Evitando as altas temperaturas destes tempos, podemos trazer para este blog umas lasquinhas de vulcão. Reinaldo Azevedo é um mestre da polêmica, além de não temê-la e gostar dela. Paro por aí, estou focalizando a "região central" dos debates, passíveis de serem mediadas produtivamente.
A questão de História da UFRGS, propondo ser a doutrina neoliberal a política econômica dos países ricos, especificamente destinada a manter na periferia do sistema capitalista os grandes grupos de países pobres ou emergentes, é uma questão ideológica, de disputa direta entre a esquerda e a direita? E a ALCA, mesma batida, seria um projeto cujo objetivo é o de inibir a autonomia e a integração dos países latino-americanos? E mais, esta questão em uma prova seletiva para a universidade pública federal denotaria um esquerdismo impróprio? E seria esta uma orientação predominante nesses vestibulares?
Uma resposta adequada exigiria extensas laudas, mas é um ponto de fricção das polêmicas atuais. Seria adequado cobrar uma visão crítica sobre os conflitos de interesse Mercosul-ALCA? E atribuir ao neoliberalismo a função de agente neocolonizador principal? E isto valeria como resposta objetiva na seleção para a universidade pública federal? E isto poderia ser feito da forma como foi feito na prova? É uma questão mais técnica ou mais ideológica?
Um cidadão brasileiro poderia ser neoliberal e ao mesmo tempo não desejar que o Brasil permaneça na periferia latino-americana, sob o domínio americano, com conhecimento de causa (o achismo não vale na prova) ? O neoliberalismo leva obrigatoriamente à hegemonia americana? Ou seria mais um confronto entre o capital e o trabalho, no mundo globalizado? (quase escrevi blogalizado)
De fato há um conflito hegemônico envolvido nas duas partes da questão, mas seria, talvez, uma polêmica acima da formação do nível médio, somente solucionável por uma simplificação, e esta seria justamente a aceitação do estigma ideológico, isto é, tudo que vem dos americanos é hegemônico, e tudo que concerne ao neoliberalismo também. Mas esta generalização seria uma falha técnica, contudo, dizer que essas pressões do Norte não existem, seria ingênuo. Mas talvez tudo precise ser um pouco relativizado. Neste caso, a questão é imprecisa e Reinaldo tem um trunfo na sua argumentação. Se ela pode apresentar dúvida ou ambiguidade nas respostas, então não deveria ser aplicada ao exame.
As ponderações feitas pelos professores respaldam apenas o consenso de que o gabarito retrata um processo histórico inegável - "realista", porém, estão desconsiderando o erro acadêmico, que é o de estabelecer um nexo obrigatório e indissolúvel entre as assertivas e as conclusões. E, neste caso, há sim uma pequena faísca de doutrinação ideológica, não se pode dizer que decisiva. Poderia gerar até um pedido de anulação, na minha humilde opinião.
Que abacaxi! Mas é o fino da polêmica.
post de 14.01, coment. 2 - R Azevedo
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