BLOG DE CIDADANIA - comentários sobre os principais blogs nacionais, pequenas análises e crônicas: Ciência, Cultura, Sociedade, Política, Economia, Religião e História. Divulgação Científica.


Citação de Bakhtin::

A VIDA COMEÇA QUANDO UMA FALA ENCONTRA A OUTRA

 

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domingo, 18 de novembro de 2012

Fico muito triste de ver meu nome relacionado com uma cobrança de impostos da cidade de Brotas gerado por um contrato imobiliário clandestino de muitos anos atrás, de que nem tínhamos mais notícia!

Era pra ter sido um condomínio de luxo de classe média alta principalmente de São Carlos com lagoa, acesso ao Broa, centro comercial e de lazer, e nada disso existia ou foi feito, tudo era irregular. Claramente um contrato sem validade! O que tinha de regular era as nossas assinaturas, boa-fé e o dinheiro de compra e de instalação de melhoramentos, que também não cumpriu o projeto da venda.

Demos o dinheiro por fundo perdido e mesmo assim houve uma insistência para que pagássemos mensalidades e instalações sobre serviços que nunca foram prestados, instalações que nunca foram feitas e terras que não eram nossas! Nem o loteamento existia!

A lagoa vizinha pertencia a outro proprietário, não havia acesso ao Broa, a entrada que foi apresentada na hora da venda foi alterada para um local bem distante da água, nunca existiu obviamente nenhuma atividade náutica, centro comercial e nem de lazer como o previsto na venda.

Muitos anos depois ficamos sabendo que o loteamento foi regularizado, mas para nós não havia mais nenhum vínculo, já que a operação de compra de muitos anos antes tinha sido totalmente irregular, para um produto, um lote um projeto que não existia.

Qual é a nossa surpresa agora de saber que estamos sendo vítimas novamente. Fomos logrados, prejudicados, importunados, e o nosso nome claramente está constando no lote muitos anos depois regularizado, já totalmente fora do contexto do contrato clandestino, do projeto que foi uma pura invenção, os nossos nomes estão lá apenas para alguém pagar os impostos, já que não temos nenhum usufruto, nenhum interesse comercial, visto que foi uma operação totalmente irregular.

Não sei como a Prefeitura de Brotas pôde aceitar a inclusão de nossos nomes como proprietários e a aceitação dos papéis dessa compra sabendo de toda a história do que tinha acontecido na Lagoa Dourada. Teria que pelo menos ter consultado a gente, já que foi uma operação de regularização de algo totalmente irregular que nunca existiu, quer dizer, o projeto que adquirimos era totalmente clandestino e fantasma. Portanto, esse contrato não pode ser aceito como um contrato de compra regular, não foi essa a operação que fizemos, isso é coisa de muitos e muitos anos atrás.

Quer dizer, estamos nos sentindo lesados mais uma vez em nossos direitos e interesses, na forma como esses negócios e agora esse processo de cobrança de impostos está ocorrendo.

Estamos sendo vítimas mais uma vez!
Esse é um processo ilegítimo e que deveria ser também considerado ilegal!

Fica aqui o meu mais veemente protesto, e diante de constar o nosso nome na Internet em busca do Google, este protesto também foi colocado para o juízo das pessoas que tiverem interesse em consultar esse fato ocorrido e que até hoje nos provoca constrangimentos.

São Carlos, 17 de novembro de 2012

Luiz Horacio de Almeida Geribello

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Mensagem de Natal





Contagem regressiva para o Natal, espírito do Natal, oração pelo Natal, até comprar presentes, que bom! Não acho que seja consumismo, é Natal! Compramos os presentes para os outros e não para nós, e para festejar uma data de grande alegria e amor. O consumo está presente, claro, mas faz parte, está tudo bem, o show não é da ostentação ou do desperdício, mas da aproximação entre as pessoas, principalmente das famílias. Me atreveria a dizer, e usando essa próclise brasileira, que essa é a vacina mais efetiva contra o consumismo em qualquer dimensão. De objetos, de drogas, de nossas vidas, etc. Nada como um bom Natal.

Mas como gostaria de viver este Natal de 2009 do nascimento de Jesus Cristo? Bem, com muito otimismo e tendo muito cuidado. Não acho que sejam suficientes as metas traçadas. O enriquecimento material, o desenvolvimento, o progresso, os negócios se expandindo, as diferenças sociais pelo menos neste período – se não estão diminuindo, estão subindo de nível. Que continue assim. Só que não podemos nos apegar demais nessas coisas materiais, e esquecer as coisas que são “invisíveis aos olhos”, e que são essenciais. Faria então um pequeno voto pelo não esquecimento das coisas mais valiosas de nossas vidas, “neste país”.

1 – Não se esqueçam que foram crianças, alegres ou tristes, felizes ou infelizes. Mesmo diante do mundo sombrio, toda criança é feita de pura felicidade, é a vida em seu ponto máximo, a que mais alegra o Criador.

2 – Não se esqueçam de que ainda somos todos crianças. É assim que pensa o Pai do Céu.

3 – Não se esqueçam de seus amigos, de suas famílias, de seus semelhantes, das pessoas que os ajudaram e das pessoas que os prejudicaram. Agradeça a todos, todos eles foram importantes. Essenciais para o nosso aprendizado, para a nossa missão, para o avanço de nossa vida.

4 – Não se esqueçam dos princípios, das leis, dos deveres e das responsabilidades. Sem eles não há direito, não há vitória, não há alegria duradoura e, sem que se conquiste a verdadeira glória, tudo o que vemos torna-se inconsistente e pode desmoronar diante dos fortes abalos da vida, frente às duras provas do dia, ou se desfaz, escapa pelos dedos das mãos, e vai tristemente minguando.

5 – Não se esqueçam da fé, do amor, da esperança, da persistência, da humildade, da compaixão e da justiça de Deus. Este é o verdadeiro pacote de bondade e não há nada que possa substituí-lo. Não se enganem, é nestes momentos de luz que o mundo é construído, qua a vida melhora, que os problemas são resolvidos e que novas coisas boas são criadas. Este é o caminho da realização, onde estão encobertos os maiores tesouros, onde se realizam os sentidos mais profundos, mais amplos e mais numerosos de nossa existência.

6 – E não se esqueçam da mais bela história que a humanidade já contou, a história do Menino Jeus. A mais encantadora de todas as histórias. A Estrela de Belém, os Reis Magos, a Manjedoura, Jesus, Maria e José, e a simplicidade de seu nascimento, o Natal.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Por que caiu o Muro de Berlim?

20 anos!

Recomendo a leitura:

Especial Deutsche Welle
Reunificação Alemã


Wikipedia
Muro de Berlim

Documentário da BBC
Youtube



1. Tanques americanos e soviéticos permanceram
de prontidão o tempo todo, um de frente para o outro,
enquanto o muro era construído; 2. Jovem morto
(Peter Fechter, 18 anos, a primeira vítima, em 17/08/62) a tiros
é carregado pelos guardas; 3. Guardas do Muro fortificado;
4. Pedreiros trabalhando na construção do Muro, cercados
pelos soldados; 5 A fuga do soldado Conrad Schumann,
célebre episódio que marcou as grandes escapadas; 6. O
Portão de Brandemburgo, símbolo da cidade, nesta época
ficou deserto e isolado entre os dois lados; 7. Parentes
e amigos tinham de encontrar pontos onde pudessem
conversar rapidamente; 8, 9 e 10. A festa do reencontro;
11. A dança do dia seguinte, no Portão de Brandemburgo,
com a população já ocupando toda a área do Muro de Berlim.


Abram os Portões Imediatamente, Nós Somos o Povo!


Dia 9 de Novembro de 2009 faz 20 anos da queda do Muro que dividiu Berlim, a Alemanha e o mundo, desde a manhã do dia 13 de agosto de 1961, quando soldados da Alemanha Oriental começaram a abrir rolos de arame farpado no centro da cidade.

Segundo os relatos, em 9/11/89, após as 7h da noite, as pessoas começaram a chegar aos poucos, tímidas, em pequenos grupos, sendo logo interpeladas pelos soldados. Mas o número de populares foi aumentando, aumentando, e logo se tornaram milhares. A multidão rompeu o silêncio
e deu um grito engasgado havia quase 30 anos, depois de viver sob uma ditadura férrea, separados da noite para o dia de seus familiares, amigos e conterrâneos, por uma barreira fortificada e vigiada 24 horas, em guaridas, torres e margens descampadas, por guardas armados, holofotes e cães ferozes.

"Sofort!" - Abram os portões, imediatamente! - E não pararam mais de gritar. Outra das palavras de ordem era "Abram, nós somos o povo!"

Do lado ocidental, outra multidão se formou, e começaram a gritar para os conterrâneos virtualmente aprisionados do outro lado da cidade: "Venham, venham!". Os soldados, desnorteados, não sabiam o que fazer. Pediram orientação pelo rádio, que pareceu confusa e, no fim, veio a ordem para que abrissem as passagens do Muro de Berlim.

Nos 28 anos passados os alemães orientais tinham sido submetidos ao totalitarismo e conheceram a mão de ferro do regime comunista soviético, de orientação ainda stalinista, mesmo após a morte de Stálin. E viveram calados e intimidados o tempo todo, vigiados pelo pavoroso monstro tentacular criado na RDA (República Democrática da Alemanha), a Stasi. Como se poderia conceber uma polícia "secreta" com 90 mil integrantes? Mais uma rede de informantes regulares que chegava a mais de 10% da população total do país. E vigiavam basicamente os "traidores" - aqueles que queriam escapar para Berlim Ocidental, e os que não se entusiasmavam pelas maravilhas do comunismo, ou não morriam de amores por seus grandiosos "líderes".

Quando o regime comunista começou a desmoronar na Alemanha Oriental, a Stasi recebeu ordens para destruir todos seus equipamentos e documentação, mas não deu tempo de sumir com tudo, e ofícios reveladores acabaram sendo encontrados, especialmente sobre o Muro de Berlim. Um desses ofícios dava instruções à guarda: "que não vacilassem em pegar suas armas e atirar em qualquer traidor que tentasse transpor o muro, não importava se fossem mulheres ou crianças".

E eles tentaram, de todas as formas possíveis e imagináveis, furar o bloqueio da "Cortina de Ferro", traçando fugas que variavam desde as mais simples e espontâneas, aproveitando um "descuido" momentâneo, até planos que levaram meses para se realizar. Berlim foi palco de uma das lutas mais angustiantes da humanidade contra a tirania e a opressão dos sistemas, uma genuína luta pelo traço mais básico da liberdade, o direito de ir e vir dentro de sua própria cidade, e esta era a mais importante do país.

Os números atualizados contam mais de 800 mortos diretamente na fuga entre as Alemanhas, a grande maioria na região do muro. Setenta e cinco mil pessoas foram presas tentando fugir, e isto inclui a descoberta dos planos, entretanto, deve-se levar em conta um número incontável de pessoas que não se atreveu a enfrentar o regime, mas desejaria ter emigrado para o Ocidente. Este foi objetivamente o motivo da construção do Muro, embora os dirigentes do Leste tenham dito que era para "proteger" seus cidadãos. Cerca de 5 mil fugas bem sucedidas aconteceram nesse período. Após a reunificação da Alemanha, vários membros do governo, do exército, da Stasi e da Guarda do Muro foram processados e condenados, por causa dos assassinatos cometidos.


E por que caiu o muro, afinal ?


As causas são basicamente as mesmas 3 responsáveis pela queda da União Soviética - URSS e de quase todo o comunismo de modelo stalinista no mundo: a contínua e intensa perseguição política, a matança através de milhões de execuções sumárias e a incompetência da burocracia soviética, que se estendia por toda sua estrutura administrativa, incluindoo Politburo, o Partido Comunista, os Sovietes, as fábricas, as repartições públicas, os estabelecimentos comerciais, etc. Nenhum regime seria viável, sustentável ou teria eficiência produtiva mínima, nessas condições. No final do período soviético, não havia mais disponibilidade de vários produtos básicos para a população, que se atormentava em filas intermináveis, sem nenhuma perspectiva de se conseguir mudar essa situação ou a mentalidade reinante em toda a extensão da Cortina de Ferro.

Foi criado um clima de absoluta paranóia do poder na URSS, de perseguição e eliminação de uns pelos outros, numa "roleta" sem fim, que começou pelo assassinato cruel, bárbaro e sumário da família real russa, depois da abdicação, sem opção de exílio ou qualquer chance de sobrevivência. E também não parou mais. Ninguém matou tantos comunistas quanto os próprios comunistas. Havia momentos em que a instabilidade era tanta que não havia ninguém para punir em uma vila ou cidade. Num dia era um que mandava, no dia seguinte já tinha sido preso ou estava morto. Nomes de camponeses eram passados para a polícia secreta - KGB, que fuzilava sumariamente as famílias em suas casas, cotidianamente. Beria, chefão da KGB e braço direito de Stálin, deu ordem aos seus subordinados de avisá-lo sempre que iam matar famílias inteiras, pois estas eram suas matanças preferidas (fonte: BBC, documentários sobre Stálin). Os funcionários dos vários escalões se perseguiam uns aos outros, e toda a escala de comando superior também, até chegar nos principais colaboradores de Stálin, que já tinha mandado matar Trótsky, e depois Stálin foi morto por Beria e Molotóv, porque senão ele os mataria também (fonte: BBC, op. cit.). O clima de selvageria do regime era tamanha, que Stálin, nas reuniões íntimas que fazia, passava descomposturas, humilhava e ameaçava constantemente seus principais colaboradores e as altas autoridades da URSS. Toda a cúpula das Forças Armadas, os heróis de guerra, os comandos de exércitos amigos, todos eles foram dizimados por Stálin. Não haveria como dar estabilidade a esse regime, nunca, em tempo nenhum, quer dizer, ruiu pelos próprios abusos e absurdos, pela dinâmica interna, e não pelo ataque dos adversários externos.

A cultura produtiva estatal soviética era desastrosa. A não ser pela indústria bélica e pela indústria de propaganda do regime, ambas tendo a finalidade restrita de perpetuação no poder, em um regime ditatorial fechado, nada mais funcionava direito na URSS, e até hoje é assim, na Rússia atual. Têm problemas gravíssimos de falta de cultura produtiva e de empreendimentos, de falta de dinâmicas produtivas e diversificação da economia. Mas isto guarda uma associação forte com o regime soviético. Nos postos de supervisão e comando sempre eram colocados prepostos do regime, favoritos, e não as pessoas tecnicamente mais indicadas. Mesmo quando eram pessoas bem preparadas, não podiam - ou não queriam - aplicar livremente seu conhecimento, se isto parecesse "perigoso" ou "proibido". Os jogos políticos e de poder dominavam tudo, na URSS, ao mesmo tempo que os privilégios dos membros do Partido Comunista aumentavam. Dizer isso parece até a propaganda "capitalista" do Ocidente "burguês" - que de fato havia, mas o que ninguém imaginava é que era verdade mesmo, e que, aliás, era muito pior do que se imaginava, ou do que a propaganda ideológica contrária. Pessoas que não tinham grande compromisso com o conhecimento, com a técnica e com a produção, mas que se esmeravam em agradar os chefes, especialmente os chefes bem acima na escala do poder. O fato, contudo, é que se não fizessem isso alguma coisa aconteceria com eles. Os administradores soviéticos muitas vezes se davam mal e viviam na corda bamba mesmo fazendo tudo certinho, sendo dóceis à paranóia do regime soviético.

Diante desse quadro, o que ocorreu em Berlim? A Alemanha, apesar de ter sido derrotada duas vezes seguidas, de ter sido destruída pelos aliados da 2a. Guerra, e de ter tido um flagelo interno que foi o nazismo, já era um país muito mais desenvolvido que a grande maioria de seus vizinhos, tinha uma tradição artística, filosófica, científica e industrial muito grande, uma educação forte, uma circulação razoável de informações, um nível de vida apreciável, quer dizer, tinha bases confiáveis e elevadas para tecer comparações entre quadros de sistemas diferentes. Os alemães souberam diferenciar muito bem o Ocidente do Oriente, naquele momento, dentro de suas fronteiras, e fizeram sua opção, preferiram sua tradição ocidental, como aliás era de se esperar, era justo e natural, histórico, pode-se dizer. E resolveram emigrar de forma crescente para o Ocidente, a ponto de Moscou e seus fantoches da RDA terem de confinar os alemães orientais atrás do Muro de Berlim e da Cortina de Ferro (o poderio soviético barrando todo o bloco comunista, defendendo a Rússia do Ocidente "burguês").

Se forem contudo examinados todos os argumentos expostos acima, ver-se-á que não haveria a longo prazo sustentação nenhuma para as políticas do regime comunista soviético, e que a URSS esteve sempre a meio caminho do delírio, ou de enormes tragédias reais, como as invasões e as guerras. Seus dirigentes, contudo, mais atrapalharam que ajudaram. E o muro ruiu, mesmo com todo o concreto e todas as fortificações. Uma coisa porém, ficou intacta, e foi a grande capacidade, a grande força que representou e representa a população da antiga URSS - e também de seus países satélites. Sua resistência e bravura são conhecidas, e há registros suficientes para essa afirmação ser consistente e não laudatória ou compensatória do que foi dito de negativo. Mas eles estão hoje claramente limitados pelos erros gigantescos e pelos crimes monstruosos que foram cometidos no passado (e contra os cidadãos), em seus países.

Isto tudo nos leva a crer que lições muito profundas podem ser tiradas dos acontecimentos que giraram em torno da existência do Muro de Berlim, e que fatos graves graves se sucederam, infelizmente. Que a reflexão de todos leve a não permitir que isso se repita, nem lá nem em qualquer outro lugar, jamais.





Ich bin ein Berliner: A atuação dos protagonistas internacionais


A afirmação "ich bin ein Berliner" (eu sou um berlinense) tornou-se um ícone, por ter sido a declaração de solidariedade do presidente Kennedy a uma multidão de alemães, quando foi à Alemanha em 26 de junho de 1963, em virtude da construção do muro pelo bloco soviético, e foi lembrada por Barack Obama, quando visitou Berlim ano passado, ainda como candidato a presidente. Em 12 de junho de 1987, vinte e quatro anos depois, o presidente Ronald Reagan disse, também em Berlin: "
Senhor Gorbachov, abra estes portões! Senhor Gorbachov, derrube este muro!" Quer gostemos ou não da influência americana, e das posturas de Reagan, o fato é que o apoio internacional foi decisivo, para que Gorbachev pudesse continuar com a Perestroika (a abertura política na URSS).



Contudo, outros personagens também tiveram importância decisiva no processo de enfrentamento da URSS. Outro simples operário, um polonês chamado Lech Walesa - um mecânico de automóveis - assumiu o movimento operário polonês e fundou o sindicato Solidariedade - Solidarnosc - a primeira instituição popular, política e organizada que passou a enfrentar com sucesso, aberta e sistematicamente, o regime de Moscou. Aos operários poloneses um outro ator muito importante se somou, o Papa João Paulo II (o polonês Carol Voitila por nascimento) e sua atuação muito firme como "pastor" internacional.

Todos esses atores, porém, tiveram papel relevante na derrocada da União Soviética não por causa da questão ideológica entre o capitalismo e o socialismo. Esta hoje tem outro equacionamento, e procura pontos comuns e campos comuns de parceria, colaboração e avanços, na direção da diversidade e da complexidade. A questão principal que envolveu a todos eles, de tons e cores ideológicas muito diferentes e até radicalmente opostas, foi a da estrutura de poder totalitário que se tornou uma superpotência mundial, apesar de no cotidiano a população soviética e todo o bloco comunista ter tido condições de vida sempre bastante inferiores às do mundo desenvolvido Ocidental (integrando nesse bloco também o Japão e e os "Tigres Asiáticos"). Mais recentemente, mesmo a China e a Índia passaram a caminhar nesse sentido (não o do capitalismo tradicional, mas o da complexidade dos sistemas). E o Ocidente também, se olharmos para as décadas passadas, já mudou muito em relação aos valores conservadores clássicos do unilateralismo capitalista. O que nasce agora, também com seus desafios próprios, é uma era de civilização avançada, de "riquezas civilizatórias", em que a própria cultura é essencialmente a riqueza (conceito sustentado e difundido no mundo pelo sociólogo britânico Anthony Giddens).




(fontes: Michael Meyer: 1989 - O ano que mudou o mundo,
e as referências dadas no início do "post")

matéria em edição - continua...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

As propostas de Italo Calvino para o Futuro








As "máquinas de voar" de Leonardo da Vinci: helicóptero, asa delta e pára-quedas.

A LEVEZA


Uma das seis propostas de Calvino para o Terceiro Milênio é a qualidade da leveza, opondo-se diretamente ao peso das coisas, sem eliminar contudo a concretude e suas substâncias, mas buscando um mínimo de estrutura para um máximo de expressão. Para conseguir tal resultado, entretanto, Calvino cita Paul Valérie: “é preciso ser leve como um pássaro e não como uma pluma”. Uma pluma vive em suspensão, sem peso algum, mas é levada ao vento, não pode dar direção a sua trajetória e nem pode controlar o seu destino, ao contrário dos pássaros, cuja leveza está associada também à precisão e à visibilidade de seu vôo, sabendo dosar sua leveza com seu peso, alçando vôo ou pousando exatamente no lugar em que deseja, no momento em que julga uma coisa ou outra como sendo necessária.


Tal estado de desenvolvimento da vida só pode ser alcançado através do avanço do conhecimento, pelo aprofundamento no domínio das leis, chegando até os campos infinitesimais. Ser leve como o software gerenciando o hardware, como o chip substituindo os pesados andares dos prédios operacionais e administrativos. O conhecimento dando leveza também ao ser, eliminando os pesos da existência, o ódio, o ressentimento, o medo, a culpa, a cobiça, a inveja, a tristeza, trazendo uma era de maior tranqüilidade e de menor sofrimento. A superação da guerra pelo diálogo e da ignorância pelo saber. O domínio das palavras e das linguagens, da mente sobre o corpo, da imaginação e da poesia sobre a convencionalidade, da grandeza espiritual sobre a mesquinhez da matéria. Mesmo as situações mais trágicas sendo superadas pela “consciência dos ideais” e pelas “sínteses perfeitas”, como em Shakespeare: “ser ou não ser, eis a questão”. Calvino cita também o mito de Perseu vencendo a Medusa, a horrenda górgona que petrificava os adversários que a encarassem diretamente. Perseu a vence em batalha usando o artifício de um espelho, depois usa a cabeça decepada para petrificar adversários em outras lutas, até que o corpo do monstro vencido se transforma em um vale paradisíaco, onde habita Pégaso, o cavalo alado. Tinha sido domada a “a impiedosa energia que move a história do nosso século”. Na verdade, olhar através do espelho significou “olhar a si mesmo”. Perseu está evoluindo, aprendendo, descobrindo os segredos do mundo. Está deixando para trás o arcaico, o brutal e a infantilidade, deixa as sombras e busca sempre as trilhas iluminadas.


O traço mais forte na idéia da leveza seria a superação do universo unitário e monolítico, após a subtração de todo peso desnecessário, de toda inércia e imobilidade, deixando para traz o mundo petrificado pelo olhar implacável da Medusa. O ser passa a ser definido pelo DNA, pelos neurônios, os quarks e os neutrinos; a produção, pela nanotecnologia; a opressão, Milan Kundera é citado, passa a ser superada quando a delicadeza da vida consegue superar a brutalidade do mundo, “a insustentável leveza do ser”, sabendo equilibrar com maestria o mínimo de peso para o máximo de efeito: “Um mínimo de corpo que possa regular a gravitação de todos os símbolos, sem depender tanto da estabilidade corpórea para atingirem o equilíbrio. Aumentando a mobilidade e a flexibilidade do pensamento”.


A construção da leveza vem sendo feita através dos tempos. Calvino cita Isaac Newton, Cyranó de Bergerac, Jonathan Swift, Voltaire, Leopardi e o Barão de Münchausen. No final, chega-se à ruptura da linearidade, e a um universo dialético. Para o intelecto, o universo dialético é o rompimento dos padrões atuais do pensamento. Einstein propôs pela Teoria da Relatividade que duas essências tidas como radicalmente contrárias, o corpo e a luz, eram na verdade manifestações opostas da mesma substância. No Universo dialético, as unidades elementares perdem seu monolitismo, seu isolamento. A própria unidade, a própria exatidão, passam a ser sempre entidades multidimensionais, complexas, sendo a menor unidade realmente existente já uma combinação pelo menos binária. A realidade quântica é conquistada pelo homem. O resultado desse avanço progressivo do conhecimento é o ganho de consciência e de imaginação do ser, dando à razão humana a leveza e a precisão do vôo de um pássaro, transcendendo a maioria dos limites da fase anterior da existência.

A leveza como valor simbólico leva à alegria, à ética, à esperança, à persistência, à habilidade e à atitude construtiva diante dos desafios. Nas coisas do mundo, um cuidado maior com os espaços e com as comunidades, pela organização das várias dimensões do microcosmo. O individuo deixa de submergir no anonimato das massas e passa a ser capaz de integrar sua identidade à vida coletiva. Os sistemas urbanos são radicalmente aperfeiçoados. O Estado passa a ser um organismo atuante e realmente democrático. O mercado adquire maior flexibilidade e capacidade de adaptação às variadas circunstâncias ao longo do tempo. O tempo da arte, da criação, do estudo e da reflexão é valorizado. As trocas sociais intensificam-se, tornam-se mais complexas e o nível geral da civilização “levanta vôo” e alcança as alturas. Os processos de liderança alteram-se drasticamente e a vida humana chega a seus níveis mais elevados. A enorme desigualdade social dá lugar à diversidade social, as polícias deixam de usar armas letais, as ações preventivas da sociedade levam a uma enorme diminuição do crime e das rebeliões, cedendo espaço ao debate, às negociações mais sofisticadas e ao leque mais amplo de possibilidades. O homem reintegra-se à natureza.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

As Crises do Século 21: fim do consumismo e um novo Renascimento









AREAS DE REFERÊNCIA NESTA PÁGINA:

A Teoria Geral das Forças Produtivas

Projeto Cidades do Futuro

Consultar os artigos disponíveis

O futuro do mercado nos moldes atuais já preocupa os estrategistas no mundo todo. A conta mais simples e resumida é a de incluir 2 bilhões de pessoas no consumo, nas próximas décadas. O que ocorre? A conta não fecha. Os cálculos apontam que somente a China, consumindo em níveis dos países ocidentais desenvolvidos, esgotaria imediatamente os recursos naturais da Terra e de sustentação da sociedade humana: água, terra cultivável e alimentos, sem mencionar outros impactos nos recursos minerais, no ar, na produção de rejeitos, etc. Mas o caso é que a população irá aumentar em várias partes do mundo, e a inclusão no mercado se dá de modo disperso e global. Em outras palavras, o barco ficou muito pequeno para o número de pessoas que tentará embarcar nele. Esta é a preocupação primária, mas há também uma secundária. Qual será a reação dos novos excluídos, isto é, das comunidades e grupos que terão sua escalada nas condições de vida frustrada pela falta de recursos vitais? Sem dúvida, o fantasma das rebeliões e do extremismo retorna com força, nesse cenário, e ainda mais complicado, por causa da alta tecnologia e do eventual acesso a armas convencionais, sem desconsiderar as de destruição em massa. Para complicar, o meio ambiente está saturado e uma gigantesca crise econômica abalou os fundamentos de toda a produção global. O que já se percebeu, de maneira ainda preliminar, é que toda busca de alternativas viáveis leva o mundo para cenários que nunca existiram antes na história da civilização, isto é, o mundo como o conhecemos até agora não tem mais a capacidade de enfrentar os desafios que ele mesmo criou. Todas as saídas que se vislumbram apontam para um mundo totalmente novo.

Os modelos, os valores, as linguagens, as atividades, as instituições, enfim, tudo o que habita os nossos modos de vida, está virtualmente com o prazo de validade vencido na História. Quer dizer que se trata de uma mudança tão profunda quanto a das Grandes Navegações, nos séculos 15 e 16? ou ainda maior, tão significativa quanto a Revolução Industrial, nos séculos 19 e 20? Não exatamente. As mudanças agora serão muito maiores do que isso. Estamos às portas de uma revolução na Genética, na Robótica, na Economia e na Cultura, mas, sobretudo, estamos diante de uma gigantesca transformação das formas de vida humana, de sua relação social interna e dos modos de interação com o meio natural. Dentro desse cenário, a cultura consumista da segunda metade do século 20 não consegue mais agregar valor algum, não faz mais qualquer sentido para as organizações humanas, caiu para fora do reino das necessidades da vida. Já tive oportunidade de dizer, nos "comentários" que faço regularmente no Blog de Luís Nassif, debatendo os temas atuais, que essa grave crise global tem várias camadas, depois de começar como crise específica de um setor da economia americana, e essas camadas se multiplicam no processo de desdobramento, até chegar nesse fundo dos acontecimentos, justamente essas bases que discutimos agora. No fundo da crise, o núcleo central de todas as instabilidades é a falência de um sistema de vida, a que passamos a chamar de sistema ou comunidade internacional, é o fim de uma era, de um estágio da existência humana.

Então não haverá água, terra, ar e comida para todos? E essa escassez de recursos básicos em geral irá causar as novas guerras, além das tensões que já existem entre o Ocidente e o Oriente? Estaríamos realmente caminhando para um terrível conflito global, de que poucos sobreviveriam, se não forem todos extintos? Certamente não é isso que se espera de criaturas inteligentes e sensíveis, tampouco é o que preconizam os estrategistas. Estes são na verdade ensaios, simulações, estudos das prováveis conseqüências, se determinados procedimentos de regularização não forem adotados, e se outros procedimentos de agravamento das situações prosseguirem. Contudo, o que é que se desenhou nessas análises? Que a maior causa desse estado de coisas, isto é, dos modos de produção atingindo os seus limites, chegando às fronteiras da desorganização, da dissociação e da desagregação, é a orientação produtiva estruturada a partir do consumo de massas, e todo o seu conjunto de práticas e valores simbólicos, todo o seu instrumental e todo o sistema de visões de mundo que se tinha até aqui. O mundo do consumismo tornou-se impossível, a partir do século 21, e todo o complexo sistema de trocas da economia global terá de ser baseado agora em alternativas para as crises acumuladas que a sociedade industrial criou, especialmente depois do fim da Guerra Fria e da queda do Muro de Berlim.

Seria racional dizer, por exemplo, que a água e os alimentos irão escassear dramaticamente, a ponto de colocar as relações internacionais em grande risco? Note-se que esta é apenas uma ilustração entre outros pontos de conflito possíveis. Como poderia faltar água, se tem tanta água no mundo? E como poderia faltar comida, se há tanta terra na superfície terrestre? Mas aqui se confrontam as definições de água potável e de terras cultiváveis. O que é considerado "fonte possível" de água e de alimentos, segundo a visão industrial e de consumo, ou seja, segundo as planilhas de custo da sociedade industrial, segundo os recursos disponíveis no mundo industrial, nas relações de custo-benefício que vigeram nos últimos 200 anos, nos valores de mercado como eles se sustentaram até poucos meses atrás? Está envolvida aqui toda uma linha de custeio, investimento e insumos, aliados a condições de demandas e financiamentos, e que no final traçam esse resultado calculado racionalmente, da escassez, mas dentro do sistema produtivo que entrou em colapso, isto é essencial lembrar.

Não seria possível produzir mais água potável, criando novos sistemas hídricos? Da mesma forma, não seria possível ampliar a área de terras cultiváveis, mesmo sem avançar a fronteira agrícola sobre coberturas vegetais preservadas? Tecnicamente seria, mas , pelas regras atuais do mercado até agora, não seria, quer dizer, não haveria projeção econômica capaz de mobilizar os recursos necessários para alcançar esses objetivos. E por que não? Porque esse ambiente produtivo rompe com os valores e práticas atuais do mercado, quer dizer, ele precisa não somente de um projeto específico já muito trabalhoso e dispendioso, como precisa também que se concretizem mudanças culturais importantes. E que mudanças seriam essas? Justamente as mudanças dos valores atuais da cultura de consumo. Ou seja, passar a produzir água e alimentos em níveis muito superiores aos atuais rompe com todas as forças de estabilidade dos mercados mundiais. E é isto que ninguém - nenhum ator econômico - estava disposto a fazer, o que seria em tese um absurdo, o de trabalhar para destruir as formas do livre mercado. Mas vejam que toda essa equação se transforma com o passar do tempo, e o que parecia absurdo antes começa a fazer certo sentido, já que o próprio mercado não conseguiu mais se sustentar usando os instrumentos que detinha antes da crise global.

O mesmo raciocínio pode ser seguido para os alimentos. É possível corrigir solos, criar estufas, expandir a produção agropecuária para áreas que hoje seriam proibitivas. Tecnicamente isso é possível mas, politicamente, culturalmente e economicamente isso era impossível, até poucos meses atrás.

Faz cada vez mais sentido o discurso de Domenico De Masi, sobre a sociedade criativa, a sociedade que se forma para compreender a beleza da cultura, e que se dedica ao ócio criativo, basicamente, a formas de produção básica de novos valores, criando um caldo cultural de onde se poderá tirar a matéria-prima para a construção desse novo mundo. Talvez um outro pensador italiano tenha tomado a frente de seu tempo, e esteja inventando o futuro, como fizeram no primeiro Renascimento os também italianos Galileu Galilei, Leonardo Da Vinci e Cristóvão Colombo.

Atualização: O Quinteto de Ouro italiano se completa com Italo Calvino. Ao lado de De Masi ele foi um dos grandes pensadores da sociedade pós-industrial, isto se vê em Seis Propostas para o Próximo Milênio. Curioso que não tenha achado nenhuma foto mais "artística" ou colorida dele. Praticamente todas estão em branco e preto.


segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A Declaração Universal dos Direitos Humanos



Este pequeno "blog de leitura" está fazendo 1 ano.
Para marcar a data, um dos tratados mais importantes
da civilização, desde que começou a história humana
neste planeta.

Uma homenagem à Familia e à Humanidade
FOTO DE MINHA FAMÍLIA

Artigo I.


Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Artigo II.

1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania.

Artigo III.

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo IV.

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo V.

Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo VI.

Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.

Artigo VII.

Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo VIII.

Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo IX.

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo X.

Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo XI.

1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.

2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo XII.

Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, em seu lar ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo XIII.

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado.

2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo XIV.

1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.

2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XV.

1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo XVI.

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução.

2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.

Artigo XVII.

1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII.

Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em particular.

Artigo XIX.

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo XX.

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.

2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo XXI.

1. Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.

2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo XXII.

Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo XXIII.

1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho.

3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.

4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses.

Artigo XXIV.

Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.

Artigo XXV.

1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.

Artigo XXVI.

1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo XXVII.

1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.

2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.

Artigo XXVIII.

Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

Artigo XXIX.

1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XXX.

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

sábado, 4 de outubro de 2008

Sobre as eleições de 2008 - "Brasil and EUA"

O resultado das eleições municipais brasileiras poderá surpreender, apesar do intenso acompanhamento sistemático que tem marcado a ação política do séc. 21 no Brasil. Mas não surpreende de modo geral, apenas em alguns aspectos apontando as novas tendências de nossa sociedade para as próximas décadas, e aqui se faz um pequeno esboço desse perfil da nova política brasileira.


Seria possível separar as eleições municipais brasileiras da crise americana, e do embate entre Obama e McCain? Obviamente que não, entretanto, não é fácil encontrar os vetores de influência das eleições do Norte nas do Sul.

Aliás, o contexto não é bem o ano eleitoral dos EUA, mas um evento muito maior. Este é de fato o "final dos tempos", o fim do mundo como o conhecemos na sociedade industrial, mas é muito provável que a vida na Terra não acabe no séc.21, embora vá se transformar completamente. Estamos no momento de dar um pequeno salto sobre o abismo que se forma entre o passado e o futuro, mas não se pode demorar muito, pois as placas continentais se afastam, em meio aos terremotos.

Todos os projetos políticos brasileiros levavam em conta a plataforma cultural e política dos EUA. Não foram poucos os avisos de que essa base afundava, e agora, subitamente, o Brasil se vê num tipo diferente de crise, a de ter contado com um contexto de solidez americana que não havia mais. E isto se aplica justamente sobre as principais forças políticas brasileiras, de lado a lado.

Os EUA já se encaminham para a "reumanização" pós-neocons, enquanto o Brasil se preparava ardentemente para o "tudo pelo sistema", nos novos tempos de potência emergente.

Os esquemas nas cidades já seguiam essa cartilha de "jogos hegemônicos", da "prioridade estratégica", das "ações justificáveis", em nome do poder, embora duvidosas e nada democráticas. Na verdade, o antigo modelo de "seguir de perto" o "grande irmão do Norte", arrastou o Brasil para a beira de um novo obscurantismo político, de compromissos reduzidos e esquivos com as bases de partidos e representantes, criando um enorme estranhamento e distanciamento entre a política, os governos e a população, no que diz respeito à participação política. O momento que se desenhava era o da "construção do hegemônico", e nisso a cidadania ficaria para trás, e aqueles cidadãos comuns com visão crítica e mais destacados no debate político das cidades, estados e país, passaram a ser muito mal vistos, quando não passaram a ser constantemente interpelados pelas ações de poder. Era o Brasil dando um primeiro passo inédito e fantástico, na direção da projeção mundial, mas ensaiando um segundo passo novamente equivocado e falseado, que o conduzia a algum tipo de desastre político-cultural-econômico, daqui a algum tempo. Ou seja, a dinâmica política brasileira mais uma vez não se realizava de modo efetivo, totalmente sustentável, mas começava a ficar outra vez no meio do caminho, nesse "segundo passo à frente".

Agora não, a crise americana precipitou tudo, mas, EIS A QUESTÃO: nas eleições brasileiras esses pontos mal atados JÁ SE COSTURAVAM. A linearidade das estratégias insuficientemente orientadas já tinha plantado problemas e limitações para esses esquemas. E de que modo isso pode ser perceptível? Também não sei exatamente, mas noto algo que pode ser uma pista. Há, em vários municípios do interior e nas capitais, a EMERGÊNCIA DE UMA TERCEIRA FORÇA, que se desprende e se afasta do que estava antes "combinado". E esta seria a nova "força viva" da política brasileira, a nova força de representação. Coloco nessa categoria dois candidatos em São Paulo e em São Carlos, pleitos que acompanho mais atentamente. Apesar de serem "conservadores" e de "direita", de estarem inicialmente ligados a grandes forças e projetos políticos ou econômicos. Mas há algo inegavelmente novo na presença deles com grande força, não sei se vitoriosa. Quer dizer, o fato de ser de direita ou de esquerda já não importa muito, e ESTE É O OUTRO DADO NOVO E IMPORTANTE. Nem o de ter um rótulo de "conservador" ou "progressiSta". O que vale, cada vez mais, é o jogo, o campo, o que o ator político faz de fato em suas ações. E leva a melhor quem jogar melhor, tudo muito simples no fim das complicadas contas. ESTA PARECE SER A NOVA TENDÊNCIA. Em vez da "realpolitik", a efetiva disputa política, para saber quem consegue desenvolver mais e melhor as habilidades e talentos da sociedade e seus indivíduos. Há uma brisa renovadora no ar, ufa!

Vejamos que força teriam essas novas tendências, confrontando os projetos já estabelecidos e desenvolvidos, no próximo domingo.



Política Brasileira 5

domingo, 3 de agosto de 2008

A Guerra


Um apelo à Paz no Brasil e no mundo.



Será que essas pessoas sabem exatamente o que é a guerra? Será que já viram uma? Pensam, talvez, que se trata de um desastre, de um tiroteio, de um massacre, ou talvez de uma chacina. Que é uma luta dessas que se vê na cidade, uma batalha campal entre forças urbanas, polícia e estudantes, uma facção e outra, torcedores de um time ou de outro. Que se trata de um incêndio, de um trem desgovernado, da queda de um avião.

Essas pessoas nada sabem sobre a guerra.

Não sabem o que pode causar, o que pode fazer com a vida delas, das pessoas que conhecem, com sua cidade, sua região, seu país, com tudo o que compreendem do mundo, com tudo o que acham que é vida.

A guerra é muito mais.

Como alguém pode conceber a guerra? Seja em uma terra distante, seja em seu próprio país. Se imaginassem toda a violência do mundo, todo o ódio, toda a brutalidade, a guerra ainda seria muito pior. Se pensassem em todo o desprezo, em toda perda, em toda indigência, em todo ferimento, isto daria ainda uma idéia muito distante do caos, da fragilidade, da vitimização generalizada. Se todos os demônios da terra emergissem do inferno, de todos os infernos, de todos os tempos, e se todas as fogueiras queimassem sobre a terra, e os gritos se espalhassem pelo mundo, isto ainda diria muito pouco sobre ela. Seria apenas a ponta da escuridão, do sofrimento, do inacreditável abismo em que todos podem ser jogados, como se nunca tivessem existido, como se nunca tivessem valido nada, e como se nada tivesse tido um dia qualquer valor. Como se nada valesse a pena. Como se não tivesse nenhum significado.

Mas isso não é tudo, é apenas o começo.

Aqueles que mergulham na guerra são tomados por ela e passam a amá-la. A matança, a indiferença, a desgraça, a podridão do mundo de vísceras abertas, o mal-cheiro, a morte, os corpos despedaçados, o sangue e a destruição, vão amortecendo os mais bravos guerreiros, diluindo seus olhos, vitrificando-os, devorando toda a sua luz, sua alegria, sua compreensão. Os tiros, os gritos dos amigos e dos inimigos, dos velhos e das crianças, da gente comum, indefesa, e as explosões, as tocaias, as emboscadas, a nuvem de poeira e fumaça, o silêncio que se faz depois, toda demolição, passam a ser o alimento do ser.

Não é mais o tempo do existir, dos amigos, das famílias, do trabalho e dos dias que se vem e se vão. Não é mais o tempo dos humanos, das pessoas, nem dos animais. É o tempo da guerra, então não é mais o tempo de nada. E como não há mais nada, nem a ganhar nem a perder, os bravos guerreiros querem apenas que ela não acabe nunca mais. Os guerreiros, as vítimas, os refugiados, passam a temer o dia em que teriam de voltar para casa. A guerra agora é a única coisa que eles têm, e todos são apenas combustível para as batalhas. Por ser insuportável além de qualquer compreensão, a guerra passa a ser venerada e idolatrada, e todos se tornam seus servos.

O que pensar das pessoas que desejam a guerra? O que pensar daqueles que não hesitariam em transformar sua terra, sua gente, em pedaços de carnificina? Que não se deteriam diante da possibilidade de ver sua cultura ser estraçalhada sem piedade, toda sua sociedade tornar-se alvo para ser cruelmente executada, sem perdão? Que entregariam todo seu mundo, toda a vida que conhecem e que os criaram e cuidaram deles, à mais sórdida destruição?

O que pensar de pessoas que seriam capazes de destruir tudo, simplesmente tudo, em nome de algum privilégio, vantagem ou frivolidade? Para pensar que são melhores que os outros? Que têm mais direitos que os outros? Por se sentirem de alguma forma favorecidos? O que se passa na alma dessas pessoas? Em seu coração? Que tipos de pensamento estão se formando nas mentes dessas pessoas? O que os tornou assim? Que força terrível teria se apoderado delas? Como admitir tamanho horror? Como ser tão insensível? Que trauma intolerável teria cegado toda sua compaixão?

O Brasil já foi palco de muitas guerras, sem que tenha sido contudo tomado pela guerra, isso não, mas já tomou parte em guerras que se tornaram totais e rasgaram todos os tratados humanos. Essa guerra, essa guerra total, que destrói o país e tudo que há nele, que persegue as lembranças e os sonhos e corrói passado e futuro, essa guerra se trava dentro e fora de nós. É a guerra contra os outros somada à guerra contra o inimigo interior. Quando não se acredita em mais nada, nem se quer ver qualquer raio de luz, nem ver qualquer esperança brotar.

Esta é a guerra que nos assombra e nos espreita, na transição dos tempos, nas dobras da história, nos desvios do ser. O homem enlouquecido é aquele que se volta contra si mesmo e que não suporta mais qualquer construção. Para ele, todo alvorecer é uma doença, todo amor é um mal, e este como um fluido sinistro se espalha sorrateiramente, até que seja tarde demais. Se desejam a guerra, eles não sabem realmente o que é a guerra. Quanto mais a humanidade avança, maior o risco que corre, maior o poder, mais tensos ficam os jogos, mais virtuosa deve ser a cultura, para que possa sempre reencontrar e manter a paz, pois a guerra, a guerra começa do nada, costura inocentemente toda a insensatez, e depois se torna um turbilhão, que não se pode mais controlar. E depois de deflagrada, de libertados todos os demônios, os efeitos dessa guerra se farão sentir para sempre, e serão os espinhos das lembranças de toda a humanidade.


Pequenas Crônicas

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A renovação política do século 21: a representatividade

POPULAÇÃO EM FRENTE AO CONGRESSO NACIONAL, NA CAMPANHA DIRETAS-JÁ

Os institutos de pesquisa alcançaram um altíssimo grau de respeitabilidade e confiabilidade, nos últimos dez anos. Aperfeiçoaram seus métodos, e isto se associou a formas culturais mais bem integradas, sob os sistemas globalizados e eletrônicos. Da mesma forma, o conhecimento se dissemina na sociedade, e com isso os comportamentos tendem a ser mais sensíveis, diante de padrões oferecidos. Todos que gravitam nas “faixas de ajuste” do sistema produtivo atual, queiram ou não, tornam-se mais previsíveis e, portanto, mais susceptíveis a diversos estímulos, sugestões e influências. Esse grau mais adiantado de organização social reflete-se também na política, e com isso os jogos políticos passaram a ter margens mais estreitas, variações menores, opções que, se não são mais limitadas, tendem a ser mais bem delimitadas. O espaço para as surpresas diminui muito, a ponto de serem quase impossíveis.


No primeiro momento isto poderia parecer negativo para o equilíbrio social. Favoreceria de maneira indevida os grupos políticos mais próximos dos postos estratégicos da sociedade, criando uma onda conservadora vitoriosa no mundo, associada geralmente às doutrinas do financismo e do mercadismo, embora isto seja na verdade uma simplificação das coisas, pois se trata, efetivamente, da ação de grupos concretos, perfeitamente identificados, de composição conhecida, e não de largas faixas ideológicas mais abrangentes, como eram, por exemplo, os conceitos de direita, esquerda e suas derivações. E boa parte da política internacional de fato caminhou para esse quadro, contudo, até certo ponto. A partir de determinado grau de polarização política, porém, esses arranjos se diluem em parte, deixam de ser eficazes, isto também tem ocorrido em diversas regiões do planeta. O que parecia retrocesso está, em vez disso, tornando-se avanço, pois a população nesse intermédio tem aprendido a dar respostas mais certeiras, e deste modo as surpresas ficam mais difíceis de ambos os lados.


O caso é que a disseminação informativa na cultura pós-industrial, se de um lado facilita a modelagem das narrativas sobre o cotidiano, e nos casos mais rudimentares e grosseiros a manipulação mais desbragada, dialogando com um público mais receptivo aos seus argumentos, de outro lado esse mesmo jogo simbólico fez com que a população passasse a compreender melhor os compromissos da representação política, ou a falta deles. Dizer simplesmente que as gerações da política brasileira sucedem-se em classes cada vez mais despreparadas e distantes, pode estar correto ou não, conforme o caso, mas será sempre uma avaliação parcial desse fenômeno de um virtual descrédito do discurso político, na democracia brasileira. Paralelamente às astúcias e nuvens ideológicas, o que parece estar ocorrendo é que os eleitores desenvolveram a percepção dos vínculos reais que os ligam aos seus representantes na política. Ficou mais claro o fato de que a classe política deve se comprometer diretamente com seus eleitores, e esta é uma visão sistêmica aprendida pela coletividade, não é uma idéia passageira. Mais do que isso, o público brasileiro (já que boa parte da política se faz ou se conclui através da mídia) dá sinais de que está sabendo traduzir os laços de representação de forma cada vez mais objetiva, mas as classes dirigentes brasileiras não perceberam isto, ainda. Os institutos de pesquisa já constataram esta grande mudança, e há tempo dão mais importância às pesquisas qualitativas.


Há um caminho bastante trabalhoso para explicar por que isto tem acontecido, e o leque de explicações vai desde essa presença da informação sistemática no cotidiano até a experiência do governo Lula, como resultante das intensas mobilizações de organizações populares e instituições da sociedade civil. Mas a própria crueza do jogo, ao contrário do que se poderia esperar, também tem ajudado. Os “reis” parecem não se incomodar em ficar “nus”, e brincam com isso, alguns, e outros negam peremptoriamente o fato, procuram “disfarçar”, diante da cidadania perplexa, mas o discurso vale, e parece passar, só que com isso um fato não se altera: os reis estão nus, e com isso o povo aprende!


Tanto de um lado como de outro não há mais muitas máscaras, a não ser pelo formalismo do próprio jogo, quer dizer, faz parte da formação discursiva política essa postura de “embreagem”, de não se engrenar em todos os dentes dos mecanismos, mas ter uma “área de escape” estratégica, os próprios eleitores avaliam essa habilidade. Entretanto, o núcleo do jogo está exposto, na política brasileira, também de ambos os lados. Não é mais segredo para ninguém a questão do orçamento, do que se vai fazer com o dinheiro. Tudo, na visão política brasileira atual, diz respeito à gestão do dinheiro. Há outras alternativas, mas esta é a tônica atual. Por isso é que os programas partidários, as plataformas eleitorais acabaram sendo abrangidas por aquele mesmo conceito geral de “promessa”. Tudo virou “promessa de político”, a não ser o “din-din”. Este é o que interessa. Essa secura dos interesses políticos teve o efeito de alienar o debate durante alguns anos, e de contribuir para a confusão do discurso mais significativo, aparentemente. Mas, depois de um tempo, começou a querer emergir com força essa questão da representatividade, que pode ser traduzida pela expressão “linha direta” entre o político e o eleitor. Para isso contribui também o aumento da interatividade nas formas de comunicação social. A noção de que o representante “está lá” para defender os interesses mais objetivos do eleitor está ficando mais clara, e é por isso também que se projetou a crise da representatividade. Por si só, a classe política não está mais distante do eleitorado. Em certos aspectos, está até mais próxima, contudo, hoje há uma consciência maior de que os vínculos da cidadania com os eleitos para os mandatos populares precisam ser estreitados.


Quer dizer que todos os projetos políticos deverão ser orientados por esse novo contexto cultural, e esta tendência da representatividade deverá renovar todo o jogo político brasileiro, durante uns bons anos. Corresponde essa tendência central uma provável reeducação política generalizada em todo o país.


Política Brasileira 4


 RECADOS     

PARA OS AMIGOS, ANJOS DA GUARDA E LEITORES DO BLOG: 

21/10/08, 18:18 - AINDA PREPARANDO O CAPÍTULO 3 DE HISTÓRIA DA FALA

                        - RELENDO  Bakhtin, e as "NOVAS CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS", de Sigmund Freud

                        - PRIMEIRO ARTIGO DA SÉRIE SOBRE SEXUALIDADE FOI PUBLICADO !

                        - PREPARANDO 2º ARTIGO SOBRE SEXUALIDADE: 

A ESTÉTICA DA NOVA PORNOGRAFIA (texto não restritivo) - A questão estética da pornografia é uma "não-estética", uma anti-estética, mas há um projeto para isso, e uma função ideológica implícita, quer dizer, romper com a estética faz parte de um conjunto complexo de relações sociais.