começaram a abrir rolos de arame farpado no centro da cidade.

Segundo os relatos, em 9/11/89, após as 7h da noite, as pessoas começaram a chegar aos poucos, tímidas, em pequenos grupos, sendo logo interpeladas pelos soldados. Mas o número de populares foi aumentando, aumentando, e logo se tornaram milhares. A multidão rompeu o silêncio
e deu um grito engasgado havia quase 30 anos, depois de viver sob uma ditadura férrea, separados da noite para o dia de seus familiares, amigos e conterrâneos, por uma barreira fortificada e vigiada 24 horas, em guaridas, torres e margens descampadas, por guardas armados, holofotes e cães ferozes.

"Sofort!" - Abram os portões, imediatamente! - E não pararam mais de gritar. Outra das palavras de ordem era "Abram, nós somos o povo!"

Do lado ocidental, outra multidão se formou, e começaram a gritar para os conterrâneos virtualmente aprisionados do outro lado da cidade: "Venham, venham!". Os soldados, desnorteados, não sabiam o que fazer. Pediram orientação pelo rádio, que pareceu confusa e, no fim, veio a ordem para que abrissem as passagens do Muro de Berlim.

Nos 28 anos passados os alemães orientais tinham sido submetidos ao totalitarismo e conheceram a mão de ferro do regime comunista soviético, de orientação ainda stalinista, mesmo após a morte de Stálin. E viveram calados e intimidados o tempo todo, vigiados pelo pavoroso monstro tentacular criado na RDA (República Democrática da Alemanha), a Stasi. Como se poderia conceber uma polícia "secreta" com 90 mil integrantes? Mais uma rede de informantes regulares que chegava a mais de 10% da população total do país. E vigiavam basicamente os "traidores" - aqueles que queriam escapar para Berlim Ocidental, e os que não se entusiasmavam pelas maravilhas do comunismo, ou não morriam de amores por seus grandiosos "líderes".

Quando o regime comunista começou a desmoronar na Alemanha Oriental, a Stasi recebeu ordens para destruir todos seus equipamentos e documentação, mas não deu tempo de sumir com tudo, e ofícios reveladores acabaram sendo encontrados, especialmente sobre o Muro de Berlim. Um desses ofícios dava instruções à guarda: "que não vacilassem em pegar suas armas e atirar em qualquer traidor que tentasse transpor o muro, não importava se fossem mulheres ou crianças".

E eles tentaram, de todas as formas possíveis e imagináveis, furar o bloqueio da "Cortina de Ferro", traçando fugas que variavam desde as mais simples e espontâneas, aproveitando um "descuido" momentâneo, até planos que levaram meses para se realizar. Berlim foi palco de uma das lutas mais angustiantes da humanidade contra a tirania e a opressão dos sistemas, uma genuína luta pelo traço mais básico da liberdade, o direito de ir e vir dentro de sua própria cidade, e esta era a mais importante do país.

Os números atualizados contam mais de 800 mortos diretamente na fuga entre as Alemanhas, a grande maioria na região do muro. Setenta e cinco mil pessoas foram presas tentando fugir, e isto inclui a descoberta dos planos, entretanto, deve-se levar em conta um número incontável de pessoas que não se atreveu a enfrentar o regime, mas desejaria ter emigrado para o Ocidente. Este foi objetivamente o motivo da construção do Muro, embora os dirigentes do Leste tenham dito que era para "proteger" seus cidadãos. Cerca de 5 mil fugas bem sucedidas aconteceram nesse período. Após a reunificação da Alemanha, vários membros do governo, do exército, da Stasi e da Guarda do Muro foram processados e condenados, por causa dos assassinatos cometidos.


E por que caiu o muro, afinal ?


As causas são basicamente as mesmas 3 responsáveis pela queda da União Soviética - URSS e de quase todo o comunismo de modelo stalinista no mundo: a contínua e intensa perseguição política, a matança através de milhões de execuções sumárias e a incompetência da burocracia soviética, que se estendia por toda sua estrutura administrativa, incluindoo Politburo, o Partido Comunista, os Sovietes, as fábricas, as repartições públicas, os estabelecimentos comerciais, etc. Nenhum regime seria viável, sustentável ou teria eficiência produtiva mínima, nessas condições. No final do período soviético, não havia mais disponibilidade de vários produtos básicos para a população, que se atormentava em filas intermináveis, sem nenhuma perspectiva de se conseguir mudar essa situação ou a mentalidade reinante em toda a extensão da Cortina de Ferro.

Foi criado um clima de absoluta paranóia do poder na URSS, de perseguição e eliminação de uns pelos outros, numa "roleta" sem fim, que começou pelo assassinato cruel, bárbaro e sumário da família real russa, depois da abdicação, sem opção de exílio ou qualquer chance de sobrevivência. E também não parou mais. Ninguém matou tantos comunistas quanto os próprios comunistas. Havia momentos em que a instabilidade era tanta que não havia ninguém para punir em uma vila ou cidade. Num dia era um que mandava, no dia seguinte já tinha sido preso ou estava morto. Nomes de camponeses eram passados para a polícia secreta - KGB, que fuzilava sumariamente as famílias em suas casas, cotidianamente. Beria, chefão da KGB e braço direito de Stálin, deu ordem aos seus subordinados de avisá-lo sempre que iam matar famílias inteiras, pois estas eram suas matanças preferidas (fonte: BBC, documentários sobre Stálin). Os funcionários dos vários escalões se perseguiam uns aos outros, e toda a escala de comando superior também, até chegar nos principais colaboradores de Stálin, que já tinha mandado matar Trótsky, e depois Stálin foi morto por Beria e Molotóv, porque senão ele os mataria também (fonte: BBC, op. cit.). O clima de selvageria do regime era tamanha, que Stálin, nas reuniões íntimas que fazia, passava descomposturas, humilhava e ameaçava constantemente seus principais colaboradores e as altas autoridades da URSS. Toda a cúpula das Forças Armadas, os heróis de guerra, os comandos de exércitos amigos, todos eles foram dizimados por Stálin. Não haveria como dar estabilidade a esse regime, nunca, em tempo nenhum, quer dizer, ruiu pelos próprios abusos e absurdos, pela dinâmica interna, e não pelo ataque dos adversários externos.

A cultura produtiva estatal soviética era desastrosa. A não ser pela indústria bélica e pela indústria de propaganda do regime, ambas tendo a finalidade restrita de perpetuação no poder, em um regime ditatorial fechado, nada mais funcionava direito na URSS, e até hoje é assim, na Rússia atual. Têm problemas gravíssimos de falta de cultura produtiva e de empreendimentos, de falta de dinâmicas produtivas e diversificação da economia. Mas isto guarda uma associação forte com o regime soviético. Nos postos de supervisão e comando sempre eram colocados prepostos do regime, favoritos, e não as pessoas tecnicamente mais indicadas. Mesmo quando eram pessoas bem preparadas, não podiam - ou não queriam - aplicar livremente seu conhecimento, se isto parecesse "perigoso" ou "proibido". Os jogos políticos e de poder dominavam tudo, na URSS, ao mesmo tempo que os privilégios dos membros do Partido Comunista aumentavam. Dizer isso parece até a propaganda "capitalista" do Ocidente "burguês" - que de fato havia, mas o que ninguém imaginava é que era verdade mesmo, e que, aliás, era muito pior do que se imaginava, ou do que a propaganda ideológica contrária. Pessoas que não tinham grande compromisso com o conhecimento, com a técnica e com a produção, mas que se esmeravam em agradar os chefes, especialmente os chefes bem acima na escala do poder. O fato, contudo, é que se não fizessem isso alguma coisa aconteceria com eles. Os administradores soviéticos muitas vezes se davam mal e viviam na corda bamba mesmo fazendo tudo certinho, sendo dóceis à paranóia do regime soviético.

Diante desse quadro, o que ocorreu em Berlim? A Alemanha, apesar de ter sido derrotada duas vezes seguidas, de ter sido destruída pelos aliados da 2a. Guerra, e de ter tido um flagelo interno que foi o nazismo, já era um país muito mais desenvolvido que a grande maioria de seus vizinhos, tinha uma tradição artística, filosófica, científica e industrial muito grande, uma educação forte, uma circulação razoável de informações, um nível de vida apreciável, quer dizer, tinha bases confiáveis e elevadas para tecer comparações entre quadros de sistemas diferentes. Os alemães souberam diferenciar muito bem o Ocidente do Oriente, naquele momento, dentro de suas fronteiras, e fizeram sua opção, preferiram sua tradição ocidental, como aliás era de se esperar, era justo e natural, histórico, pode-se dizer. E resolveram emigrar de forma crescente para o Ocidente, a ponto de Moscou e seus fantoches da RDA terem de confinar os alemães orientais atrás do Muro de Berlim e da Cortina de Ferro (o poderio soviético barrando todo o bloco comunista, defendendo a Rússia do Ocidente "burguês").

Se forem contudo examinados todos os argumentos expostos acima, ver-se-á que não haveria a longo prazo sustentação nenhuma para as políticas do regime comunista soviético, e que a URSS esteve sempre a meio caminho do delírio, ou de enormes tragédias reais, como as invasões e as guerras. Seus dirigentes, contudo, mais atrapalharam que ajudaram. E o muro ruiu, mesmo com todo o concreto e todas as fortificações. Uma coisa porém, ficou intacta, e foi a grande capacidade, a grande força que representou e representa a população da antiga URSS - e também de seus países satélites. Sua resistência e bravura são conhecidas, e há registros suficientes para essa afirmação ser consistente e não laudatória ou compensatória do que foi dito de negativo. Mas eles estão hoje claramente limitados pelos erros gigantescos e pelos crimes monstruosos que foram cometidos no passado (e contra os cidadãos), em seus países.

Isto tudo nos leva a crer que lições muito profundas podem ser tiradas dos acontecimentos que giraram em torno da existência do Muro de Berlim, e que fatos graves graves se sucederam, infelizmente. Que a reflexão de todos leve a não permitir que isso se repita, nem lá nem em qualquer outro lugar, jamais.





Ich bin ein Berliner: A atuação dos protagonistas internacionais


A afirmação "ich bin ein Berliner" (eu sou um berlinense) tornou-se um ícone, por ter sido a declaração de solidariedade do presidente Kennedy a uma multidão de alemães, quando foi à Alemanha em 26 de junho de 1963, em virtude da construção do muro pelo bloco soviético, e foi lembrada por Barack Obama, quando visitou Berlim ano passado, ainda como candidato a presidente. Em 12 de junho de 1987, vinte e quatro anos depois, o presidente Ronald Reagan disse, também em Berlin: "
Senhor Gorbachov, abra estes portões! Senhor Gorbachov, derrube este muro!" Quer gostemos ou não da influência americana, e das posturas de Reagan, o fato é que o apoio internacional foi decisivo, para que Gorbachev pudesse continuar com a Perestroika (a abertura política na URSS).



Contudo, outros personagens também tiveram importância decisiva no processo de enfrentamento da URSS. Outro simples operário, um polonês chamado Lech Walesa - um mecânico de automóveis - assumiu o movimento operário polonês e fundou o sindicato Solidariedade - Solidarnosc - a primeira instituição popular, política e organizada que passou a enfrentar com sucesso, aberta e sistematicamente, o regime de Moscou. Aos operários poloneses um outro ator muito importante se somou, o Papa João Paulo II (o polonês Carol Voitila por nascimento) e sua atuação muito firme como "pastor" internacional.

Todos esses atores, porém, tiveram papel relevante na derrocada da União Soviética não por causa da questão ideológica entre o capitalismo e o socialismo. Esta hoje tem outro equacionamento, e procura pontos comuns e campos comuns de parceria, colaboração e avanços, na direção da diversidade e da complexidade. A questão principal que envolveu a todos eles, de tons e cores ideológicas muito diferentes e até radicalmente opostas, foi a da estrutura de poder totalitário que se tornou uma superpotência mundial, apesar de no cotidiano a população soviética e todo o bloco comunista ter tido condições de vida sempre bastante inferiores às do mundo desenvolvido Ocidental (integrando nesse bloco também o Japão e e os "Tigres Asiáticos"). Mais recentemente, mesmo a China e a Índia passaram a caminhar nesse sentido (não o do capitalismo tradicional, mas o da complexidade dos sistemas). E o Ocidente também, se olharmos para as décadas passadas, já mudou muito em relação aos valores conservadores clássicos do unilateralismo capitalista. O que nasce agora, também com seus desafios próprios, é uma era de civilização avançada, de "riquezas civilizatórias", em que a própria cultura é essencialmente a riqueza (conceito sustentado e difundido no mundo pelo sociólogo britânico Anthony Giddens).




(fontes: Michael Meyer: 1989 - O ano que mudou o mundo,
e as referências dadas no início do "post")

matéria em edição - continua...

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PARA OS AMIGOS, ANJOS DA GUARDA E LEITORES DO BLOG: 

21/10/08, 18:18 - AINDA PREPARANDO O CAPÍTULO 3 DE HISTÓRIA DA FALA

                        - RELENDO  Bakhtin, e as "NOVAS CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS", de Sigmund Freud

                        - PRIMEIRO ARTIGO DA SÉRIE SOBRE SEXUALIDADE FOI PUBLICADO !

                        - PREPARANDO 2º ARTIGO SOBRE SEXUALIDADE: 

A ESTÉTICA DA NOVA PORNOGRAFIA (texto não restritivo) - A questão estética da pornografia é uma "não-estética", uma anti-estética, mas há um projeto para isso, e uma função ideológica implícita, quer dizer, romper com a estética faz parte de um conjunto complexo de relações sociais.